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Brasil reforça cooperação nuclear com Argentina
Diplomacia busca posições conjuntas em fóruns sobre não proliferação
Itamaraty considera ter superado desconfianças de Buenos Aires face à aproximação brasileira em relação ao Irã
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
O governo brasileiro busca
implementar novos projetos
de cooperação tecnológica e
industrial com a Argentina
na área nuclear, a fim de superar desconfianças recentes
e fortalecer a coordenação bilateral nos fóruns internacionais sobre não proliferação e
desarme.
Para o Brasil, os acordos
são vistos como garantia de
transparência do seu programa atômico. Além disso, os
dois países veem chances de
negócios num possível boom
da energia nuclear, com a
queda do uso de combustíveis fósseis devido ao aquecimento global.
A colaboração foi tratada
pelos presidentes Lula e Cristina Kirchner, no início do
mês, e prevê, em médio e longo prazo, uma empresa binacional e o projeto de reatores
multipropósito, para a produção de isótopos médicos e
pesquisa científica.
Ela será avaliada entre
amanhã e sexta, em Buenos
Aires, em reuniões de três
instâncias -a Abacc (Agência Brasileiro-Argentina de
Contabilidade e Controle),
que realiza inspeções mútuas, a Coben (Comissão Binacional de Energia Nuclear), órgão técnico, e o
CPPN (Comitê Permanente
de Política Nuclear), de coordenação diplomática.
O encontro do CPPN será o
primeiro desde 2005, embora
os dois países tenham atuado juntos na recente revisão
do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear).
Para sair do papel, o reator
multipropósito e a empresa
binacional, anunciada originalmente em 2008, enfrentarão obstáculos orçamentários, técnicos e políticos -o
Brasil não pretende compartilhar tecnologia de enriquecimento de urânio.
Mas Vera Machado, subsecretária-geral do Itamaraty, e
Odair Gonçalves, presidente
da Cnen (Comissão Nacional
de Energia Nuclear), veem a
perspectiva de aumentar em
curto prazo o intercâmbio de
técnicos e pesquisadores, entre outras medidas. Ambos
estarão nas reuniões.
Na diplomacia, o Brasil
busca manter posição afinada sobre o Protocolo Adicional do TNP -os dois países
não aderiram ao instrumento. O argumento brasileiro é o
de que a Abacc já representa
garantias extras. Mas a não
adesão não tem apoio unânime na Argentina.
"Não há chance de mudança de posição. Ficou claro que existe a Abacc, mecanismo único que precisa ser
preservado, reforçado e mais
conhecido. Esse é um ponto
importante da agenda", disse Machado.
Outra questão foi a aproximação Brasil-Irã, que causou
desconfiança na Argentina,
onde iranianos são acusados
do atentado contra uma associação judaica, em 1994.
Ao "Clarín" o chanceler Celso Amorim disse que "não há
nem foi proposta" colaboração nuclear com o país persa.
"Eles estão convencidos",
afirmou Machado.
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