|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Família iraniana simboliza antagonismos
DA REPORTAGEM LOCAL
A família da estudante Soheila Jahedi (os nomes desta reportagem são fictícios a pedido
dos personagens) é um retrato
em miniatura das convulsões
da sociedade iraniana.
O pai dela é um ex-diplomata
cada vez mais convencido de
ter acertado ao trocar o governo pelo setor empresarial. A
mãe, da elite intelectual, acha
Mahmoud Ahmadinejad um
fanfarrão provinciano. Já o irmão diz que o presidente é um
herói nacional injustamente
demonizado pelo Ocidente.
Soheila, 28, mora no Canadá,
onde faz doutorado em engenharia. Ela disse à Folha que
telefona diariamente aos pais,
tomando sempre o cuidado de
não perguntar demais sobre a
crise no país. A família correria
risco se os grampos do governo
detectassem a simpatia do pai,
Amjar, pelos protestos.
Depois de ser embaixador
em vários países, Amjar voltou
a Teerã nos anos 90 para ingressar na engenharia privada.
Ele diz que se sente "muito
mais útil para o país" na função
atual do que quando diplomata. E agradece a Deus por não
ter mais obrigação de defender
o governo.
Amjar e a mulher, Donya, orgulham-se de ser profundamente nacionalistas e religiosos. Mas veem Ahmadinejad
como um líder ineficiente que
levou o Irã à falência econômica e a um desnecessário isolamento internacional. Para o casal, a eleição foi fraudada.
Discorda Aref, o primogênito. Ele trabalha na imprensa
oficial e simpatiza com a ala
mais dura do regime. Aref sustenta que é impossível ter havido fraude na eleição e vê no
campo reformista o apoio de
agentes externos.
"Meu pai nunca quis que
meu irmão virasse jornalista.
Meu pai defende que, no nosso
país, o ganha-pão não deve lidar com opiniões", diz Soheila.
"Quando eu morava em casa,
sempre evitava falar de política, assunto que gerava muito
bate-boca. Mas agora me sinto
mais envolvida com a situação
no país", relata a estudante.
Ela admite estar inclinada a
apoiar Mir Hossein Mousavi,
mas faz questão de frisar que é
mais por rejeição ao atual presidente do que por admiração
ao reformista. "Qualquer um
seria melhor do que Ahmadinejad", comenta.
Para Soheila, o fato mais
marcante da crise é o alinhamento do líder supremo, Ali
Khamenei, com o presidente.
"[Khamenei] destruiu a imagem de figura alheia às disputas e hoje é odiado por isso."
Texto Anterior: Eliminados: Jogadores que apoiaram Mousavi são "aposentados" Próximo Texto: Calmaria aparente não oculta tensão na população de Teerã Índice
|