São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011 |
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ANÁLISE Vácuo prolongado de poder é cenário mais preocupante FÁBIO ZANINI EDITOR DE MUNDO Entre os cenários para o futuro da Líbia, um amedronta especialmente: um vácuo de poder prolongado, em que diversos grupos disputam o espólio do Estado após a queda do homem forte. O modelo para essa situação é a Somália, no leste da África. Os dois países têm situação socioeconômica bastante diferente -a Líbia com alto índice de desenvolvimento humano, a Somália tão desorganizada que não tem nem estatísticas oficiais. Há, no entanto, sinais inquietantes de similitude. A começar pela história. Em 1969, dois golpes em diferentes cantos da África levaram ao poder militares com retórica socialista -o general Siad Barre na Somália, o coronel Muammar Gaddafi na Líbia. Ambos adotaram a mão pesada contra opositores e líderes religiosos. Barre foi derrubado em 1991, e o país mergulhou no caos. Gaddafi tenta evitar o mesmo destino. Há outras semelhanças. Líbia e Somália são exceções africanas, por não terem sua vida política e social definida por rivalidades étnicas. A Líbia é praticamente toda árabe, na língua e nos costumes. Mesmo os povos nômades que ali estavam antes do século 8, quando o islã chegou, estão adaptados a essa circunstância. Já a Somália deriva seu nome de uma etnia -os somalis- que domina o território. O contraste com países como Nigéria e República Democrática do Congo (cada um com 250 grupos étnicos) não poderia ser maior. Na África, rivalidades étnicas são o combustível para genocídios, como mostra o exemplo de Ruanda em 1994, com seu 1 milhão de mortos. Mas homogeneidade étnica não significa paz social. Em alguns casos, pode prolongar situações de conflito, como a Somália nos ensina. Há 20 anos, o país do leste africano é o único do mundo sem governo. Há uma infinidade de grupelhos armados disputando terras férteis, rotas de contrabando e a lucrativa pirataria em alto-mar. Numa disputa étnica, pelo menos há um rótulo a organizar os lados. Em Ruanda, sabíamos que eram hutus massacrando tutsis, num conflito intenso, mas com desfecho. Na Somália, o caos deriva de uma grande briga de família -rancorosa, interminável. Rancor que, de forma preocupante, já pode ser visto no sangrento conflito líbio. Texto Anterior: Onda de revoltas: Queda de ditador fortaleceria tribos líbias Próximo Texto: Influência de internet no Egito é exagerada, diz analista Índice | Comunicar Erros |
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