|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para analistas, Fujimori altera cenário político
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
A volta do ex-presidente
Alberto Fujimori ao Peru é
mais do que uma vitória do
sistema jurídico do país:
atrai ainda a possibilidade,
não tão celebrada, de desestabilização de seu cenário
político. Com 13 seguidores
do ex-líder entre os 120
membros do Congresso peruano, o voto fujimorista
tem um peso considerável e
que influencia o presidente
do país, Alan García.
"É certamente uma mudança para a situação política. As negociações e os consensos no Congresso poderão se tornar bem mais difíceis", disse à Folha Sofía Macher, ex-secretária-executiva da Coordenação Nacional
dos Direitos Humanos do
Peru e que participou da Comissão da Verdade e Reconciliação do país.
Em um primeiro indício
da mobilização no Congresso, a parlamentar Keiko Fujimori, filha do ex-mandatário, anunciou que fará hoje
uma reunião da bancada fujimorista para tomar as "decisões políticas" que o momento exige, segundo o jornal "El Comercio".
Para Macher, no entanto,
a transformação não chega a
ameaçar García. "A debilidade de Fujimori está no fato
de que ele sempre teve apenas alianças, e não um partido forte. Mesmo a mobilização de simpatizantes, como a
de anteontem, é um fenômeno pontual -não há uma organização sólida por trás e os
seguidores de Fujimori estão
muito divididos."
Julgamento ameaçado
Um cenário bem mais pessimista é traçado pelo analista político Rodrigo Montoya:
para ele, a importância política dos fujimoristas para o
governo é tão grande que é
possível antever uma aliança
-o que ameaça a idoneidade
do julgamento do ex-líder.
"Não há nenhuma garantia
de uma Justiça independente, pois o partido Apra [de
García] tem grande influência sobre o Judiciário. O julgamento de Fujimori será
uma dura prova para o sistema peruano", afirma.
Montoya diz que já há sinais de acordo entre o Apra,
as Forças Armadas e os fujimoristas, o que pode ser visto no silêncio de García sobre
o assunto e no fato de que
Fujimori foi "escondido" do
público até agora.
"Os únicos que queriam o
retorno de Fujimori eram
seus simpatizantes. Para o
governo e as Forças Armadas, o melhor seria não mexer no passado. A presença
dele no Peru é uma incógnita, que tem poder para ameaçar o poder estabelecido."
O analista alerta ainda que
está nas mãos do Exército a
chance de se alcançar uma
condenação significativa para Fujimori. "Se as Forças
Armadas se recusarem, como vêm fazendo até agora, a
apontar a responsabilidade
do ex-líder nas violações de
direitos humanos ocorridas
durante sua Presidência, será muito difícil condená-lo."
Texto Anterior: No 1º dia preso, Fujimori passa mal Próximo Texto: Oriente Médio: Israel promete libertar 90 prisioneiros; Abbas quer mais Índice
|