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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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ASSEMBLÉIA GERAL DA ONU/O ATAQUE DO SECRETÁRIO-GERAL

Além do secretário-geral da ONU, os presidentes do Brasil e da França também fizeram críticas aos EUA

Annan ataca unilateralismo de Bush

Scott Applewhite - Associated Press
Da esq. para a dir., os presidentes Vicente Fox (México), Jacques Chirac (França), George W. Bush (EUA) e Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), entre outros líderes mundiais, participam de almoço oferecido ontem pelo ganense Kofi Annan, nº 1 da ONU, que discursa

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

O discurso do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, na abertura do debate geral da 58ª Assembléia Geral, foi o mais agressivo já proferido por um alto funcionário da entidade, fundada em 1945, contra a política externa americana.
Os EUA também foram criticados nas falas dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Jacques Chirac (França).
Um combate feroz ao unilateralismo foi a principal mensagem transmitida por Annan. Numa crítica direta à Doutrina Bush, que permite ações militares preventivas sem o aval da ONU, como ocorreu no Iraque, Annan afirmou que o unilateralismo é um mal que deve ser evitado pelos países-membros da organização.
"O artigo 51 da ONU determina que qualquer país, se atacado, tem o direito de defesa. Mas, quando os Estados vão além disso e decidem usar a força para lidar com ameaças mais amplas à segurança e paz mundiais, eles precisam da legitimidade única concedida pelas Nações Unidas", afirmou.
"Minha preocupação é que, uma vez adotado, esse tipo de atitude possa estabelecer precedentes e resultar na proliferação do uso unilateral e ilegal da força", disse o secretário-geral.
Em seguida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou. Segundo Lula, "pode-se talvez vencer uma guerra isoladamente, mas não se pode construir a paz duradoura sem o concurso de todos". Tradicionalmente, o presidente brasileiro -ou seu representante- discursa logo após o secretário-geral da ONU.
Após Lula, falou o presidente dos EUA, George W. Bush, que defendeu a Guerra do Iraque e mencionou a ameaça causada por suas supostas armas de destruição em massa, a principal justificativa para a invasão do Iraque.
Também o presidente francês, Jacques Chirac, defendeu o multilateralismo como "o único meio possível para resolver todos os problemas contemporâneos na sua globalidade e complexidade".
Em seu discurso, Annan referiu-se aos dois atentados contra a sede da organização em Bagdá -o primeiro em 19 de agosto, que resultou na morte do brasileiro Sérgio Vieira de Mello, representante especial da ONU no Iraque, e o segundo anteontem.
"As Nações Unidas não são um instrumento perfeito, mas um instrumento precioso. Temos de tomar medidas mais eficientes para proteger a segurança de nossa equipe. Conto com o total apoio financeiro e político de vocês", pediu às delegações dos 191 países-membros da entidade.

Novo papel da ONU
As novas ameaças impostas pelo terrorismo e pela proliferação de armas de destruição em massa são, na avaliação de Annan, os novos obstáculos que uma "nova ONU" terá que enfrentar.
"Trata-se de um momento não menos decisivo que aquele de 1945, quando as Nações Unidas foram criadas. Temos de decidir se é possível continuar com as bases estabelecidas naquela época ou se mudanças radicais são necessárias", declarou Annan.
O secretário-geral afirmou que a reforma do Conselho de Segurança é a mais importante. Ele annan anunciou a criação de uma comissão formada por intelectuais e políticos de renome internacional para estudar a questão.
Atualmente, o CS da ONU possui cinco membros permanentes, com direito a veto: EUA, Reino Unido, França, Rússia e China (os cinco principais vencedores da Segunda Guerra Mundial).
As outras dez vagas, sem direito a veto, são ocupadas por países dos cinco continentes em sistema de rodízio. Cresce a pressão para que países líderes em suas regiões ocupem vagas permanentes.


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