São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Alemanha diz que deu à CIA nome e telefone de seqüestrador de avião; comissão investiga possível falha

EUA não usaram pista alemã de 99 sobre o 11 de Setembro

DO "NEW YORK TIMES"

Autoridades dos EUA e da Alemanha revelaram que investigadores americanos receberam o primeiro nome e o número de telefone de um dos seqüestradores do 11 de Setembro dois anos e meio antes dos ataques, mas que, aparentemente, não investigaram a pista ativamente.
Primeira pista sabida que os EUA receberam sobre um dos seqüestradores, a informação agora tornou-se um elemento importante da investigação conduzida por uma comissão independente sobre os acontecimentos do 11 de Setembro. Ela é vista como especialmente significativa porque pode ter representado uma oportunidade perdida para as autoridades americanas penetrarem na célula terrorista na Alemanha que esteve no cerne da ação. E ela surgiu mais ou menos 16 meses antes de o seqüestrador matricular-se em escolas de vôo nos EUA.
Em março de 1999, agentes de inteligência alemães entregaram à CIA (agência de inteligência dos EUA) o primeiro nome e o telefone de Marwan al Shehhi e pediram aos americanos que o rastreassem. O nome e o telefone nos Emirados Árabes Unidos tinham sido obtidos pelo grampeamento do telefone de Mohamed Heidar Zammar, um extremista islâmico de Hamburgo que teve ligação estreita com os principais planejadores dos ataques contra o World Trade Center e o Pentágono, disseram representantes alemães.
Depois que os alemães passaram a informação à CIA, nunca mais ouviram qualquer coisa dos americanos sobre o assunto até depois de 11 de setembro de 2001, disse um alto oficial da inteligência alemã. Depois de receber a pista, a CIA decidiu que Marwan deveria ter ligações com o chefe da Al Qaeda, Osama bin Laden, mas nunca chegou a localizá-lo, disseram autoridades americanas.
A informação relativa a Shehhi, o homem que assumiu os controles do avião do vôo 175 da United Airlines, que se chocou contra a torre sul do World Trade Center, chegou meses antes de outras pistas bem documentadas sobre outros seqüestradores.
Philip Zelikow, diretor-executivo da comissão independente criada nos EUA para investigar os ataques terroristas, disse que a comissão foi informada da pista de 1999 sobre Shehhi e está investigando a questão. Agentes de inteligência americanos e outros envolvidos dizem não saber ao certo se o telefone de Shehhi chegou a ser monitorado.
Um agente americano comentou: "Os alemães nos deram o nome "Marwan" e um número de telefone, mas não descobrimos nada. Era um telefone nos Emirados Árabes Unidos, que não constava da lista telefônica".
O incidente é especialmente importante porque Shehhi era membro essencial da célula da Al Qaeda de Hamburgo, que esteve no centro da conspiração para o 11 de Setembro. Se Shehhi tivesse sido vigiado de perto em 1999, poderia ter conduzido os investigadores a outros líderes da conspiração, como Mohammed Atta, colega de quarto de Shehhi. Natural dos Emirados Árabes, Shehhi mudou-se para a Alemanha em 1996, onde foi companheiro quase inseparável de Atta. Autoridades americanas e européias crêem que Shehhi tenha desempenhado papel crítico na conspiração.
"A célula de Hamburgo é muito importante" para a investigação dos ataques, disse Zelikow. Indagado se as autoridades de inteligência americanas deram atenção suficiente às informações sobre Shehhi, respondeu: "Ainda não concluímos nada sobre isso".
Desde o 11 de Setembro, a CIA, o FBI e outros órgãos do governo americano vêm sendo fortemente criticados por não terem juntado as informações fragmentárias que recebiam de várias fontes, de modo a prever ou a prevenir a conspiração terrorista. O inquérito parlamentar conjunto sobre os ataques concluiu em 2002 que as autoridades americanas "deixaram passar oportunidades de obstruir a conspiração, detendo os candidatos a seqüestradores ou impedindo-os de entrar no país; ou, pelo menos, de elucidar a conspiração com a ajuda de vigilância e trabalho investigativo nos EUA e, finalmente, de gerar um estado de alerta intensificado, fortalecendo as defesas nacionais".
Até agora, o fracasso mais largamente analisado diz respeito ao tratamento dado pela CIA a uma reunião de extremistas que teve lugar na Malásia, em janeiro de 2000, envolvendo dois dos homens que iriam tornar-se seqüestradores, Khalid al Midhar e Nawaq Alhazmi. Embora a CIA tenha identificado os dois como suspeitos extremistas, apenas em agosto de 2001 ela pediu que seus nomes fossem incluídos nas listas de suspeitos do governo, cuja entrada no país não deveria ser permitida. Naquele momento, ambos já estavam nos EUA.
Além disso, o dono da casa onde os dois moraram, em San Diego, era informante do FBI, mas ele nada falou dos terroristas.


Texto Anterior: EUA: Bush pede emenda para banir casamento gay
Próximo Texto: Guantánamo define seu 1º julgamento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.