São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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Imagem que vende pesa contra democrata

Daniel Bergamasco, de Nova York

Enquanto camisetas com o rosto de Barack Obama rivalizam com as do Coringa do novo filme de Batman nas lojas de souvenir de Nova York, no resto do país a campanha do senador se esforça para rasgar a embalagem desenhada para ele pelos opositores-onde querem que se leia "contém uma celebridade vazia".
Obama usa o microfone para tentar provar o contrário, mas na outra mão continua a afagar o momento gerado pelos fãs que, especialmente pela internet, o ajudaram a arrecadar US$ 340 milhões até julho, contra US$ 145 milhões do republicano John McCain.
Seja qual for o resultado das eleições, o democrata já faz história como pop star, como fica claro nas bancas de revistas. Sua estampa vai além do noticiário político e está em capas de publicações como "Rolling Stone" (música), "Wired" (tecnologia), "Vanity Fair" (comportamento), "Esquire" (masculina) e "People" (fama).
Mas o que fazer com tanta mídia quando ainda assim se está empatado com o rival, na margem de erro das pesquisas de intenção de voto?
McCain -que, mesmo sendo herói da guerra do Vietnã, não recebe o mesmo tratamento- tenta tirar partido da superexposição do adversário. Fez barulho com o já clássico vídeo que diz que o rival "é a maior celebridade do mundo" e o compara às famosas-problema Britney Spears e Paris Hilton.
"Na cultura popular americana, existe um foco enorme em celebridades. Mas, no domínio político, candidatos têm de fazer o americano comum acreditar que entendem as preocupações do povo. McCain tenta persuadir eleitores independentes e de classe média de que Obama não é "um deles'", disse à Folha Andy Zelleke, da Universidade Harvard.
No quesito exposição, o Google dá razão a McCain. As citações no site de buscas para "Barack Obama" (59,3 milhões) superam "Angelina Jolie" (39,8 milhões), "Brad Pitt" (26,4 milhões) e "David Beckham" (20,6 milhões), perdendo para poucos, como "Britney Spears" (110 milhões) e "Paris Hilton" (84,8 milhões). Os números variam conforme a hora da busca, mas as proporções se mantêm.
Até a democrata Hillary Clinton (48,1 milhões), outra supercelebridade eleitoral, aparece mais do que John McCain (40,5 milhões). A ex-pré-candidata, aliás, já teve de se desviar de holofotes no começo do ano, quando recusou convite para aparecer na revista de moda "Vogue", para não parecer elitista. Também por isso, adotou os terninhos que pararam em todas as listas de visuais ruins, até que resenhou para a revista de fofocas "US" seus piores figurinos de todos os tempos.
N a TV, a participa- ção em programas como o humorístico "Saturday Night Live" se tornou fundamental para os postulantes à Casa Branca.
O apoio de artistas, como de costume, também teve destaque, mas toda Hollywood foi ofuscada pelo engajamento da apresentadora mais poderosa da TV na eleição de Obama.
"Oprah Winfrey contou especialmente na Carolina do Sul, onde encabeçou comício de massa de Obama", diz o cientista político David King, também de Harvard.
Para King, Oprah foi crucial quando Obama ainda não brilhava tanto sozinho. "Ela trouxe muitos seguidores no início. Mas, no ponto atual, os eleitores voltam suas mentes para a escolha que está por vir e já não ligam a posição dos famosos já perde importância."


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