São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2007

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Para analistas, Fujimori altera cenário político

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

A volta do ex-presidente Alberto Fujimori ao Peru é mais do que uma vitória do sistema jurídico do país: atrai ainda a possibilidade, não tão celebrada, de desestabilização de seu cenário político. Com 13 seguidores do ex-líder entre os 120 membros do Congresso peruano, o voto fujimorista tem um peso considerável e que influencia o presidente do país, Alan García.
"É certamente uma mudança para a situação política. As negociações e os consensos no Congresso poderão se tornar bem mais difíceis", disse à Folha Sofía Macher, ex-secretária-executiva da Coordenação Nacional dos Direitos Humanos do Peru e que participou da Comissão da Verdade e Reconciliação do país.
Em um primeiro indício da mobilização no Congresso, a parlamentar Keiko Fujimori, filha do ex-mandatário, anunciou que fará hoje uma reunião da bancada fujimorista para tomar as "decisões políticas" que o momento exige, segundo o jornal "El Comercio".
Para Macher, no entanto, a transformação não chega a ameaçar García. "A debilidade de Fujimori está no fato de que ele sempre teve apenas alianças, e não um partido forte. Mesmo a mobilização de simpatizantes, como a de anteontem, é um fenômeno pontual -não há uma organização sólida por trás e os seguidores de Fujimori estão muito divididos."

Julgamento ameaçado
Um cenário bem mais pessimista é traçado pelo analista político Rodrigo Montoya: para ele, a importância política dos fujimoristas para o governo é tão grande que é possível antever uma aliança -o que ameaça a idoneidade do julgamento do ex-líder.
"Não há nenhuma garantia de uma Justiça independente, pois o partido Apra [de García] tem grande influência sobre o Judiciário. O julgamento de Fujimori será uma dura prova para o sistema peruano", afirma.
Montoya diz que já há sinais de acordo entre o Apra, as Forças Armadas e os fujimoristas, o que pode ser visto no silêncio de García sobre o assunto e no fato de que Fujimori foi "escondido" do público até agora.
"Os únicos que queriam o retorno de Fujimori eram seus simpatizantes. Para o governo e as Forças Armadas, o melhor seria não mexer no passado. A presença dele no Peru é uma incógnita, que tem poder para ameaçar o poder estabelecido."
O analista alerta ainda que está nas mãos do Exército a chance de se alcançar uma condenação significativa para Fujimori. "Se as Forças Armadas se recusarem, como vêm fazendo até agora, a apontar a responsabilidade do ex-líder nas violações de direitos humanos ocorridas durante sua Presidência, será muito difícil condená-lo."

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