São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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Família iraniana simboliza antagonismos

DA REPORTAGEM LOCAL

A família da estudante Soheila Jahedi (os nomes desta reportagem são fictícios a pedido dos personagens) é um retrato em miniatura das convulsões da sociedade iraniana.
O pai dela é um ex-diplomata cada vez mais convencido de ter acertado ao trocar o governo pelo setor empresarial. A mãe, da elite intelectual, acha Mahmoud Ahmadinejad um fanfarrão provinciano. Já o irmão diz que o presidente é um herói nacional injustamente demonizado pelo Ocidente.
Soheila, 28, mora no Canadá, onde faz doutorado em engenharia. Ela disse à Folha que telefona diariamente aos pais, tomando sempre o cuidado de não perguntar demais sobre a crise no país. A família correria risco se os grampos do governo detectassem a simpatia do pai, Amjar, pelos protestos.
Depois de ser embaixador em vários países, Amjar voltou a Teerã nos anos 90 para ingressar na engenharia privada. Ele diz que se sente "muito mais útil para o país" na função atual do que quando diplomata. E agradece a Deus por não ter mais obrigação de defender o governo.
Amjar e a mulher, Donya, orgulham-se de ser profundamente nacionalistas e religiosos. Mas veem Ahmadinejad como um líder ineficiente que levou o Irã à falência econômica e a um desnecessário isolamento internacional. Para o casal, a eleição foi fraudada.
Discorda Aref, o primogênito. Ele trabalha na imprensa oficial e simpatiza com a ala mais dura do regime. Aref sustenta que é impossível ter havido fraude na eleição e vê no campo reformista o apoio de agentes externos.
"Meu pai nunca quis que meu irmão virasse jornalista. Meu pai defende que, no nosso país, o ganha-pão não deve lidar com opiniões", diz Soheila.
"Quando eu morava em casa, sempre evitava falar de política, assunto que gerava muito bate-boca. Mas agora me sinto mais envolvida com a situação no país", relata a estudante.
Ela admite estar inclinada a apoiar Mir Hossein Mousavi, mas faz questão de frisar que é mais por rejeição ao atual presidente do que por admiração ao reformista. "Qualquer um seria melhor do que Ahmadinejad", comenta.
Para Soheila, o fato mais marcante da crise é o alinhamento do líder supremo, Ali Khamenei, com o presidente. "[Khamenei] destruiu a imagem de figura alheia às disputas e hoje é odiado por isso."


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