São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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Desgastado por crise, cai ministro-chave de Cristina

Chefe-de-gabinete desde 2003, Alberto Fernández renuncia após falhar diálogo com campo

Sérgio Massa, 36, prefeito na Grande Buenos Aires, será novo operador político; para analistas, problemas exigem mudança profunda

22.jun.2008/Divulgação
Massa em campanha; prefeito de Tigre é o mais jovem chefe-de-gabinete a assumir na Argentina

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Desgastado pela crise com o campo, um dos funcionário-chave do governo argentino, o chefe-de-gabinete, Alberto Fernández, renunciou ontem ao cargo após mais de cinco anos no poder. Fernández estava na função desde o governo do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) e foi um dos ministros herdados pela atual presidente Cristina Kirchner.
O novo chefe-de-gabinete será Sergio Massa, 36, que havia assumido como prefeito da cidade de Tigre há pouco mais de sete meses.
A demissão de Fernández acontece menos de uma semana após a derrota no Senado do projeto de lei do governo que determinava o aumento de impostos às exportações de grãos, com o voto de Minerva do vice-presidente Julio Cobos.
A criação dos impostos, em março, gerou uma crise com o setor agropecuário, marcada por bloqueios em estradas, desabastecimento e queda na popularidade de Cristina.
Essa é a segunda baixa no governo desde a derrota política da semana passada. Ontem, o secretário de Agricultura, Javier de Urquiza, foi substituído por Carlos Cheppi, até então presidente do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta), a Embrapa local.

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Um dos pilares da administração kirchnerista, tanto no governo de Néstor quanto no de Cristina, Alberto Fernández foi o responsável por anunciar a anulação do aumento de impostos na última sexta-feira.
Passou os últimos dias com forte gripe e ontem entregou sua carta demissão. Além de funcionário de confiança, era amigo dos Kirchner.
Desde o conflito com o campo, porém, sua imagem vinha se desgastando. Foi o principal interlocutor das negociações frustradas com os ruralistas. Durante a crise, afirmou que seu filho pedia que renunciasse para ter mais tempo com o pai.
Em visita recente ao país, o chefe da diplomacia dos EUA para a região, Thomas Shannon, convidou Fernández a repousar em seu país, diante da imagem de um chefe-de-gabinete cansado e com olheiras.
Na carta de renúncia, dirigida a Cristina, Fernández afirma que "se abre uma nova instância no governo, em que possa contar com um novo elenco de colaboradores para enfrentar a etapa".
A notícia foi recebida com cautela pela oposição. Para o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna "não se vê a intenção de mudanças substanciais" no governo.
Segundo o analista político Rodrigo Mallea, do instituto Nova Maioria, de nada adianta a renúncia de Fernández se seguirem no governo o ministro do Planejamento, Julio de Vido, e o secretário de Comércio, Guillermo Moreno, homens de Néstor Kirchner.
"A população tem a impressão de que quem governa não é Cristina, e sim seu marido. Se os dois representantes de Néstor se mantêm no governo, isso só se acentua. Não há nenhuma mudança", diz Mallea.
De Vido teria apresentado sua renúncia na semana passada, mas Cristina não a aceitou. "Em outra situação, a entrada de um jovem seria oportuna para mostrar uma mudança no governo. Diante da força desses dois funcionários, Massa não tem muito o que fazer."
Representantes do governo descartaram ontem novas mudanças no gabinete em breve.


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