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Argentinos compram dólares e protestam contra inflação
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL À ARGENTINA
A cinco dias das eleições, a
Argentina voltou a viver uma
jornada de tensão econômica,
com forte procura por dólares
nos bancos, intervenções do
Banco Central no mercado de
câmbio e protestos de rua contra a manipulação de índices
oficiais de inflação utilizados
para corrigir salários.
O BC argentino entrou pesado no mercado vendendo dólares nos dois últimos dias para
manter as cotações da moeda
em torno de 3,15 pesos. Mas o
dólar chegou a subir a 3,20 em
Buenos Aires e a 3,23 no interior como reflexo do descontrole da inflação.
A ação do BC visa passar uma
sensação de normalidade até a
eleição, quando o presidente
Néstor Kirchner espera eleger
sua mulher, Cristina, para a
Presidência da Argentina.
De julho para cá, houve um
estancamento dos depósitos de
empresas em pesos nos bancos.
Depois de aumentarem em
mais de 25 bilhões de pesos em
um ano (entre julho de 2006 e
julho de 2007), esses depósitos
privados de empresas somaram menos de 800 milhões de
pesos em três meses.
"As empresas estão preferindo adquirir dólares ou antecipar a compra de matérias-primas. Elas esperam que tanto os produtos quanto o dólar fiquem mais caros depois das
eleições", disse à Folha Fausto
Spotorno, economista-chefe da
consultoria Orlando J. Ferreres & Associados.
A indústria argentina também já apresenta números que
mostram ter chegado ao limite
de sua capacidade de produção,
o que continuará colocando
mais lenha na fogueira da inflação. Em setembro, as fábricas
no país cresceram 8,8% sobre o
mesmo mês do ano passado e
alcançaram 78,7% de utilização
de sua capacidade instalada, recorde desde 1984, quando chegou a 80%, segundo Spotorno.
Para o economista Federico
Bragagnolo, da Econviews, empresas e pessoas físicas também estão procurando dólares
porque sabem que Kirchner
deve desvalorizar o peso após
as eleições. "O governo vai
abrir a porta para um pouco
mais de inflação, via câmbio,
como forma de cortar os salários e as despesas gerais do setor público." Bragagnolo afirma, porém, que não se trata de
uma "corrida clássica ao dólar
com as mesmas dimensões que
a Argentina viveu no passado".
Já os consumidores estariam
seguindo o mesmo raciocínio
das fábricas e antecipando a
compra de produtos que, esperam, ficarão mais caros passada a eleição. Essa procura
maior que alimenta a inflação.
Ontem, o Indec (o IBGE argentino) divulgou que a inflação nacional de setembro foi de
0,8%. Enquanto o índice era
apresentado, do lado de fora
manifestantes e funcionários
do próprio Indec acusavam o
órgão de "fraude". O representante da Associação de Trabalhadores do Estado (ATE) no
Indec, Daniel Fazio, disse que
"mais uma vez" o órgão segue
com a "reputação arrasada" e
apresenta "índices falsos".
O Indec diz que a inflação
oficial argentina está em cerca
de 8% ao ano. Mas dados de várias Províncias (Estados) mostram preços subindo acima de
22%. Como 40% da dívida pública argentina e os salários são
corrigidos pela inflação oficial,
o governo Kirchner vem dando
um "calote branco" nesses rendimentos. Ao mesmo tempo, o
presidente ampliou programas
sociais que favorecem a sua
mulher-candidata.
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