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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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Presidente sugere criação de comitê vinculado à ONU; iniciativa já teria apoio de França, Noruega e Suécia

Lula volta a propor fundo contra a fome

DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs a criação de um Comitê Mundial de Combate à Fome em seu discurso na abertura dos debates da 58ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas. Para ele, os países deveriam se engajar numa "guerra contra a fome e a miséria".
Segundo Oded Grajew, assessor especial e coordenador de mobilização empresarial do Fome Zero, a proposta do Brasil é que o comitê tenha o mesmo status do Conselho de Segurança e do Conselho Econômico e Social da ONU. "Precisamos engajar-nos, política e materialmente, na única guerra da qual sairemos vencedores: a guerra contra a fome e a miséria."
A iniciativa de Lula de propor a criação de um comitê vinculado à ONU foi combinada com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Segundo a Folha apurou, Noruega, Suécia e França já teriam se comprometido a contribuir para fundos geridos pelo comitê.
Em seu discurso, Lula lembrou que propôs, durante a reunião em Evian (França) da cúpula ampliada do G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia), em 1º de junho, a criação de um Fundo Mundial de Combate à Fome. A idéia não teve grande repercussão. Ele já tinha feito essa proposta no Fórum Econômico Mundial, em 26 de janeiro, em Davos (Suíça), sem sucesso.
O comitê proposto ontem seria criado exatamente para articular fundos e composto por chefes de Estado ou de governo, no âmbito da própria ONU. Lula disse que "erradicar a fome no mundo era um imperativo moral e político". Disse que era "factível", se houvesse "vontade política". Listou dados sobre a fome no mundo: "Diariamente, 24 mil pessoas são vitimadas por doenças decorrentes da desnutrição".
E citou Deus: "Quanto mais a humanidade parece aproximar-se de Deus, pela capacidade de criar, mais O renega, pela incapacidade de respeitar e proteger suas criaturas. Quanto mais O celebramos ao gerar riquezas, mais O ferimos por não saber, minimamente, reparti-las".
Fez referência também ao papa Paulo 6º, citando uma frase que ele disse há 36 anos: "Os povos da fome dirigem-se hoje, de modo dramático, aos povos da opulência". Indagou: "Vamos agir para acabar com a fome ou imolar nossa credibilidade na omissão?".
Disse que os líderes mundiais não tinham o direito de dizer aos famintos que esperem pelo próximo século e ligou indiretamente o terrorismo à miséria: "O verdadeiro caminho da paz é o combate sem tréguas à fome e à miséria, numa verdadeira campanha de solidariedade capaz de unir o planeta ao invés de aprofundar as divisões e o ódio que conflagram os povos e semeiam o terror".
O presidente afirmou ainda que "este século, tão promissor do ponto de vista tecnológico e material, não pode cair em um processo de regressão política e espiritual". Acrescentando que "a verdadeira paz brotará da democracia, do respeito ao direito internacional, do desmantelamento dos arsenais mortíferos [única concessão aos EUA, além de lamentar os atentados de 11 de Setembro] e, sobretudo, da erradicação definitiva da fome".
No final, afirmou: "O maior desafio da humanidade -e, ao mesmo tempo, o mais belo- é justamente este: humanizar-se". Disse ser hora de "chamar a paz pelo seu nome próprio: justiça social".


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