São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

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ONDA DE REVOLTAS

Crise já ameaça maior superavit do Brasil

Saldo comercial brasileiro com países árabes é superior ao acumulado com China, União Europeia ou Mercosul

Já há desaceleração em embarques de carne bovina e frango, mas no médio prazo empresas esperam recuperação

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

A crise nos países árabes ameaça o comércio em uma região que responde por 35% do superavit brasileiro. Os países árabes e o Irã são responsáveis pelo maior superavit comercial do Brasil hoje em dia, de US$ 7,169 bilhões.
Trata-se de um saldo maior do que o acumulado com a China (US$ 5,2 bilhões), o Mercosul (US$ 5,9 bilhões) ou a União Europeia (US$ 4 bilhões).
Alguns exportadores estão adiando embarques de carne bovina e frango para a região por causa da dificuldade de transporte e do medo de descumprimento de contratos.
Segundo especialistas, isso pode afetar o resultado comercial brasileiro no curto prazo. O Brasil exporta minério de ferro, açúcar, carne bovina e de frango para esses países e importa deles petróleo e derivados.
"Isoladamente, esses países não são muito relevantes para o Brasil, mas em conjunto são a maior fonte de superavit para o país", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil). "No curto prazo, a crise pode reduzir nosso superavit, mas acredito que se recupere no médio prazo."
As operações estão paralisadas na Líbia e ainda não se normalizaram totalmente no Egito. Pode haver interrupções em outros países da região que são considerados de alto risco de turbulências: Iêmen, Bahrein e Síria estão na lista.
"Estamos fazendo avaliações diárias, contatos com os compradores e tiramos o pé do acelerador nos contratos do Egito", diz Antônio Camardelli, presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne). "Para a Líbia, não estamos embarcando nada."
O Egito é o terceiro maior mercado para carne bovina brasileira, a Arábia Saudita é o sétimo, a Argélia é o oitavo e a Líbia, o 14º.
"Como é tudo carne halal, preparada de acordo com preceitos islâmicos, podemos tentar redirecionar para outros países da região", afirma Camardelli.
Entre os países afetados por instabilidade, o Egito é o que mais preocupa o Brasil. No ano passado, o país exportou US$ 1,9 bilhão para o mercado egípcio. O superavit comercial chegou a US$ 1,8 bilhão em 2010.
Já o comércio com a Líbia é mais modesto -o Brasil exportou US$ 456,1 milhões em minério de ferro, carne e açúcar para o país no ano passado. As importações foram de US$ 100,8 milhões, sendo US$ 81 milhões em petróleo.
O maior parceiro comercial do Brasil na região é a Arábia Saudita, seguida de Emirados Árabes e Irã.
Para Roberto Giannetti, diretor de relações internacionais da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), como não se sabe quem irá assumir o poder no Egito, na Líbia e em outros países, existe uma insegurança em relação ao cumprimento dos contratos.
Segundo Francisco Turra, presidente-executivo da Ubabef (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango), os exportadores estão mais atentos e cautelosos, mas os negócios com a região estão pouco abaixo do normal.


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