São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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SOB NOVA DIREÇÃO / GUERRA SEM FIM

Presidente recalibra discurso sobre retirada total do Iraque

Após posse, prazo de 16 meses anunciado em campanha some da fala de Obama

Embaixador Crocker, de saída do país, alertou para "sérios riscos" de volta da insurgência caso os EUA saiam de forma precipitada

DE WASHINGTON

Horas depois de Barack Obama nomear o veterano diplomata Richard Holbrooke para ser o enviado especial do governo norte-americano ao Afeganistão e ao Paquistão e "avançar a diplomacia naquela região", um ataque atribuído aos EUA matou 15 pessoas na fronteira entre os países.
O alvo original era a casa de um comandante do Taleban no Waziristão do Sul, conhecido por ser um reduto da milícia que governava o Afeganistão até 2001, mas o míssil teria atingido a residência de um líder tribal que colaborava com o governo paquistanês. Ele e quatro membros de sua família teriam morrido no ataque.
Em tempo recorde, o novo presidente viu seu discurso pacifista e conciliatório ser confrontado pela realidade das ações militares do país que comanda. O ataque não pode ter ocorrido sem seu aval, já que desde antes de assumir o democrata recebe relatórios diários de toda atividade militar levada a cabo em diversos pontos do mundo e, desde terça, tem a palavra final sobre elas.
A mesma discrepância deve ocorrer em relação ao Iraque. A retirada do país em até 16 meses após a posse foi um dos pontos principais da plataforma do candidato. Na quarta-feira, após sua primeira reunião com o alto comando do Pentágono, incluindo os militares em campo naquela região, Obama voltaria a recalibrar sua retórica.
Na saída do encontro, soltou declaração em que dizia que pediu a sua equipe que "se engajasse em planejamento adicional necessário para executar uma redução militar responsável do Iraque". Sumiram do discurso os 16 meses. Relatos posteriores da reunião dão conta de que os militares desaconselharam o presidente a se prender numa data.

Alerta
Em entrevistas dadas nos últimos dias, Ryan Crocker, que está deixando o cargo de embaixador americano no país e que participou da reunião com Obama, foi mais explícito. Há "sérios riscos" de uma volta da insurgência se os EUA saírem do Iraque precipitadamente, disse o diplomata apontado por George W. Bush.
Para ele, a perda de confiança da população local teria um "efeito devastador". "Não estou dizendo que vá acontecer, mas há o risco de que ocorra", afirmou. Há hoje 142 mil soldados norte-americanos no país, número alcançado depois da escalada ordenada por Bush em 2006. Muitos atribuem a atual situação de estabilidade a esse aumento das tropas.
Outros dizem que ela veio por conta de uma aliança entre lideranças sunitas contra militantes da organização terrorista Al Qaeda. Em público, a proposta de retirada de Obama tem apoio do general Ray Odierno, o mais graduado comandante militar na região, para quem a realização de eleições iraquianas pacíficas neste ano seria a prova definitiva de que a saída é possível.
O Iraque vai às urnas para pleitos nas Províncias no dia 31 de janeiro e faz eleições nacionais no fim do ano. A promessa de Obama era deixar tropas residuais no país, sem data de saída, e remanejar 30 mil soldados para o Afeganistão, onde ele acredita estar o verdadeiro centro da chamada "guerra ao terror". O resto viria para casa.
No dia seguinte à reunião de quarta, sua proposta ganhou o apoio público do comandante dos fuzileiros navais. "A hora é essa para os marines deixarem o Iraque", disse o general James Conway. Há hoje 22 mil fuzileiros no país. (SÉRGIO DÁVILA)


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