São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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"Sexismo" de italiano põe Lula em saia justa

Associação de mulheres pede a primeiras-damas que boicotem cúpula na Itália por escândalo envolvendo Berlusconi

Participação de Marisa em viagem, no entanto, está prevista, já que presidente vai receber prêmio em Paris antes de reunião do G8+6


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

A cúpula do G8+6, marcada para entre 8 e 10 de julho na Itália, tende a se transformar em uma complicação diplomática para o governo brasileiro, envolvendo Marisa Letícia, a mulher do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tudo porque um grupo de professoras universitárias italianas, grupo reduzido mas influente, divulgou manifesto pedindo que as primeiras-damas de todos os 14 países que devem comparecer boicotem o encontro, pelos "discursos sexistas" do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que "deslegitimam a presença feminina na sociedade e nas instituições".
O manifesto, publicado pela revista "Micromega", é uma reação ao escândalo em curso na Itália, pelo envolvimento de Berlusconi com prostitutas, de alto ou baixo calibre, que até frequentaram suas casas na Sardenha e em Roma, chegando a tirar fotos no banheiro de uma delas.
Na programação do Palácio do Planalto, até ontem à tarde a presença de Marisa Letícia na comitiva brasileira estava confirmada, até porque é usual que ela acompanhe o marido em cerimônias de premiação. Lula receberá em Paris prêmio da Unesco, o braço da ONU para educação, ciência e cultura, antes de viajar para a Itália.
Seria um desaire para o governo italiano se a primeira-dama brasileira fosse a Paris mas não a Roma.
Um desaire que só acrescentaria agravo às dificuldades entre Brasil e Itália, decorrentes do caso Cesare Battisti. Esse ex-ativista de extrema-esquerda foi condenado na Itália por quatro homicídios, mas o governo brasileiro lhe concedeu status de refugiado, o que evitou a extradição pedida pelo governo italiano.
O governo Berlusconi fez do caso questão de honra e não deixa de pressionar o Brasil, a ponto de ter retardado o quanto pôde a cerimônia de entrega de credenciais pelo novo embaixador brasileiro na Itália, José Viegas, o que só aconteceu na semana passada.
É improvável, porém, que Berlusconi aproveite a presença de Lula para incomodá-lo com o assunto. Ele próprio está tão pressionado pelo escândalo que não tem condições de pressionar ninguém.
Ontem, Berlusconi veio a público negar que tenha levado prostitutas a suas casas. "Nunca paguei por uma mulher. Eu nunca entendi como satisfação outra coisa que não conquistar uma mulher."
A crise, de todo modo, está mais presente na mídia internacional do que na italiana, o que é fácil de explicar: a televisão é a grande fonte de informação, e Berlusconi é proprietário de metade dos seis canais nacionais. A outra metade é do Estado, comandado por ele.
Comenta Edmondo Berselli, colunista do jornal "La Repubblica", o mais duro crítico de Berlusconi: "Em um país todo televisivo, faz ao menos dois decênios que a política foi substituída pelas imagens dos telejornais. Compreende-se facilmente então como, nos últimos dias, não obstante as denúncias de jornais como "La Repubblica", foi possível zerar o escândalo de prostituição do regime".


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