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País vive sina de expectativas não alcançadas
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Há menos de um mês, a
África do Sul era o país das
vuvuzelas, as cornetas coloridas e estridentes da Copa
das Confederações. Nos últimos dias, elas deram lugar a
artefatos mais afeitos à história do país, como paus, pedras e balas. A erupção de
mais uma onda de violência
impressiona pela velocidade
com que protestos pipocaram por várias cidades.
O aumento do desemprego, a estagnação econômica
em 2009 e a vitrine mundial
que a chegada da Copa do
Mundo proporciona para
protestos não explicam tudo.
Mais provável é que a paciência tenha chegado ao limite.
A história sul-africana desde o fim do apartheid é um
exemplo de expectativas não
alcançadas. Em 15 anos, o
país cresceu a taxas respeitáveis. Neste século, apenas em
2001 ficou abaixo de 3%. Negros podem andar nas ruas
sem serem chamados de
"kaffir", o termo pejorativo
característico do apartheid.
Três milhões de casas foram erguidas, a mortalidade
infantil caiu, e surgiu uma
classe média negra que compra e se diverte em locais como o Maponya Mall, novo
shopping center no Soweto.
Ao mesmo tempo, o país
despencou no Índice de Desenvolvimento Humano da
ONU. Ocupava a 90ª posição
em 1994 e hoje está em 126º.
A concentração de renda astronômica do apartheid aumentou 10%. A violência explodiu. Em alguns bairros de
Johannesburgo, não se caminha nem à luz do dia.
Há a percepção de que apenas os bem posicionados se
beneficiam da prosperidade.
Quadros influentes do Congresso Nacional Africano, o
partido do governo, tornaram-se milionários "consultores" de empresas privadas.
Eleito no final de abril, o
presidente Jacob Zuma
anunciou o resgate da "nação
arco-íris" prometida por
Nelson Mandela. Assegurou
que a Copa no ano que vem
será tranquila. A realidade
foi outra. Zuma não teve direito nem aos cem dias de lua
de mel com o eleitorado.
Em 2008, outra onda de
violência deixou mais de 60
mortos, e, por enquanto, ninguém morreu agora. Só que,
desta vez, o alvo é o fracasso
do setor público, e não estrangeiros miseráveis de
Zimbábue ou Moçambique.
A temperatura política subiu para um governo que
tenta a todo custo projetar o
país como potência regional
madura. Mas não é por acaso
que a África do Sul carrega o
continente no nome.
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