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Analistas põem Oriente Médio na balança
Historiador e consultor de defesa discutem se a região sempre mergulhada em conflitos merece toda atenção que recebe
Para Edward Luttwak, área deve ser relegada, como foram Córsega e Sicília; já Niall Ferguson crê que novo conflito mundial nascerá lá
MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO
Com a região mais uma vez
em chamas, especialistas e leigos voltam a se perguntar: o
Oriente Médio tem jeito?
Mas enquanto os palestinos
travavam uma guerra civil, o
Iraque continuava batendo recordes de violência e o Líbano
descobria novas fontes de tensão, dois historiadores foram
além -duelando em torno de
uma questão que rompe as
fronteiras tradicionais do debate: o Oriente Médio importa?
Em sua edição de maio, a revista britânica "Prospect", especializada em política, reproduziu na capa um mapa estilizado da região, com alguns barris de petróleo, um soldado armado e a resposta: "Porque o
Oriente Médio não importa".
A provocação foi lançada pelo especialista em defesa Edward Luttwak, do Centro de
Estudos Internacionais e Estratégicos, em Washington. No
artigo da "Prospect", Luttwak
faz uma crítica devastadora ao
que chama de "catastrofismo"
da mídia e dos analistas, que inflam artificialmente a importância de uma região, a seu ver,
cada vez menos relevante.
Para Luttwak, desde o fim da
Guerra Fria, quando foi o principal palco da disputa entre as
duas superpotências, o Oriente
Médio perdeu sua importância
estratégica. Ele afirma ainda
que o peso econômico da região
está em declínio e minimiza a
relação entre as turbulências
políticas e as altas do petróleo.
"Nas últimas décadas, os grandes produtores árabes de petróleo evitaram qualquer ligação entre política e preços", escreveu. "Um embargo seria desastroso para as economias
desses países, que dependem
da receita do petróleo."
A melhor política que o Ocidente pode adotar, sugere Luttwak, é o "desengajamento", ou
seja, evitar ao máximo interferir nos assuntos do Oriente
Médio. O motivo da sugestão é
prático: segundo Luttwak, a
história demonstra que é quase
impossível promover mudanças nas sociedades local.
"O erro operacional em que
os especialistas em Oriente
Médio persistem é o fracasso
em reconhecer que essas sociedades atrasadas devem ser deixadas de lado, da mesma forma
que a França faz sabiamente
com a Córsega e a Itália silenciosamente aprendeu a fazer
com a Sicília", diz ele.
"Tolice"
A resposta veio nesta semana, em um artigo igualmente
incisivo do historiador escocês
Niall Ferguson publicado no
jornal "Los Angeles Times".
"De todos os comentários que li
nos últimos seis meses, este se
destaca como o mais tolo", escreveu o historiador de Harvard. "Será que Luttwak realmente acredita que a desintegração do Iraque pode ser comparada às desordens triviais da
Córsega e da Sicília?"
Ferguson rebate um a um os
argumentos de Luttwak, tanto
os políticos quanto os econômicos. Para ele, a crescente demanda asiática tende a aumentar a dependência mundial do
petróleo do Oriente Médio no
futuro. Além disso, a região tem
todos os ingredientes para gerar um conflito de dimensões
mundiais em breve.
"Tenho advertido que o próximo grande conflito global começará no Oriente Médio", escreveu Ferguson.
Afinal, o Oriente Médio importa? Em entrevistas à Folha, Luttwak e
Ferguson expuseram suas
idéias.
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