São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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Macri deve conquistar Buenos Aires hoje

Presidente do Boca é favorito para Prefeitura, com 60% das intenções, segundo pesquisas; trunfo deve alçá-lo a líder opositor

Oposição afirma que cidade deve ser apenas trampolim para eleições presidenciais de outubro, mas analistas só vêem candidatura em 2011

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Buenos Aires deve eleger hoje como prefeito o engenheiro Mauricio Macri, presidente do clube de futebol Boca Juniors. Mas mais do que isso, Macri sairá consolidado como principal líder opositor rumo às eleições presidenciais de outubro.
Paradoxalmente, Macri passou toda a sua campanha tentando fugir da nacionalização da discussão. Deixou transcender, porém, que gostaria que a oposição achasse "alternativa" ao presidente Néstor Kirchner e sua mulher, Cristina, provável candidata à Casa Rosada.
Divorciado, 48 anos, filho do empresário Francisco Macri -protagonista de polêmicos negócios com o Estado argentino no governo Carlos Menem (1989-99)- e dono de um patrimônio declarado de 22 milhões de pesos (R$ 13,7 milhões), ele diz representar a "nova política", menos preocupada com ideologias e focada no bem-estar dos cidadãos. Seus adversários, porém, tentam colar nele a pecha de direitista e privatista.
Para o analista político Luis Tonelli, a campanha de Macri logrou seu objetivo de transmitir uma imagem "desideologizada" do candidato, o que explica a queda da rejeição a ele da casa dos 50% para a dos 20%.
No primeiro turno, Macri esteve perto de ser eleito ao obter 45,6% dos votos, 22 pontos à frente do kirchnerista Daniel Filmus. No segundo, hoje, as pesquisas prevêem que obtenha em torno de 60% -embora não tenham sido divulgados números após a conquista da Copa Libertadores da América pelo Boca na quarta, devidamente explorada por Macri.
O engenheiro estreou na política em 2003. Fundou o próprio partido, o Pro (Propuesta Republicana). Na primeira eleição, também a prefeito de Buenos Aires, venceu o primeiro turno, mas perdeu o segundo.
Em 2005, a lista liderada por ele foi a mais votada para deputado em Buenos Aires. Agora, está prestes a se eleger para o primeiro cargo executivo.
Como cartão de visita de sua capacidade administrativa, usa o Boca, à frente do qual conquistou 16 títulos em 13 anos. "Mas na Prefeitura ele não terá [Alfio] Basile e [Carlos] Bianchi escondendo suas falhas", diz Carlos Heller, vice de Filmus, citando técnicos do time.
No início do ano, Macri chegou a cogitar se candidatar a presidente, mas optou pela Prefeitura, guiado por pesquisas de opinião. Durante a campanha, os kirchneristas tentaram usar isso contra ele, dizendo que a Prefeitura seria um trampolim. Macri negou que vá disputar a Casa Rosada neste ano, mas é quase consenso entre os analistas políticos argentinos que, se fizer uma boa administração em Buenos Aires, será candidato natural em 2011.
Enquanto o próprio Macri não se candidata, Ricardo López Murphy, co-fundador do Pro, busca seu respaldo. Muitos apostam que o apoio não virá.
"Macri não tem porque arriscar seu patrimônio político se aliando a uma candidatura da oposição que fatalmente será derrotada", opina o analista político Eduardo van der Kooy.
Figuras da oposição que são contrárias a Macri também avaliam que ele não tem interesse num triunfo oposicionista nas eleições deste ano, pois isso minaria seu projeto 2011.
O cientista político Sergio Berenzstein também duvida de reflexos da vitória de Macri no cenário eleitoral de outubro. "Macri tem condições e possibilidades de se converter em um adversário de muito peso para o kirchnerismo no futuro imediato, mas é improvável que consiga impulsionar uma candidatura para outubro."
Apesar de Kirchner ter se engajado na campanha anti-Macri, o pesquisador Jorge Giacobbe vê na vitória anunciada do oposicionista algo positivo para o presidente. "Não vejo uma razão pela qual Kirchner quereria desimpedido um candidato que teve 45 pontos no primeiro turno na capital. Eleito, Macri fica preso à cidade, e a oposição segue sem uma figura para outubro", diz.


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