São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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Ilha privilegiou "velha-guarda" para controlar expectativas

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Se a confirmação de Raúl Castro no posto máximo em Cuba era esperada, para analistas da ilha a promoção de José Ramón Machado Ventura, 77, ao posto de número 2 em certa medida surpreende e aponta uma estratégia do regime de tentar mostrar que estará a cargo do "grupo histórico" ou dos "barbudos" administrar o ritmo das reformas, principalmente econômicas, no país.
A escolha de ontem mudou o número mínimo de posições no tabuleiro, de modo a contribuir para o controle de expectativas em relação ao governo Raúl -nesse jogo, é o discurso do empossado ontem que concentra os sinais de onde e quando as mudanças se darão.
"O que importa para o bem-estar do povo cubano, e para a dinâmica política da ilha neste ano, são ações e resultados. O governo, sob Raúl, gastou o último um ano e meio diagnosticando problemas econômicos, avaliando idéias de novas políticas públicas, e alimentando expectativas sobre mudanças econômicas. Neste ano, o governo vai entregar o que prometeu ou decepcionar", escreveu à Folha, Phil Peters, especialista do Lexington Institute.
Ramón Machado Ventura era um dos cinco vice-presidentes do Conselho de Estado e responsável pela organização do Partido Comunista. É o homem a quem Fidel Castro confiou em 2006, quando adoeceu, a co-direção do programa de educação do país, tarefa cara no programa fidelista de formação "ideológica-revolucionária" dos jovens.
"Por sua reputação, poderia se esperar dele oposição à abertura econômica. Por outro lado, se reformas já estão sendo preparadas e ele está a favor, a eleição é um sinal de consenso, através de gerações e tendências ideológicas. Como se diz no mercado, lucros no passado não são garantia da performance futura", continua Peters.
Jon Lee Anderson, jornalista da "New Yorker" que trabalha em livro sobre a ilha, concorda. "É menos um alerta de que reformas não vão acontecer do que um movimento para ressaltar que a revolução segue nas mãos do barbudos e que aberturas/reformas serão cuidadosamente gerenciadas", escreveu à Folha.
O regime, diz ele, pode ter evitado a escolha de nomes como Carlos Lage, amplamente citado para ser o número 2, para afastar a percepção de mudanças mais bruscas "que uma transferência súbita do poder aos "jovens'" poderia trazer.
Para Samuel Farber, cubano professor aposentado da Universidade da Cidade de Nova York, o que há de definitivo é que as escolhas de ontem são solução de curto prazo: "A dupla Raúl e Machado Ventura, pela idade, é, necessariamente uma formação transitória".

Estilo Raúl e defesa
Em seu discurso ontem, Raúl Castro reforçou a imagem de menos concentrador e falante do que Fidel e reformador moderado -ao menos na economia e a respeito do "excesso de regulamentações"- que vem cultivando em 19 meses de governo interino. No ano passado, o novo líder da ilha fez um chamado interno ao debate "sincero" sobre os problemas de Cuba. Mas ainda se discute os limites dessa iniciativa.
Na economia, a ênfase do governo interino foi o desabastecimento de alimentos. Uma das metas de Raúl é dinamizar a produção das empresas estatais -as mais rentáveis e promissoras estão nas mãos de militares da confiança de Raúl, como Julio Casas Regueiro, 72.
Não por acaso, Regueiro foi um dos poucos a se mover no tabuleiro ontem: virou um dos cinco vice-presidentes do Conselho de Estado e foi nomeado ministro da Defesa, função antes acumulada pelo novo comandante.


Colaborou LUCIANA COELHO


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