São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Indiciado por genocídio, líder do Sudão vai a Darfur fazer promessas

Multidão recebe Omar Bashir com festa em região devastada por conflito civil

DO FINANCIAL TIMES

O ritmo pop irrompeu no ar parado do deserto, e Omar Bashir subiu em uma mesa para dançar. A massa de 10 mil pessoas balançou com ele, um fervor oficialmente orquestrado que se estendia até as palhoças no horizonte. Foi assim que o homem acusado de genocídio pelo Tribunal Penal Internacional dançou de volta à cena do crime que lhe é imputado.
Há dez dias, Bashir, presidente do Sudão há 19 anos, tornou-se o primeiro chefe de Estado no cargo a ser indiciado por uma corte internacional permanente. Ontem ele iniciou um giro de dois dias por Darfur, transmitindo uma mensagem que intercalou a demonização do promotor Luis Moreno-Ocampo, do TPI, a promessas de segurança, estradas, escolas e água para a região sudanesa.
Na primeira parada, a impressão era que todos os setores de Darfur tinham ido vê-lo: soldados adolescentes, milicianos a cavalo, líderes tribais, meninas de uniforme militar e mulheres com véus. Mas quando diziam por que tinham ido ao terreno baldio ao lado do aeroporto de El Fasher, ficava claro que não representavam todas as vozes de Darfur. "Ocampo quer capturar nosso presidente e levá-lo à Europa. Estou aqui porque rechaço a tentativa de prendê-lo", disse o professor Adam Mohamed Malit.
Em seu discurso, Bashir disse que o promotor do TPI é um agente a serviço de potências estrangeiras interessadas em desestabilizar o Sudão, mas não especificou a quem se referia: se aos rivais regionais Chade e Líbia ou ao "Ocidente".
A viagem é uma tentativa de mostrar o compromisso do governo com o fim do conflito que, segundo estimativas da ONU, já deixou cerca de 300 mil mortos e 2 milhões de refugiados desde 2003. Mas, enquanto dizia que "sabemos que existem injustiças", Bashir continuou a dissociar-se da guerra, usando termos vagos e evitando qualquer alusão às milícias rivais com as quais seria preciso selar a paz.



Texto Anterior: Itália endurece ação contra ilegais
Próximo Texto: Karadzic pede para ser seu próprio advogado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.