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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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Ashcroft apela a Deus na defesa de lei antiterror

DE WASHINGTON

O secretário da Justiça norte-americano, John Ashcroft, iniciou esta semana uma maratona nos EUA em defesa do Patriot Act, o pacote de leis draconianas antiterror autorizado pelo Congresso no dia seguinte aos atentados do Onze de Setembro.
A iniciativa de Ashcroft, que vem citando o nazismo, Deus e a "missão divina" dos EUA de levar "a liberdade para o mundo", está despertando polêmica e críticas.
Partes fundamentais do Patriot Act, aprovado por 98 votos a 1 no Senado e 357 a 66 na Câmara, vêm sendo agora modificadas no Legislativo e questionadas na Justiça por entidades civis.
O Patriot Act passou a permitir que milhões de pessoas estejam sujeitas a escutas telefônicas antes só autorizadas em investigações relacionadas a drogas, a quebra de sigilo de informações financeiras e pessoais e a detenções.
Mais de 152 comunidades americanas já aprovaram resoluções tentando bloquear os efeitos do Patriot Act, encarado por muitos como o "Big Brother" idealizado pelo escritor George Orwell (1903-1950) no livro "1984".
No Congresso, os próprios republicanos vêm tomando iniciativas para restringir as medidas que ajudaram a aprovar em 12 de setembro de 2001.
O contra-ataque do Departamento de Justiça está levando Ashcroft a eventos em quase 20 Estados, onde repete basicamente o mesmo discurso, recheado de um tom fortemente religioso. A Folha assistiu a um deles, no AEI (American Enterprise Institute), em Washington, "think tank" ligado ao Partido Republicano.
"Deus, que concedeu aos EUA, a responsabilidade de liderar e conduzir o mundo no caminho da liberdade, também deu ao país uma grande tarefa: prover a segurança que assegura a liberdade", disse Ashcroft, acrescentando que "a liberdade é a grande dádiva de nosso criador".
Desde que passou a vigorar, o Patriot Act permitiu a prisão de mais de 3.000 pessoas, levou ao indiciamento de outros 255 e condenou 132 indivíduos acusados de atuar, de alguma forma, com o terrorismo.
Pouco antes da guerra no Iraque, quando o governo ainda procurava o apoio da opinião pública para iniciar os ataques, os EUA elevaram duas vezes de "amarelo" para "laranja" o código de alerta antiterror no país alegando que "prisões de suspeitos", baseadas no Patriot Act, indicariam "a iminência de ataques terroristas".
Em todos os eventos a que tem comparecido, Ashcroft cita uma mesma pesquisa dizendo que 91% dos americanos dizem não se sentir intimidados pelas medidas do Patriot Act e faz uma relação entre o nazismo e a ameaça terrorista contra os EUA.
"No inverno de 1941, o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill (1874-1965), apelou aos EUA para se defender do nazismo com uma frase: "Dêem-me os instrumentos e eu terminarei o trabalho". Apelamos ao Congresso com o mesmo refrão", diz. (FCz)


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