São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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Caso Haider cria modelo para ação da UE sobre extremistas

DA REDAÇÃO

A entrada do Partido da Liberdade (FPÖ), do controverso líder de extrema direita Jörg Haider, na coalizão governamental austríaca, em 2000, criou um paradigma que tem pautado a atitude da União Européia em relação à presença de extremistas na administração e à imposição de sanções .
Segundo analistas ouvidos pela Folha, a UE aprendeu uma importante lição em 2000, quando impôs sanções à Áustria por causa do caso Haider. À época, Bruxelas argumentou que alguns comentários de Haider sobre minorias raciais eram "contrários aos princípios fundamentais da UE".
As sanções duraram poucos meses e foram suspensas depois que o parecer de uma comissão de "sábios", que havia visitado a Áustria para observar como se comportava o governo liderado por Wolfgang Schüssel (do conservador Partido do Povo, ÖVP), deu conta de um crescente sentimento antieuropeu no país.
"As autoridades européias perceberam que as sanções estavam servindo aos interesses de Haider, alimentando um incipiente sentimento antieuropeu. Afinal, Haider é um dos maiores detratores da UE na Áustria", disse Anne-Marie Le Gloannec, do Centro Marc Bloch (Berlim).
Ademais, Bruxelas sabia que Viena poderia bloquear o funcionamento das instituições européias ao impor vetos retaliatórios consecutivos em várias delas.
Todavia o que realmente fez ruir a intenção da UE de punir os Estados em que extremistas (de direita ou de esquerda) chegassem ao poder foi o cotidiano da administração austríaca, pois as medidas por ela tomadas pouco tinham de radicais.
"Levou algum tempo, mas Bruxelas percebeu que, no início do governo, o FPÖ era muito mais pragmático do que radical. Na verdade, com isso, as autoridades européias notaram que não valia a pena punir um país por conta da retórica radical de seus governantes", avaliou Fritz Windhager, da Universidade de Viena (Áustria).
"Desde o controverso caso austríaco, ficou claro, em Bruxelas, que um Estado só deveria ser objeto de sanções se seus dirigentes tomassem medidas extremistas, não se eles apenas expressassem a intenção de fazê-lo. Para qualquer partido, há uma grande diferença entre uma campanha eleitoral e a prática administrativa. No caso da extrema direita, essa constatação é ainda mais verdadeira."
Desde então, alguns países europeus de peso, como Itália e Holanda, tiveram (ou ainda têm) a extrema direita em suas coalizões governamentais, mas nenhum deles foi alvo de sanções. (MSM)


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