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Novo presidente uruguaio herdará rusga com vizinho
Candidatos defendem papeleira na margem de rio comum apesar de oposição argentina
Desavença, que chegou a tribunal internacional, faz que principal passagem por terra entre os dois países esteja bloqueada desde 2006
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU
Para votar na eleição presidencial de amanhã, os uruguaios residentes na Argentina
não poderão ingressar em seu
país pelo principal acesso por
terra entre as duas margens do
rio Uruguai.
Desde 2006, um protesto dos
habitantes do lado argentino
contra a construção, na margem uruguaia do rio, da fábrica
finlandesa de celulose Botnia
impede a circulação pela ponte
de Gualeguaychú.
A intenção dos manifestantes argentinos é afetar a indústria turística uruguaia, em represália ao que consideram um
dano ao meio ambiente -a Botnia estaria poluindo o rio-, à
qualidade de vida no local -o
cheiro da fumaça emitida pela
fábrica seria a razão do aumento de casos de enjoo e alergias
na população- e, por extensão,
uma ameaça à sua sobrevivência econômica, amparada na indústria do turismo.
O fato de os manifestantes
argentinos não permitirem o
acesso dos eleitores uruguaios
-no mesmo mês em que abriram a ponte para deixar passar
torcedores argentinos que foram apoiar sua seleção contra o
Uruguai- é mais um capítulo
num conflito que ultrapassa os
aspectos anedóticos.
Os governos argentino e uruguaio discutem atualmente o
caso na Corte Internacional de
Justiça de Haia, onde a Argentina acusou o Uruguai de descumprir o tratado bilateral de
gestão do rio, ao autorizar unilateralmente a instalação da
Botnia na região.
Além disso, a Argentina tentou provar que a empresa contamina o rio. O Uruguai diz ter a
comprovação, por auditorias
independentes, de que a Botnia
respeita os padrões internacionais de impacto de sua atividade no meio ambiente e tem índices de emissão de poluentes
abaixo do máximo permitido.
Os uruguaios, por sua vez, reprovam a inoperância do governo argentino em relação à
obstrução da ponte de Gualeguaychú, que fere o princípio
da livre circulação entre os países do Mercosul.
Já o Brasil mantém a posição
de não se intrometer no desentendimento, para desapontamento dos uruguaios, que julgam a "imparcialidade" uma
atitude aquém da expectativa
em relação ao autoproclamado
líder regional.
A decisão do Itamaraty é não
intervir num conflito em que
apenas um dos lados deseja sua
mediação. A Argentina recusa a
interlocução brasileira nesse
assunto. A diplomacia brasileira tem em conta ainda o precedente negativo estabelecido
quando os países aceitaram a
mediação do rei da Espanha,
que não teve êxito na tarefa.
Os dois principais candidatos
à Presidência do Uruguai, o socialista José Mujica e o conservador Luis Alberto Lacalle, reprovam a atitude argentina e
exigem o fim do conflito -com
diferente gradação retórica.
Em comício na cidade de
Fray Bentos, no lado uruguaio
da fronteira, Lacalle afirmou
estar "provado que a Botnia
não é contaminadora", disse
que "a situação se tornou grotesca", já que "um punhado de
pessoas da Província vizinha de
Entre Ríos mantém a Argentina cativa em suas relações com
o Uruguai" e prometeu que, se
eleito, tentará "terminar imediatamente" com o conflito.
Mujica afirma estar seguro
de que a empresa finlandesa
não contamina o meio ambiente e diz que a Argentina precisa
"compreender" isso. Ele defende a via do acordo com a presidente argentina, Cristina
Kirchner, a ser alcançado com
"paciência e sem prepotência".
Mesmo quando Cristina fez
declarações duras sobre o fato
de o Uruguai haver permitido a
instalação da fábrica, Mujica
contemporizou: "A relação
com o povo argentino está além
das idas e vindas de uma questão conjuntural. Somos filhos
da mesma placenta. Os governos passam, os povos ficam".
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