São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

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País vive sina de expectativas não alcançadas

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Há menos de um mês, a África do Sul era o país das vuvuzelas, as cornetas coloridas e estridentes da Copa das Confederações. Nos últimos dias, elas deram lugar a artefatos mais afeitos à história do país, como paus, pedras e balas. A erupção de mais uma onda de violência impressiona pela velocidade com que protestos pipocaram por várias cidades.
O aumento do desemprego, a estagnação econômica em 2009 e a vitrine mundial que a chegada da Copa do Mundo proporciona para protestos não explicam tudo. Mais provável é que a paciência tenha chegado ao limite.
A história sul-africana desde o fim do apartheid é um exemplo de expectativas não alcançadas. Em 15 anos, o país cresceu a taxas respeitáveis. Neste século, apenas em 2001 ficou abaixo de 3%. Negros podem andar nas ruas sem serem chamados de "kaffir", o termo pejorativo característico do apartheid.
Três milhões de casas foram erguidas, a mortalidade infantil caiu, e surgiu uma classe média negra que compra e se diverte em locais como o Maponya Mall, novo shopping center no Soweto.
Ao mesmo tempo, o país despencou no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. Ocupava a 90ª posição em 1994 e hoje está em 126º. A concentração de renda astronômica do apartheid aumentou 10%. A violência explodiu. Em alguns bairros de Johannesburgo, não se caminha nem à luz do dia.
Há a percepção de que apenas os bem posicionados se beneficiam da prosperidade. Quadros influentes do Congresso Nacional Africano, o partido do governo, tornaram-se milionários "consultores" de empresas privadas.
Eleito no final de abril, o presidente Jacob Zuma anunciou o resgate da "nação arco-íris" prometida por Nelson Mandela. Assegurou que a Copa no ano que vem será tranquila. A realidade foi outra. Zuma não teve direito nem aos cem dias de lua de mel com o eleitorado.
Em 2008, outra onda de violência deixou mais de 60 mortos, e, por enquanto, ninguém morreu agora. Só que, desta vez, o alvo é o fracasso do setor público, e não estrangeiros miseráveis de Zimbábue ou Moçambique.
A temperatura política subiu para um governo que tenta a todo custo projetar o país como potência regional madura. Mas não é por acaso que a África do Sul carrega o continente no nome.


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