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Honduras reforça seu cerco militar à Embaixada do Brasil
Jornalistas são impedidos de passar; ao mostrar passaporte, brasileiro, repórter da Folha ouve: "Vocês são culpados disso"
Governo golpista nega relato de que tenha havido uma morte em conflitos após volta de Zelaya, mas confirma que 23 se feriram
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
Num dia em que os hondurenhos aproveitaram uma breve
suspensão do toque de recolher
para esvaziar prateleiras de supermercados, a Embaixada do
Brasil em Tegucigalpa, que há
três dias abriga o presidente deposto, Manuel Zelaya, e dezenas de apoiadores, teve a segurança reforçada pelos militares,
fiéis ao governo interino.
A reportagem da Folha esteve na região da embaixada brasileira ontem à tarde, mas foi
impedida, como os demais jornalistas, de se aproximar do
prédio. "Vocês são os culpados
disso", disse um oficial militar,
quando lhe foi mostrado o passaporte brasileiro.
Pouco depois, passou uma
camionete negra carregada de
alimentos comprados pela família de Zelaya. Havia caixas de
água, de Coca-Cola e de cereais,
dezenas de sanduíches prontos
e até um liquidificador novo.
Todas as caixas foram cuidadosamente revisadas. O momento mais tenso ocorreu
quando um militar encontrou,
em meio à comida, dois protetores de ouvido parecidos aos
usados em aeroportos -nas
duas primeiras noites, forças
de segurança colocaram música alta diante da embaixada.
"Isso não está proibido, mas
o problema é como estava [escondido]", disse o militar, diante de várias câmeras de TV. "Isso é responsabilidade da filha
do Zelaya, não sabíamos que
estava aí", reagiu um militante
do Codeh (Comitê para a Defesa dos Direitos Humanos em
Honduras), ONG pró-Zelaya.
Segundo o presidente do Codeh, Andrés Pavón, que esteve
ontem com Zelaya, havia pouco mais de 120 pessoas na embaixada, instalada numa casa
residencial de dois pisos na Colônia Palmira, a duas quadras
da representação americana.
De acordo com Pavón, as
pessoas sofrem com a falta de
espaço -muitas dormem apenas sobre papelão- e o serviço
de telefone cortado -o de água
e o de luz foram restabelecidos.
"Mas as pessoas estão dispostas a enfrentar qualquer coisa
que possa acontecer", afirmou.
Uma marcha com alguns milhares de manifestantes pró-Zelaya inicialmente dirigida à
embaixada brasileira foi desviada até a região do Parque
Central. No final, policiais usaram gás lacrimogêneo e deram
tiros para o alto contra um pequeno grupo de militantes.
Não houve feridos graves.
Como precaução, a quadra
onde está a embaixada foi fechada com uma grade móvel. A
segurança foi reforçada por dezenas de militares -a maioria
se dispersou no fim do dia.
A agência de notícias Reuters
noticiou que um manifestante
pró-Zelaya de 64 anos havia sido morto anteontem à noite
durante confrontos com a polícia. O governo golpista, de Roberto Micheletti, negou e informou que foram registrados 23
feridos até ontem à tarde.
A suspensão entre as 10h e as
17h do toque de recolher em vigor desde segunda gerou intensa corrida aos supermercados e
postos de gasolina. A compra
desenfreada fez vários produtos sumirem no final do dia.
"Não tem mais frango, carnes, leite, ovos, manteiga. Só há
o que você está vendo", disse
Angela Carrasco, funcionária
do supermercado Paiz.
"Nunca tinha visto algo assim", afirmou a técnica em
computação Mireya Juwaie,
após duas horas dentro do supermercado. "Mas o toque de
recolher é necessário. A situação está bastante caótica, e temos de evitar uma guerra."
Na fronteira entre El Salvador e Honduras, por onde a reportagem da Folha cruzou para chegar a Tegucigalpa (os aeroportos permaneceram fechados pelo segundo dia consecutivo), centenas de caminhões
que estavam parados em filas
quilométricas desde segunda
puderam retomar suas viagens.
Ontem, o governo interino
voltou a acusar Zelaya de provocar distúrbios para impedir a
realização da eleição presidencial, no final de novembro. O
deposto insiste em que não deixará a embaixada e disse querer reunir-se com Micheletti.
O secretário-geral da OEA
(Organização dos Estados
Americanos), Miguel Insulza,
anunciou ontem que liderará
uma nova missão diplomática
ao país entre sexta e sábado.
O chanceler da Espanha, Miguel Angél Moratinos, que participou de reunião com Insulza
e representantes de outros países -incluindo o Brasil-, disse
que foi acordado, a pedido de
Zelaya, o retorno dos embaixadores que haviam deixado
Honduras após o golpe.
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