São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2010

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ANÁLISE

McChrystal baixou a guarda ao aplicar política parecida à do agora sucessor

DEXTER FILKINS
DO "NEW YORK TIMES"

Como David Petraeus -general que lhe serve de chefe, mentor e amigo e agora o sucederá-, o general Stanley McChrystal representa um novo modelo para os comandantes militares americanos: intelectualizado, acessível à imprensa e tão bem conectado politicamente quanto os políticos aos quais deve servir.
Os dois generais -Petraeus no Iraque, McChrystal no Afeganistão- exemplificam a convicção moderna de que os comandantes militares precisam ser tão capazes de promover publicamente suas estratégias quanto de comandar sua execução.
Petraeus se tornou o rosto público da contraofensiva que George W. Bush empreendeu no Iraque em 2007. McChrystal, ao tentar recolocar no rumo o esforço de guerra no Afeganistão, abriu seu quartel-general à mídia e ao público de um modo inimaginável para generais de gerações anteriores.
Ele se esforçou por explicar via imprensa, a um público cada vez mais cansado de guerra, o embasamento de sua estratégia de combate.
Ele enfatizou a necessidade de conquistar o público afegão e de concentrar os combates nos territórios mais favoráveis ao Taleban, no sul. Anunciou operações militares publicamente muito antes que começassem.
No Iraque, Petraeus salvou o projeto americano da catástrofe menos por matar insurgentes do que por se aproximar do público iraquiano e protegê-lo. McChrystal tentou fazer o mesmo.
Quando soldados sob seu comando causaram a morte de mulheres e crianças, McChrystal muitas vezes pediu desculpas diretamente ao presidente afegão, Hamid Karzai, e ao povo do país.
Mas ao fazer comentários derrisórios sobre membros do governo Obama ao repórter Michael Hastings, da revista "Rolling Stone", ele foi bem além dos limites da franqueza aceitável e ingressou no território do risco político.
Os motivos exatos para que o general e seus subordinados tenham se descontrolado dessa maneira na presença de um repórter são difíceis de descobrir. É possível que estivessem tão acostumados à presença de jornalistas que se esqueceram de que havia um entre eles.
Isso talvez seja prova da diferença entre McChrystal e seu sucessor. É impossível imaginar Petraeus se deixando apanhar em situação semelhante. Pois, se há uma regra a que essa nova geração de generais se apega, é a de que é bom ser franco, mas não em excesso.


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