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Macri deve conquistar Buenos Aires hoje
Presidente do Boca é favorito para Prefeitura, com 60% das intenções, segundo pesquisas; trunfo deve alçá-lo a líder opositor
Oposição afirma que cidade deve ser apenas trampolim para eleições presidenciais de outubro, mas analistas só vêem candidatura em 2011
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
Buenos Aires deve eleger hoje como prefeito o engenheiro
Mauricio Macri, presidente do
clube de futebol Boca Juniors.
Mas mais do que isso, Macri
sairá consolidado como principal líder opositor rumo às eleições presidenciais de outubro.
Paradoxalmente, Macri passou toda a sua campanha tentando fugir da nacionalização
da discussão. Deixou transcender, porém, que gostaria que a
oposição achasse "alternativa"
ao presidente Néstor Kirchner
e sua mulher, Cristina, provável candidata à Casa Rosada.
Divorciado, 48 anos, filho do
empresário Francisco Macri
-protagonista de polêmicos
negócios com o Estado argentino no governo Carlos Menem
(1989-99)- e dono de um patrimônio declarado de 22 milhões
de pesos (R$ 13,7 milhões), ele
diz representar a "nova política", menos preocupada com
ideologias e focada no bem-estar dos cidadãos. Seus adversários, porém, tentam colar nele a
pecha de direitista e privatista.
Para o analista político Luis
Tonelli, a campanha de Macri
logrou seu objetivo de transmitir uma imagem "desideologizada" do candidato, o que explica a queda da rejeição a ele da
casa dos 50% para a dos 20%.
No primeiro turno, Macri esteve perto de ser eleito ao obter
45,6% dos votos, 22 pontos à
frente do kirchnerista Daniel
Filmus. No segundo, hoje, as
pesquisas prevêem que obtenha em torno de 60% -embora
não tenham sido divulgados
números após a conquista da
Copa Libertadores da América
pelo Boca na quarta, devidamente explorada por Macri.
O engenheiro estreou na política em 2003. Fundou o próprio partido, o Pro (Propuesta
Republicana). Na primeira eleição, também a prefeito de Buenos Aires, venceu o primeiro
turno, mas perdeu o segundo.
Em 2005, a lista liderada por
ele foi a mais votada para deputado em Buenos Aires. Agora,
está prestes a se eleger para o
primeiro cargo executivo.
Como cartão de visita de sua
capacidade administrativa, usa
o Boca, à frente do qual conquistou 16 títulos em 13 anos.
"Mas na Prefeitura ele não terá
[Alfio] Basile e [Carlos] Bianchi
escondendo suas falhas", diz
Carlos Heller, vice de Filmus,
citando técnicos do time.
No início do ano, Macri chegou a cogitar se candidatar a
presidente, mas optou pela
Prefeitura, guiado por pesquisas de opinião. Durante a campanha, os kirchneristas tentaram usar isso contra ele, dizendo que a Prefeitura seria um
trampolim. Macri negou que vá
disputar a Casa Rosada neste
ano, mas é quase consenso entre os analistas políticos argentinos que, se fizer uma boa administração em Buenos Aires,
será candidato natural em 2011.
Enquanto o próprio Macri
não se candidata, Ricardo López Murphy, co-fundador do
Pro, busca seu respaldo. Muitos
apostam que o apoio não virá.
"Macri não tem porque arriscar seu patrimônio político se
aliando a uma candidatura da
oposição que fatalmente será
derrotada", opina o analista político Eduardo van der Kooy.
Figuras da oposição que são
contrárias a Macri também
avaliam que ele não tem interesse num triunfo oposicionista nas eleições deste ano, pois
isso minaria seu projeto 2011.
O cientista político Sergio
Berenzstein também duvida de
reflexos da vitória de Macri no
cenário eleitoral de outubro.
"Macri tem condições e possibilidades de se converter em
um adversário de muito peso
para o kirchnerismo no futuro
imediato, mas é improvável
que consiga impulsionar uma
candidatura para outubro."
Apesar de Kirchner ter se engajado na campanha anti-Macri, o pesquisador Jorge Giacobbe vê na vitória anunciada
do oposicionista algo positivo
para o presidente. "Não vejo
uma razão pela qual Kirchner
quereria desimpedido um candidato que teve 45 pontos no
primeiro turno na capital. Eleito, Macri fica preso à cidade, e a
oposição segue sem uma figura
para outubro", diz.
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