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Após críticas, Obama demite general
Stanley McChrystal deixa de comandar tropas no Afeganistão depois de reportagem com ataques ao governo
Substituto será David Petraeus, coautor da estratégia de guerra atual e ex-comandante americano no Iraque
Charles Dharapak/Associated Press
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Obama chega para pronunciamento seguido do general David Petraeus,
o secretário da Defesa, Robert Gates, o vice-presidente Joe Biden e o almirante Michael Mullen
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, Barack Obama, removeu ontem
o general Stanley McChrystal
do comando das forças americanas no Afeganistão e
anunciou como substituto o
general David Petraeus, chefe do Comando Central dos
EUA, que supervisiona operações no Oriente Médio.
O anúncio foi feito após reportagem da revista "Rolling
Stone" revelar o desdém e os
insultos que McChrystal e
sua equipe reservam para a
Casa Branca, abrindo uma
crise no comando da guerra.
McChrystal e seus assistentes afirmam no texto, entre outros, que consideram
Obama "despreparado e intimidado", o general Jim Jones, assessor de Segurança
Nacional, "um palhaço", e o
vice-presidente Joe Biden,
um incômodo.
Ontem, o presidente disse
que não fez a troca por ter se
sentido insultado.
"O comportamento mostrado no artigo não está à altura de um comandante-geral. [McChrystal] faz pouco
do controle civil dos militares, que está na base de nossa democracia. E corrói a
confiança necessária para
nossa equipe trabalhar junta
e atingir nossos objetivos no
Afeganistão", afirmou.
O general havia posto o
cargo à disposição ontem,
após telefonar para todos os
alvos de ofensas para se desculpar. "Renuncio movido
pelo desejo de ver o esforço
[de guerra] ser bem-sucedido", disse em nota.
Petraeus terá de ser confirmado pelo Senado, o que deve acontecer até terça.
CONTINUIDADE
Além de expor as fissuras
entre o comando militar e civil quanto à guerra, o texto
da "Rolling Stone" deixou
claros os problemas que as
forças dos EUA vêm tendo no
Afeganistão -antes mesmo
de acabar, junho já é o mês
mais mortífero da guerra para soldados das forças internacionais, com 76 mortos (46
deles americanos).
A reportagem também
suscitou novo debate sobre a
estratégia de contrainsurgência. Esse caminho exige
alto número de soldados,
não só para derrotar o inimigo, mas para viver entre a população e reconstruir um governo viável, num esforço
que pode levar décadas.
Os planos, porém, serão
mantidos, já que Petraeus é
um dos responsáveis por sua
confecção.
"Esta é uma troca de pessoal, não de estratégia", disse o presidente. "Quanto a isso, eu e McChrystal concordamos inteiramente."
Apesar da concordância,
se tornou consenso que o
presidente tinha poucas opções após ter sua liderança
diretamente atacada pelos
comentários insubordinados
do general. "Louvo o debate,
mas não vou tolerar divisões", afirmou ele ontem.
"Obama está tentando fazer o melhor em uma situação ruim", disse à Folha Bruce Riedel, analista do Instituto Brookings. "Pôr Petraeus
no lugar [de McChrystal] significa a menor perturbação
possível no comando e a continuidade da estratégia."
SACRIFÍCIO
Petraeus, porém, foi sacrificado pela decisão, que significou uma queda hierárquica. Ele era atualmente
responsável pelas operações
tanto no Afeganistão quanto
no Iraque.
Antes disso, comandou as
tropas no Iraque, onde implementou o "surge", aumento do número de soldados ao qual se atribui a diminuição da violência.
De toda forma, Obama está com um problema nas
mãos. Ele queria chegar na
eleição em 2012 com o trunfo
de ter fechado os ciclos das
guerras no Iraque e no Afeganistão -algo cada vez mais
improvável.
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