São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Favela organiza brigadas de autodefesa

LUÍS KAWAGUTI
EM PORTO PRÍNCIPE

Moradores de Cité Soleil, favela de Porto Príncipe, se organizaram em brigadas de autodefesa para se protegerem de criminosos que fugiram da prisão após o terremoto do último dia 12. Dois líderes de gangues foram mortos e esquartejados a golpes de facão. A mutilação é parte da cultura vodu local.
"Eu não me preocupo com a segurança porque no meu bairro organizamos uma brigada para fazer a nossa própria segurança. Assim nos defendemos dos bandidos", disse Jean Claude Noel, 38, morador local.
As brigadas são formadas por homens e mulheres que não possuem armas de fogo, mas sim foices, martelos e facas. Eles querem se defender contra os 5.500 detentos que fugiram das cadeias haitianas, inutilizadas com o sismo, e que pretendam reorganizar suas gangues em bairros pobres.
A Minustah (missão de paz da ONU) debelou as últimas gangues e grupos armados que agiam na favela em maio de 2007. Os militares acreditam que, uma vez livres das gangues, os moradores não estão dispostos a acobertá-los ou mesmo tolerá-los novamente.
Um dos líderes de gangues mortos pela população é o criminoso conhecido como Blade.
"Os moradores contaram que um grupo de mulheres armadas com facões entraram na casa de um dos líderes de gangue e o mataram junto com toda a família. Elas picaram o corpo e jogaram em um rio em Ti-Haiti [parte de Cité Soleil]", disse a embaixatriz Rosena Kipman, que realiza trabalhos sociais na favela desde 2007.
"Não tenho mais medo dos bandidos de Cité Soleil porque eles são mortos se entram aqui. Já mataram dois", diz a moradora Lunie Marcelin, 57.

Vodu
Segundo Marcelin, a prática de esquartejar os corpos faz parte da cultura relativa ao vodu, não sendo necessariamente elemento da religião propriamente dita. Essa cultura diz que, se uma pessoa tem parte do corpo decepada, terá problemas físicos quando reencarnar.
Isso explica o fato de muitos haitianos queimarem os corpos dos parentes que tiveram membros decepados. Uma vez queimados, eles poderiam renascer sem problemas físicos. Aqueles considerados criminosos são esquartejados e apedrejados, para que suas almas não possam mais reencarnar.
Segundo o general Floriano Peixoto, comandante militar da Minustah, a situação de violência em Cité Soleil está controlada e não mudou após o sismo.


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