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"Sofri tortura branca no Irã", diz jornalista
Em debate na Folha, iraniano-americana Roxana Saberi, 33, relatou pressões para confessar ser espiã dos EUA
Segundo a jornalista, restrições começaram a aumentar com a eleição de Ahmadinejad para a Presidência, em 2005
DE SÃO PAULO
A jornalista iraniano-americana Roxana Saberi, 33,
presa por cerca de cem dias
pelo Irã no ano passado, disse que sofreu "tortura branca" para assinar confissão de
que espionava para os EUA.
Ela afirmou ter sido submetida a isolamento, intimidação e ameaças para admitir culpa. Na sala de interrogatório da prisão de Evin, onde ficou, as paredes eram revestidas para que os presos
pudessem ser atirados contra
ela sem ficarem marcados.
Saberi participou de debate anteontem na Folha mediado pela repórter especial
Claudia Antunes e que teve a
participação de Raul Juste
Lores, editor de Mercado, e
de Iradj Roberto Eghrari, ativista de direitos humanos.
A jornalista, que chegou a
ser condenada a oito anos de
prisão, mas foi solta após intensa pressão internacional,
veio para o Brasil para lançar
seu livro "Entre Dois Mundos" (editora Larousse), no
qual relata a sua história.
A ex-miss Dakota do Norte
é nascida nos EUA e filha de
pai iraniano e mãe japonesa,
com mestrado em jornalismo
e relações internacionais. Foi
morar no Irã em 2003, onde
esteve até o ano passado.
IDA PARA O IRÃ
Quando cresci, comecei a
me interessar mais pelo país
do meu pai. Eu não falava
farsi, não conhecia a cultura
iraniana e estudava para ser
jornalista. Então decidi descobrir que oportunidades haveria para mim no Irã.
Em 2003, me mudei para o
Irã para trabalhar como correspondente de diversos veículos estrangeiros, entre os
quais a [TV britânica] BBC e a
rádio pública americana.
Conheci muitas pessoas,
viajei muito e vi regiões bastante ricas e outras muito pobres, como a fronteira entre
Paquistão e Afeganistão, que
é rota de tráfico de drogas.
MAIS RESTRIÇÕES
Em 2005, quando [o ex-presidente Mohammad] Khatami saiu e o presidente Mahmoud Ahmadinejad foi eleito, começou a haver mais restrições e já não tinha tanta liberdade para eu trabalhar.
Então pensei que talvez
fosse uma oportunidade para escrever um livro sobre o
Irã. Comecei a entrevistar as
pessoas. Minha ideia era que
os estrangeiros vissem o Irã
além de manchetes de jornal.
PRISÃO
Em 2009, eu estava pronta
para sair do país e partir para
o próximo capítulo da minha
vida quando tudo mudou. O
meu mundo virou de cabeça
pra baixo. Quatro homens foram até a minha casa. Eles
eram agentes de inteligência.
Me prenderam e diziam
que o livro que eu estava escrevendo sobre o Irã era um
disfarce para a espionagem
dos EUA. Disseram que eu
era uma espiã, que não tinha
nenhuma forma de entrevistar tanta gente para um livro.
"Não, não sou espiã. Eu estava escrevendo um livro, e
no computador você vai ver
que estou usando essas entrevistas para o livro", disse.
Ele falou: "Você não está
cooperando, o que é muito
ruim. Vamos ter de levá-la
para a prisão". Fui para a prisão de Evin, onde estavam
muitos jornalistas, blogueiros, ativistas e ainda figuras
da oposição e reformistas.
CONFISSÃO
Fui vendada até ser levada
a esse lugar. Não sabia que a
seção era chamada de 209,
destinada a presos políticos.
No dia seguinte, tive de
passar por interrogatórios.
Tive de seguir os sapatos de
um interrogador, caso contrário eu poderia cair. Ele então me levou para uma sala.
Quando levantei a cabeça,
vi que a parede estava coberta, para que os interrogadores batessem a cabeça [dos
presos] contra a parede. Para
doer, mas não causar dano irreparável. É coberta por couro, mas dava pra ouvir os prisioneiros gritando e chorando. Eu ouvia outros presos.
Então cedi à pressão. Deveria ser forte e corajosa, porém estava com medo. O medo tomou conta de mim. Foi o
meu principal sentimento.
ATENÇÃO EXTERNA
Tive sorte porque havia canais iranianos nos EUA que
começaram a falar de minha
história. Os oficiais iranianos
são muitos sensíveis a isso.
Também tive sorte, porque
pessoas comuns, não só nos
EUA mas também no Japão e
na União Europeia, pressionaram o Irã. Vi como é importante atenção internacional.
Essa pressão levou à
libertação [após cem dias].
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