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Presidente sugere criação de comitê vinculado à ONU; iniciativa já teria apoio de França, Noruega e Suécia
Lula volta a propor fundo contra a fome
DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva propôs a criação de um
Comitê Mundial de Combate à
Fome em seu discurso na abertura dos debates da 58ª Assembléia
Geral da Organização das Nações
Unidas. Para ele, os países deveriam se engajar numa "guerra
contra a fome e a miséria".
Segundo Oded Grajew, assessor
especial e coordenador de mobilização empresarial do Fome Zero,
a proposta do Brasil é que o comitê tenha o mesmo status do Conselho de Segurança e do Conselho
Econômico e Social da ONU.
"Precisamos engajar-nos, política
e materialmente, na única guerra
da qual sairemos vencedores: a
guerra contra a fome e a miséria."
A iniciativa de Lula de propor a
criação de um comitê vinculado à
ONU foi combinada com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
Segundo a Folha apurou, Noruega, Suécia e França já teriam se
comprometido a contribuir para
fundos geridos pelo comitê.
Em seu discurso, Lula lembrou
que propôs, durante a reunião em
Evian (França) da cúpula ampliada do G-8 (grupo dos sete países
mais ricos do mundo, mais a Rússia), em 1º de junho, a criação de
um Fundo Mundial de Combate à
Fome. A idéia não teve grande repercussão. Ele já tinha feito essa
proposta no Fórum Econômico
Mundial, em 26 de janeiro, em
Davos (Suíça), sem sucesso.
O comitê proposto ontem seria
criado exatamente para articular
fundos e composto por chefes de
Estado ou de governo, no âmbito
da própria ONU. Lula disse que
"erradicar a fome no mundo era
um imperativo moral e político".
Disse que era "factível", se houvesse "vontade política". Listou
dados sobre a fome no mundo:
"Diariamente, 24 mil pessoas são
vitimadas por doenças decorrentes da desnutrição".
E citou Deus: "Quanto mais a
humanidade parece aproximar-se de Deus, pela capacidade de
criar, mais O renega, pela incapacidade de respeitar e proteger
suas criaturas. Quanto mais O celebramos ao gerar riquezas, mais
O ferimos por não saber, minimamente, reparti-las".
Fez referência também ao papa
Paulo 6º, citando uma frase que
ele disse há 36 anos: "Os povos da
fome dirigem-se hoje, de modo
dramático, aos povos da opulência". Indagou: "Vamos agir para
acabar com a fome ou imolar nossa credibilidade na omissão?".
Disse que os líderes mundiais
não tinham o direito de dizer aos
famintos que esperem pelo próximo século e ligou indiretamente o
terrorismo à miséria: "O verdadeiro caminho da paz é o combate
sem tréguas à fome e à miséria,
numa verdadeira campanha de
solidariedade capaz de unir o planeta ao invés de aprofundar as divisões e o ódio que conflagram os
povos e semeiam o terror".
O presidente afirmou ainda que
"este século, tão promissor do
ponto de vista tecnológico e material, não pode cair em um processo de regressão política e espiritual". Acrescentando que "a verdadeira paz brotará da democracia, do respeito ao direito internacional, do desmantelamento dos
arsenais mortíferos [única concessão aos EUA, além de lamentar
os atentados de 11 de Setembro] e,
sobretudo, da erradicação definitiva da fome".
No final, afirmou: "O maior desafio da humanidade -e, ao mesmo tempo, o mais belo- é justamente este: humanizar-se". Disse
ser hora de "chamar a paz pelo
seu nome próprio: justiça social".
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