São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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Analistas põem Oriente Médio na balança

Historiador e consultor de defesa discutem se a região sempre mergulhada em conflitos merece toda atenção que recebe

Para Edward Luttwak, área deve ser relegada, como foram Córsega e Sicília; já Niall Ferguson crê que novo conflito mundial nascerá lá

MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO

Com a região mais uma vez em chamas, especialistas e leigos voltam a se perguntar: o Oriente Médio tem jeito?
Mas enquanto os palestinos travavam uma guerra civil, o Iraque continuava batendo recordes de violência e o Líbano descobria novas fontes de tensão, dois historiadores foram além -duelando em torno de uma questão que rompe as fronteiras tradicionais do debate: o Oriente Médio importa?
Em sua edição de maio, a revista britânica "Prospect", especializada em política, reproduziu na capa um mapa estilizado da região, com alguns barris de petróleo, um soldado armado e a resposta: "Porque o Oriente Médio não importa".
A provocação foi lançada pelo especialista em defesa Edward Luttwak, do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, em Washington. No artigo da "Prospect", Luttwak faz uma crítica devastadora ao que chama de "catastrofismo" da mídia e dos analistas, que inflam artificialmente a importância de uma região, a seu ver, cada vez menos relevante.
Para Luttwak, desde o fim da Guerra Fria, quando foi o principal palco da disputa entre as duas superpotências, o Oriente Médio perdeu sua importância estratégica. Ele afirma ainda que o peso econômico da região está em declínio e minimiza a relação entre as turbulências políticas e as altas do petróleo. "Nas últimas décadas, os grandes produtores árabes de petróleo evitaram qualquer ligação entre política e preços", escreveu. "Um embargo seria desastroso para as economias desses países, que dependem da receita do petróleo."
A melhor política que o Ocidente pode adotar, sugere Luttwak, é o "desengajamento", ou seja, evitar ao máximo interferir nos assuntos do Oriente Médio. O motivo da sugestão é prático: segundo Luttwak, a história demonstra que é quase impossível promover mudanças nas sociedades local.
"O erro operacional em que os especialistas em Oriente Médio persistem é o fracasso em reconhecer que essas sociedades atrasadas devem ser deixadas de lado, da mesma forma que a França faz sabiamente com a Córsega e a Itália silenciosamente aprendeu a fazer com a Sicília", diz ele.

"Tolice"
A resposta veio nesta semana, em um artigo igualmente incisivo do historiador escocês Niall Ferguson publicado no jornal "Los Angeles Times". "De todos os comentários que li nos últimos seis meses, este se destaca como o mais tolo", escreveu o historiador de Harvard. "Será que Luttwak realmente acredita que a desintegração do Iraque pode ser comparada às desordens triviais da Córsega e da Sicília?"
Ferguson rebate um a um os argumentos de Luttwak, tanto os políticos quanto os econômicos. Para ele, a crescente demanda asiática tende a aumentar a dependência mundial do petróleo do Oriente Médio no futuro. Além disso, a região tem todos os ingredientes para gerar um conflito de dimensões mundiais em breve.
"Tenho advertido que o próximo grande conflito global começará no Oriente Médio", escreveu Ferguson.
Afinal, o Oriente Médio importa? Em entrevistas à Folha, Luttwak e Ferguson expuseram suas idéias.


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