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SOB NOVA DIREÇÃO / GUERRA SEM FIM
Presidente recalibra discurso sobre retirada total do Iraque
Após posse, prazo de 16 meses anunciado em campanha some da fala de Obama
Embaixador Crocker, de saída do país, alertou para "sérios riscos" de volta da insurgência caso os EUA saiam de forma precipitada
DE WASHINGTON
Horas depois de Barack Obama nomear o veterano diplomata Richard Holbrooke para
ser o enviado especial do governo norte-americano ao Afeganistão e ao Paquistão e "avançar a diplomacia naquela região", um ataque atribuído aos
EUA matou 15 pessoas na fronteira entre os países.
O alvo original era a casa de
um comandante do Taleban no
Waziristão do Sul, conhecido
por ser um reduto da milícia
que governava o Afeganistão
até 2001, mas o míssil teria
atingido a residência de um líder tribal que colaborava com o
governo paquistanês. Ele e quatro membros de sua família teriam morrido no ataque.
Em tempo recorde, o novo
presidente viu seu discurso pacifista e conciliatório ser confrontado pela realidade das
ações militares do país que comanda. O ataque não pode ter
ocorrido sem seu aval, já que
desde antes de assumir o democrata recebe relatórios diários de toda atividade militar
levada a cabo em diversos pontos do mundo e, desde terça,
tem a palavra final sobre elas.
A mesma discrepância deve
ocorrer em relação ao Iraque. A
retirada do país em até 16 meses após a posse foi um dos pontos principais da plataforma do
candidato. Na quarta-feira,
após sua primeira reunião com
o alto comando do Pentágono,
incluindo os militares em campo naquela região, Obama voltaria a recalibrar sua retórica.
Na saída do encontro, soltou
declaração em que dizia que pediu a sua equipe que "se engajasse em planejamento adicional necessário para executar
uma redução militar responsável do Iraque". Sumiram do discurso os 16 meses. Relatos posteriores da reunião dão conta
de que os militares desaconselharam o presidente a se prender numa data.
Alerta
Em entrevistas dadas nos últimos dias, Ryan Crocker, que
está deixando o cargo de embaixador americano no país e
que participou da reunião com
Obama, foi mais explícito. Há
"sérios riscos" de uma volta da
insurgência se os EUA saírem
do Iraque precipitadamente,
disse o diplomata apontado por
George W. Bush.
Para ele, a perda de confiança
da população local teria um
"efeito devastador". "Não estou
dizendo que vá acontecer, mas
há o risco de que ocorra", afirmou. Há hoje 142 mil soldados
norte-americanos no país, número alcançado depois da escalada ordenada por Bush em
2006. Muitos atribuem a atual
situação de estabilidade a esse
aumento das tropas.
Outros dizem que ela veio
por conta de uma aliança entre
lideranças sunitas contra militantes da organização terrorista Al Qaeda. Em público, a proposta de retirada de Obama
tem apoio do general Ray
Odierno, o mais graduado comandante militar na região, para quem a realização de eleições iraquianas pacíficas neste
ano seria a prova definitiva de
que a saída é possível.
O Iraque vai às urnas para
pleitos nas Províncias no dia 31
de janeiro e faz eleições nacionais no fim do ano. A promessa
de Obama era deixar tropas residuais no país, sem data de saída, e remanejar 30 mil soldados
para o Afeganistão, onde ele
acredita estar o verdadeiro centro da chamada "guerra ao terror". O resto viria para casa.
No dia seguinte à reunião de
quarta, sua proposta ganhou o
apoio público do comandante
dos fuzileiros navais. "A hora é
essa para os marines deixarem
o Iraque", disse o general James Conway. Há hoje 22 mil fuzileiros no país.
(SÉRGIO DÁVILA)
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