São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2008

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Premiação de UE a dissidente irrita China

Parlamento Europeu dá prêmio de direitos humanos a blogueiro preso por denunciar repressão às vésperas da Olimpíada

Para Pequim, que o define como criminoso, distinção é "interferência em assuntos domésticos e violação de normas internacionais"

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Um dos mais famosos presos políticos chineses, o blogueiro Hu Jia, 35, recebeu ontem o Prêmio Sakharov de Direitos Humanos do Parlamento Europeu. Hu está preso desde abril, condenado a três anos e meio de prisão por "incitar subversão contra o Estado".
Conhecido pela defesa de causas tão diversas como os direitos dos pacientes soropositivos no país, a liberdade de expressão e o meio ambiente, Hu foi condenado depois de uma série de textos em seu blog, "A China Real e a Olimpíada", co-escritos com o advogado Teng Biao, e de entrevistas a jornais estrangeiros criticando o aumento da repressão às vésperas da Olimpíada de Pequim.
O Parlamento Europeu o descreveu como "símbolo maior dos problemas de direitos humanos na China". "Ele representa todos os cidadãos chineses e tibetanos que são reprimidos: advogados, jornalistas, peticionários, escritores e blogueiros", diz a nota.
O governo chinês acusou ontem Hu Jia de ser um "criminoso" e atacou a decisão do Parlamento Europeu como "interferência em assuntos domésticos e violação de normas internacionais", segundo o porta-voz da Chancelaria Liu Jianchao.
Pequim abriga a partir de hoje o Encontro Ásia-Europa, com 43 países convidados. "Com tantos assuntos internacionais urgentes, é muito trivial que tenhamos que discutir Hu Jia", disse o porta-voz.
Ao saber que ele era um dos finalistas ao prêmio, o embaixador chinês para a União Européia, Song Zhe, escreveu carta ao Parlamento dizendo que, "se Hu Jia for premiado, inevitavelmente vai ferir os sentimentos do povo chinês e trazer sérios danos às relações da UE com a China".
A mulher de Hu Jia, Zeng Jinyan, 25, também ativista, ficou detida em um hotel em Dalian, a 463 km de Pequim, durante a Olimpíada. Há duas semanas, quando rumores apontavam que Hu Jia poderia receber o Nobel da Paz, seu telefone foi desligado. Ela vive sob vigilância policial com a filha de onze meses, Qianci.

Desconhecido
Hu Jia é famoso no exterior, mas absolutamente desconhecido na China. Ele começou seu ativismo em uma associação de pacientes soropositivos na Província de Henan, onde camponeses foram contaminados depois de terem vendido o seu sangue -ele foi preso em 2002 pela polícia local.
O blogueiro e a mulher ficaram sob prisão domiciliar de agosto do ano passado, quando ela ainda estava grávida, até abril, quando Hu foi julgado e condenado.
A família mora em um conjunto habitacional chamado Cidade Liberdade.
Em seu blog, ela narra as condições do marido, que tem cirrose hepática e raramente recebe qualquer tratamento médico na prisão. Dezenove cartas que ele escreveu para sua família desde que foi preso foram confiscadas, segundo Zeng.
"Provavelmente ele não sabe que ganhou o prêmio", disse à Folha o advogado Teng Biao, um dos melhores amigos de Hu. "O prêmio não é bom apenas para ele, mas também para todos que se preocupam com os direitos humanos na China. Pessoas que trabalham nessa área sofrem muito aqui. Sem a atenção de fora, a situação poderia ser pior", diz Teng.
Batizado em homenagem ao dissidente soviético Andrei Sakharov, ganhador do Nobel da Paz em 1975, o Prêmio Sakharov é considerado o mais importante da UE. Entre os vencedores anteriores, estão nomes como Nelson Mandela, o cubano Oswaldo Payá e a birmanesa Aung San Suu Kyi.


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