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"Sexismo" de italiano põe Lula em saia justa
Associação de mulheres pede a primeiras-damas que boicotem cúpula na Itália por escândalo envolvendo Berlusconi
Participação de Marisa em viagem, no entanto, está prevista, já que presidente vai receber prêmio em Paris antes de reunião do G8+6
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT
A cúpula do G8+6, marcada
para entre 8 e 10 de julho na
Itália, tende a se transformar
em uma complicação diplomática para o governo brasileiro,
envolvendo Marisa Letícia, a
mulher do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tudo porque um grupo de
professoras universitárias italianas, grupo reduzido mas influente, divulgou manifesto pedindo que as primeiras-damas
de todos os 14 países que devem
comparecer boicotem o encontro, pelos "discursos sexistas"
do primeiro-ministro Silvio
Berlusconi, que "deslegitimam
a presença feminina na sociedade e nas instituições".
O manifesto, publicado pela
revista "Micromega", é uma
reação ao escândalo em curso
na Itália, pelo envolvimento de
Berlusconi com prostitutas, de
alto ou baixo calibre, que até
frequentaram suas casas na
Sardenha e em Roma, chegando a tirar fotos no banheiro de
uma delas.
Na programação do Palácio
do Planalto, até ontem à tarde a
presença de Marisa Letícia na
comitiva brasileira estava confirmada, até porque é usual que
ela acompanhe o marido em cerimônias de premiação. Lula
receberá em Paris prêmio da
Unesco, o braço da ONU para
educação, ciência e cultura, antes de viajar para a Itália.
Seria um desaire para o governo italiano se a primeira-dama brasileira fosse a Paris mas
não a Roma.
Um desaire que só acrescentaria agravo às dificuldades entre Brasil e Itália, decorrentes
do caso Cesare Battisti. Esse
ex-ativista de extrema-esquerda foi condenado na Itália por
quatro homicídios, mas o governo brasileiro lhe concedeu
status de refugiado, o que evitou a extradição pedida pelo governo italiano.
O governo Berlusconi fez do
caso questão de honra e não
deixa de pressionar o Brasil, a
ponto de ter retardado o quanto pôde a cerimônia de entrega
de credenciais pelo novo embaixador brasileiro na Itália,
José Viegas, o que só aconteceu
na semana passada.
É improvável, porém, que
Berlusconi aproveite a presença de Lula para incomodá-lo
com o assunto. Ele próprio está
tão pressionado pelo escândalo
que não tem condições de pressionar ninguém.
Ontem, Berlusconi veio a público negar que tenha levado
prostitutas a suas casas. "Nunca paguei por uma mulher. Eu
nunca entendi como satisfação
outra coisa que não conquistar
uma mulher."
A crise, de todo modo, está
mais presente na mídia internacional do que na italiana, o
que é fácil de explicar: a televisão é a grande fonte de informação, e Berlusconi é proprietário de metade dos seis canais
nacionais. A outra metade é do
Estado, comandado por ele.
Comenta Edmondo Berselli,
colunista do jornal "La Repubblica", o mais duro crítico de
Berlusconi: "Em um país todo
televisivo, faz ao menos dois
decênios que a política foi substituída pelas imagens dos telejornais. Compreende-se facilmente então como, nos últimos
dias, não obstante as denúncias
de jornais como "La Repubblica", foi possível zerar o escândalo de prostituição do regime".
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