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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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ATAQUE DO IMPÉRIO

MOMENTO DE DECISÃO

Forças anglo-americanas chegam a 100 km da capital e enfrentam forte resistência

Na TV, Saddam promete "vitória breve"

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

Com a coalizão anglo-americana se aproximando de Bagdá, a TV iraquiana exibiu imagens de Saddam Hussein explicando sua tática militar e prometendo uma "vitória breve" na guerra que batizou de "Dias Decisivos".
As forças anglo-americanas estariam já a 100 km da capital iraquiana. O avanço rumo a Bagdá está enfrentando forte resistência, causando baixas na coalizão nas e forçando os EUA a repensarem sua estratégia militar.
Em Bagdá, antes de Saddam aparecer na TV, o ministro da Informação havia dito que o conflito seria "longo e sujo", em contraposição ao combate "curto e limpo" esperado pela coalizão. A aparição de Saddam serviu para tranquilizar o público interno quanto ao comando do governo.

Detalhes
Pela primeira vez desde o início da guerra, Saddam deu detalhes de seu plano de combate: ele aposta que no enfrentamento em solo o Exército iraquiano irá se sobrepor às forças da coalizão.
"Os americanos e os britânicos estão evitando encontrar o povo iraquiano face a face... Todas as vezes que os inimigos foram derrotados em terra eles aumentaram os bombardeios. Sejam pacientes", disse Saddam.
"Ataquem até que eles cheguem à conclusão de que não estão em posição de cometer crimes contra vocês", continuou, lendo de um maço de papéis. "Deus ordenou que vocês cortem a garganta deles." Ele pediu ainda paciência às populações de Bagdá e Basra e afirmou que a vitória virá "em breve".
Saddam terminou o discurso louvando o "Estado palestino" e chamando o Iraque de "o país da jihad", a "guerra santa" do islamismo.

Bagdá pára
Bagdá parou para ouvir o discurso. Ele falou sentado e parecia mais abatido e de voz mais cansada do que de costume. Falou por 22 minutos e mencionou batalhas recentes que descartam a hipótese de um depoimento pré-gravado.
Especulações em torno de Saddam pululam desde o início da guerra, que começou com ataques aéreos a Bagdá que tinham como objetivo matá-lo.
Rumores davam conta de que ele havia sido ferido, teve de ser carregado para fora de um de seus palácios de ambulância e teria recebido transfusão de sangue.
Ontem, o líder iraquiano apareceria mais uma vez na TV local, dessa vez ao lado do filho Qusay, sorrindo e em uniforme militar em uma reunião com o líder regional de Basra do Partido Baath, no governo.
Antes, Mohammed Said Al-Sahaf, o ministro da Informação, havia desdenhado as reclamações dos EUA e do Reino Unido de que a exibição pela TV estatal iraquiana dos prisioneiros de guerra norte-americanos anteontem feriria a Convenção de Genebra. "Nós não mostramos ninguém, a TV os procurou e eles aceitaram dar entrevista", afirmou. A TV é rigidamente controlada pelo governo.
"Além disso, os EUA bombardeiam alvos civis diariamente aqui. Isso não contraria Genebra?" Mais tarde, a TV iraquiana mostrou o que alegou serem dois pilotos capturados na tarde de ontem. Eles fariam parte de dois helicópteros Apache dos EUA abatidos pelo Iraque.
O locutor da TV disse que um fazendeiro, "o heróico Ali Obeid-Migash... derrubou o Apache com seu rifle".

Ataques constantes
Durante o dia inteiro de ontem, Bagdá continuou sendo bombardeada incessantemente. Os ataques contra a capital abriram a guerra, na madrugada de quinta-feira (noite de quarta-feira no Brasil), e não pararam.
Ontem, os sobrevôos dos B-52s norte-americanos eram seguidos por explosões que tinham intervalos tão curtos quanto 15 minutos e lembravam trovões, o que casava com o céu cada vez mais escuro do petróleo queimado pelos iraquianos.
Mísseis, foguetes e bombas despejados sobre a capital do país já são contados aos milhares e atingiram nas últimas horas, entre outros alvos, um prédio da Força Aérea iraquiana e de novo o principal palácio de Saddam Hussein.
O local seria o equivalente iraquiano à Casa Branca e sofre ataque pela terceira vez em cinco dias. A constância indica que, mais do que os ocupantes, é o símbolo que a coalizão busca destruir.
O problema é que os alvos civis continuam se multiplicando. A Folha apurou que ontem uma escola secundária foi bombardeada, um dia depois da Universidade Al Mustansyria, medieval, ter o mesmo destino. Tais erros complicam a pretensão dos EUA de conquistar a simpatia da população bagdali para sua causa.

Outros alvos
Outros alvos atingidos nas últimas horas incluem outro símbolo do regime atual: a temida sede da Diretoria de Segurança Geral, um dos lugares que os iraquianos em Bagdá temem até dizer o nome. É ali que funcionariam as principais salas de interrogatório de dissidentes do governo: sobreviventes contam histórias de horrores.


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