São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2010

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Após críticas, Obama demite general

Stanley McChrystal deixa de comandar tropas no Afeganistão depois de reportagem com ataques ao governo

Substituto será David Petraeus, coautor da estratégia de guerra atual e ex-comandante americano no Iraque


Charles Dharapak/Associated Press
Obama chega para pronunciamento seguido do general David Petraeus, o secretário da Defesa, Robert Gates, o vice-presidente Joe Biden e o almirante Michael Mullen

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Barack Obama, removeu ontem o general Stanley McChrystal do comando das forças americanas no Afeganistão e anunciou como substituto o general David Petraeus, chefe do Comando Central dos EUA, que supervisiona operações no Oriente Médio.
O anúncio foi feito após reportagem da revista "Rolling Stone" revelar o desdém e os insultos que McChrystal e sua equipe reservam para a Casa Branca, abrindo uma crise no comando da guerra.
McChrystal e seus assistentes afirmam no texto, entre outros, que consideram Obama "despreparado e intimidado", o general Jim Jones, assessor de Segurança Nacional, "um palhaço", e o vice-presidente Joe Biden, um incômodo.
Ontem, o presidente disse que não fez a troca por ter se sentido insultado.
"O comportamento mostrado no artigo não está à altura de um comandante-geral. [McChrystal] faz pouco do controle civil dos militares, que está na base de nossa democracia. E corrói a confiança necessária para nossa equipe trabalhar junta e atingir nossos objetivos no Afeganistão", afirmou.
O general havia posto o cargo à disposição ontem, após telefonar para todos os alvos de ofensas para se desculpar. "Renuncio movido pelo desejo de ver o esforço [de guerra] ser bem-sucedido", disse em nota.
Petraeus terá de ser confirmado pelo Senado, o que deve acontecer até terça.

CONTINUIDADE
Além de expor as fissuras entre o comando militar e civil quanto à guerra, o texto da "Rolling Stone" deixou claros os problemas que as forças dos EUA vêm tendo no Afeganistão -antes mesmo de acabar, junho já é o mês mais mortífero da guerra para soldados das forças internacionais, com 76 mortos (46 deles americanos).
A reportagem também suscitou novo debate sobre a estratégia de contrainsurgência. Esse caminho exige alto número de soldados, não só para derrotar o inimigo, mas para viver entre a população e reconstruir um governo viável, num esforço que pode levar décadas.
Os planos, porém, serão mantidos, já que Petraeus é um dos responsáveis por sua confecção.
"Esta é uma troca de pessoal, não de estratégia", disse o presidente. "Quanto a isso, eu e McChrystal concordamos inteiramente."
Apesar da concordância, se tornou consenso que o presidente tinha poucas opções após ter sua liderança diretamente atacada pelos comentários insubordinados do general. "Louvo o debate, mas não vou tolerar divisões", afirmou ele ontem.
"Obama está tentando fazer o melhor em uma situação ruim", disse à Folha Bruce Riedel, analista do Instituto Brookings. "Pôr Petraeus no lugar [de McChrystal] significa a menor perturbação possível no comando e a continuidade da estratégia."

SACRIFÍCIO
Petraeus, porém, foi sacrificado pela decisão, que significou uma queda hierárquica. Ele era atualmente responsável pelas operações tanto no Afeganistão quanto no Iraque.
Antes disso, comandou as tropas no Iraque, onde implementou o "surge", aumento do número de soldados ao qual se atribui a diminuição da violência.
De toda forma, Obama está com um problema nas mãos. Ele queria chegar na eleição em 2012 com o trunfo de ter fechado os ciclos das guerras no Iraque e no Afeganistão -algo cada vez mais improvável.


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