São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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Putin dispensa propaganda de sucessor

Com eleição de seu escolhido virtualmente assegurada, presidente apela para que russos votem no domingo

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

A uma semana da eleição para presidente da segunda potência nuclear do mundo, o "candidato" mais visível nas ruas de Moscou é o apelo do governo de Vladimir Putin para que os eleitores compareçam às urnas no próximo domingo.
Placas, outdoors, inéditas propagandas dentro do metrô e até nos bilhetes para entrar nas estações, é tudo uniforme: "2 de março - Eleição presidencial - Federação Russa", sobre a bandeira e o brasão russos.
Onde está Dmitri Medvedev, o escolhido por Putin para sucedê-lo e virtual presidente eleito, segundo pesquisas, analistas e adversários? Em um ou outro outdoor nas avenidas que circundam o centro moscovita, acompanhado por ainda menos freqüentes Vladimir Jirinovski (Partido Liberal Democrático) e Gennadi Ziuganov (o eterno líder do Partido Comunista pós-soviético).
"Repare como Putin está sempre ao lado de Medvedev", aponta a garçonete Misha, que trabalha numa espécie de cartão-postal da transição russa, a Starlight Diner -em sua filial, perto da praça Kalujskaia, é possível ver uma enorme estátua de Lênin de dentro de um típico restaurante americano.
Fato: Medvedev está sempre ao lado do mentor e, ao que tudo indica, futuro primeiro-ministro russo. A sinergia, digamos assim, é tão grande que, se não fosse pelo esquema de cores, seriam quase indistingüíveis os site das campanhas de Putin em 2004 (www.putin2004.ru) e do atual vice-primeiro-ministro (www.medvedev2008.ru).

Legitimação
As últimas pesquisas dão o candidato do partido pró-Kremlin Rússia Unida com algo por volta de 70% das intenções de voto, contra distantes 15% dos comunistas.
Por isso, a intensa campanha pelo comparecimento é vista como uma forma de o Kremlin legitimar a "unção" do jovem Medvedev, um fã de rock pesado de 42 anos. A meta decantada por analistas em jornais é a de repetir o comparecimento da eleição parlamentar de dezembro passado, de 64%.
Como o voto não é obrigatório no país, há o temor de que uma baixa presença seja prejudicial ao possível novo presidente, que nunca foi eleito para nenhum cargo.
Medvedev tem tido encontros de campanha pelas regiões russas. Na capital, anteontem, a Folha esbarrou em duas pequenas marchas, uma feita por Jirinovski perto da estação Pushkinskaia, no centro da cidade, e outra de comunistas em torno da estátua do poeta revolucionário Vladimir Maiakovski, um quarteirão acima.
"Voto no Ziuganov porque ele vai acabar com essa coisa de ricos andando como se fossem melhores que os outros", disse uma eleitora quase arquetípica, Svletana Norodova, septuagenária e pensionista.
Na marcha do ultranacionalista Jirinovski, com a fugaz presença do próprio, alguns jovens falavam da questão de Kosovo. "Tínhamos que fazer algo", afirmou
O reconhecimento da independência da ex-Província sérvia é um dos temas prediletos dos políticos russos, que não perdem uma chance para usar a retórica pan-eslava que não parece ter muito lugar no século 21, mas é tão popular quanto os discursos anti-Ocidente.
Ontem foi a vez da Chancelaria da Rússia. "O apoio a um lado albanês de Kosovo, indiferença ao destino de 100 mil sérvios que estão sendo na verdade enviados a um gueto no século 21, isso é puro cinismo", disse uma nota, em referência à posição norte-americana.
O chanceler Serguei Lavrov, junto com Medvedev, chega hoje à Sérvia.


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