São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE

Rebeliões no mundo árabe aumentam a influência do Irã e enervam sauditas


O IRÃ JÁ SE BENEFICIOU DA DERRUBADA OU DO ENFRAQUECIMENTO DE LÍDERES ÁRABES QUE ERAM SEUS ADVERSÁRIOS


MICHAEL SLACKMAN
DO "NEW YORK TIMES", NO BAHREIN

As revoltas populares que vêm abalando o mundo árabe começaram a causar uma mudança no balanço regional de poder, reforçando a posição do Irã e enervando sua rival, a Arábia Saudita, afirmaram especialistas.
Embora seja cedo para escrever o capítulo final dos levantes, o Irã já se beneficiou da derrubada ou do enfraquecimento de líderes árabes que eram seus adversários.
A Arábia Saudita, aliada dos EUA e nação sunita que luta contra o Irã xiita por influência na região, teve sua posição abalada.
O rei Abdullah sinalizou sua preocupação ao anunciar um aumento de US$ 10 bilhões nos gastos previdenciários, para ajudar os jovens do país a casar, comprar casas e abrir empresas, gesto interpretado como tentativa de evitar as inquietações que alimentaram protestos em toda a região.
Abdullah em seguida se reuniu com o rei do Bahrein, Hamad bin Isa al Khalifa, para discutir maneiras de controlar o levante da maioria xiita da população bareinita.
Os líderes sunitas sauditas e bareinitas acusam as parcelas xiitas de lealdade ao Irã. Para os xiitas, a acusação tem por objetivo fomentar as tensões sectárias e justificar a oposição das autoridades à democracia.
Os levantes foram impulsionados por preocupações internas. Mas já causaram abalos a um paradigma regional que envolvia um trio de Estados alinhados com o Ocidente e favoráveis ao diálogo com Israel e à contenção dos inimigos israelenses, como o Hamas e o Hizbollah.
As alas favoráveis a uma aproximação com Israel estão em frangalhos no Egito, na Jordânia e na Arábia Saudita. Hosni Mubarak foi forçado a renunciar ao poder no Egito; o rei Abdullah, da Jordânia, luta para controlar o descontentamento no país e só resta a Arábia Saudita para enfrentar os crescentes desafios ao seu papel regional.
"Creio que os sauditas estão preocupados por se verem cercados por Iraque, Síria, Líbano; o Iêmen é instável; a situação no Bahrein é muito incerta", disse Alireza Nader, especialista da RAND Corp. "Eles se preocupam com a possibilidade de a região ser aberta à exploração pelo Irã. O Irã se provou muito capaz de tirar vantagens da instabilidade regional."
As circunstâncias no Irã podem mudar, acautelaram os especialistas, caso o país force demais sua vantagem ou os movimentos populares árabes se ressintam da influência iraniana na região.
E não está garantido que grupos favoráveis ao Irã venham a dominar a situação política no Egito, na Tunísia ou em outros países.
Por enquanto, Irã e Síria têm posições reforçadas. Qatar e Omã estão se aproximando do Irã, e a influência sobre Egito, Tunísia, Bahrein e Iêmen está em disputa.
"O Irã é o grande vitorioso nisso", disse um assessor do governo dos EUA, que falou sob condição de anonimato.
Os EUA também podem enfrentar desafios ao promover seus argumentos contra o programa nuclear iraniano.
"Os acontecimentos recentes também serviram para desviar a atenção do programa nuclear iraniano e podem tornar ainda mais difícil a criação de um consenso regional e internacional sobre as sanções", disse Nader.


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