São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2007

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Líbano mergulha no caos institucional

Presidente que deixou o poder às 24h declara "estado de emergência", que o premiê rejeita em meio à crise de sucessão

Presidente Lahoud, aliado da Síria, ainda quis entregar segurança ao Exército; EUA aceitam poderes do premiê com o comandante interino

DA REDAÇÃO

O Líbano mergulhou ontem à noite numa situação institucional caótica, quando o presidente Emile Lahoud, que deixou suas funções às 24h, com a expiração de seu mandato, afirmou que o país estava "em estado de emergência" e encarregou o Exército de cuidar da segurança interna.
O episódio completou uma sexta-feira politicamente confusa, já que o Parlamento não havia conseguido, pela quinta vez, eleger seu sucessor.
A declaração de Lahoud, apoiado pela Síria e pelo Irã, era bastante inusitada porque, pela Constituição, a decisão de decretar estado de emergência deve partir do primeiro-ministro, Fuad Siniora, apoiado pelos ocidentais e pela Arábia Saudita. O porta-voz do premiê retrucou de imediato que a decisão de Lahoud era ilegal e não teria nenhuma validade.
Mas assessores do presidente afirmaram que Siniora era o chefe de um governo "ilegítimo", e que os militares deveriam devolver a segurança libanesa apenas a um gabinete com legitimidade, quando este fosse escolhido.

Reação americana
Os Estados Unidos reagiram em pouco minutos. O porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, divulgou nota em que exorta os militares e os policiais libaneses a assegurar o Estado de Direito enquanto os políticos negociam uma solução para a crise.
McCormack não mencionou o "estado de emergência" citado pelo presidente. Disse apenas que, para não se instalar um vácuo de poder, "o governo libanês assumirá as responsabilidades executivas do presidente", até que o Parlamento indique um novo chefe de Estado.
Por fim, McCormack lançou um apelo para que o Parlamento continue tentando eleger um novo ocupante para a cadeira presidencial "sem interferências externas", menção à Síria.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, publicou curto comunicado em que "exorta todos os partidos a exercerem suas responsabilidades e a atuar dentro do quadro constitucional, agindo de maneira pacífica e democrática" para a eleição de um presidente "o mais rapidamente possível".
O premiê Siniora tem sofrido um longo processo de desgaste por parte do Hizbollah, grupo islâmico que deixou o governo e tenta derrubá-lo.
A declaração do presidente, que segundo assessores seus equivale à decretação do estado de emergência, consistiu em encarregar o Exército da "autoridade de manter a segurança no conjunto do território e de colocar todas as forças de segurança sob seu comando", segundo o porta-voz presidencial Rafic Chalala.
O "New York Times" informa que o Hizbollah, maior partido político da oposição, prometeu não promover manifestações contra o premiê no momento em que -era o que se esperava à tarde- ele assumisse interinamente as atribuições de Lahoud.
Nawar al Sahili, deputado do grupo islâmico, afirmou que "para nós não existe agora mais governo", mas que não há planos de radicalização, já que dentro de uma semana o Parlamento se reuniria novamente.
O presidente do Legislativo, Nabih Berri, afirmou no final da tarde que os grupos em conflito teriam até a outra sexta-feira para chegar a um acordo.
Ainda para o "New York Times", o atual impasse favorece a Síria, que por sua vez pode pressionar seus aliados caso os Estados Unidos reconheçam seu papel na conferência sobre o Oriente Médio, que se instala na próxima terça-feira em Annapolis, Estado de Maryland.
"Os sírios estão esperando para ver", disse Samir Frangieh, deputado da coalizão governista. "Nós queremos o consenso e continuaremos trabalhando pelo consenso", disse o líder oposicionista Saad Hariri, favorito como próximo premiê.


Com agências internacionais


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