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Premiação de UE a dissidente irrita China
Parlamento Europeu dá prêmio de direitos humanos a blogueiro preso por denunciar repressão às vésperas da Olimpíada
Para Pequim, que o define
como criminoso, distinção é
"interferência em assuntos
domésticos e violação de
normas internacionais"
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Um dos mais famosos presos
políticos chineses, o blogueiro
Hu Jia, 35, recebeu ontem o
Prêmio Sakharov de Direitos
Humanos do Parlamento Europeu. Hu está preso desde
abril, condenado a três anos e
meio de prisão por "incitar subversão contra o Estado".
Conhecido pela defesa de
causas tão diversas como os direitos dos pacientes soropositivos no país, a liberdade de expressão e o meio ambiente, Hu
foi condenado depois de uma
série de textos em seu blog, "A
China Real e a Olimpíada", co-escritos com o advogado Teng
Biao, e de entrevistas a jornais
estrangeiros criticando o aumento da repressão às vésperas
da Olimpíada de Pequim.
O Parlamento Europeu o
descreveu como "símbolo
maior dos problemas de direitos humanos na China". "Ele
representa todos os cidadãos
chineses e tibetanos que são reprimidos: advogados, jornalistas, peticionários, escritores e
blogueiros", diz a nota.
O governo chinês acusou ontem Hu Jia de ser um "criminoso" e atacou a decisão do Parlamento Europeu como "interferência em assuntos domésticos
e violação de normas internacionais", segundo o porta-voz
da Chancelaria Liu Jianchao.
Pequim abriga a partir de hoje o Encontro Ásia-Europa,
com 43 países convidados.
"Com tantos assuntos internacionais urgentes, é muito trivial
que tenhamos que discutir Hu
Jia", disse o porta-voz.
Ao saber que ele era um dos
finalistas ao prêmio, o embaixador chinês para a União Européia, Song Zhe, escreveu carta ao Parlamento dizendo que,
"se Hu Jia for premiado, inevitavelmente vai ferir os sentimentos do povo chinês e trazer
sérios danos às relações da UE
com a China".
A mulher de Hu Jia, Zeng
Jinyan, 25, também ativista, ficou detida em um hotel em Dalian, a 463 km de Pequim, durante a Olimpíada. Há duas semanas, quando rumores apontavam que Hu Jia poderia receber o Nobel da Paz, seu telefone
foi desligado. Ela vive sob vigilância policial com a filha de
onze meses, Qianci.
Desconhecido
Hu Jia é famoso no exterior,
mas absolutamente desconhecido na China. Ele começou seu
ativismo em uma associação de
pacientes soropositivos na Província de Henan, onde camponeses foram contaminados depois de terem vendido o seu
sangue -ele foi preso em 2002
pela polícia local.
O blogueiro e a mulher ficaram sob prisão domiciliar de
agosto do ano passado, quando
ela ainda estava grávida, até
abril, quando Hu foi julgado e
condenado.
A família mora em um conjunto habitacional chamado
Cidade Liberdade.
Em seu blog, ela narra as condições do marido, que tem cirrose hepática e raramente recebe qualquer tratamento médico na prisão. Dezenove cartas
que ele escreveu para sua família desde que foi preso foram
confiscadas, segundo Zeng.
"Provavelmente ele não sabe
que ganhou o prêmio", disse à
Folha o advogado Teng Biao,
um dos melhores amigos de
Hu. "O prêmio não é bom apenas para ele, mas também para
todos que se preocupam com os
direitos humanos na China.
Pessoas que trabalham nessa
área sofrem muito aqui. Sem a
atenção de fora, a situação poderia ser pior", diz Teng.
Batizado em homenagem ao
dissidente soviético Andrei Sakharov, ganhador do Nobel da
Paz em 1975, o Prêmio Sakharov é considerado o mais importante da UE. Entre os vencedores anteriores, estão nomes como Nelson Mandela, o
cubano Oswaldo Payá e a birmanesa Aung San Suu Kyi.
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