|
Próximo Texto | Índice
ATAQUE DO IMPÉRIO
MOMENTO DE DECISÃO
Forças anglo-americanas chegam a 100 km da capital e enfrentam forte resistência
Na TV, Saddam promete "vitória breve"
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ
Com a coalizão anglo-americana se aproximando de Bagdá, a
TV iraquiana exibiu imagens de
Saddam Hussein explicando sua
tática militar e prometendo uma
"vitória breve" na guerra que batizou de "Dias Decisivos".
As forças anglo-americanas estariam já a 100 km da capital iraquiana. O avanço rumo a Bagdá
está enfrentando forte resistência,
causando baixas na coalizão nas e
forçando os EUA a repensarem
sua estratégia militar.
Em Bagdá, antes de Saddam
aparecer na TV, o ministro da Informação havia dito que o conflito seria "longo e sujo", em contraposição ao combate "curto e limpo" esperado pela coalizão. A
aparição de Saddam serviu para
tranquilizar o público interno
quanto ao comando do governo.
Detalhes
Pela primeira vez desde o início
da guerra, Saddam deu detalhes
de seu plano de combate: ele
aposta que no enfrentamento em
solo o Exército iraquiano irá se sobrepor às forças da coalizão.
"Os americanos e os britânicos
estão evitando encontrar o povo
iraquiano face a face... Todas as
vezes que os inimigos foram derrotados em terra eles aumentaram os bombardeios. Sejam pacientes", disse Saddam.
"Ataquem até que eles cheguem
à conclusão de que não estão em
posição de cometer crimes contra
vocês", continuou, lendo de um
maço de papéis. "Deus ordenou
que vocês cortem a garganta deles." Ele pediu ainda paciência às
populações de Bagdá e Basra e
afirmou que a vitória virá "em
breve".
Saddam terminou o discurso
louvando o "Estado palestino" e
chamando o Iraque de "o país da
jihad", a "guerra santa" do islamismo.
Bagdá pára
Bagdá parou para ouvir o discurso. Ele falou sentado e parecia
mais abatido e de voz mais cansada do que de costume. Falou por
22 minutos e mencionou batalhas
recentes que descartam a hipótese
de um depoimento pré-gravado.
Especulações em torno de Saddam pululam desde o início da
guerra, que começou com ataques aéreos a Bagdá que tinham
como objetivo matá-lo.
Rumores davam conta de que
ele havia sido ferido, teve de ser
carregado para fora de um de seus
palácios de ambulância e teria recebido transfusão de sangue.
Ontem, o líder iraquiano apareceria mais uma vez na TV local,
dessa vez ao lado do filho Qusay,
sorrindo e em uniforme militar
em uma reunião com o líder regional de Basra do Partido Baath,
no governo.
Antes, Mohammed Said Al-Sahaf, o ministro da Informação,
havia desdenhado as reclamações
dos EUA e do Reino Unido de que
a exibição pela TV estatal iraquiana dos prisioneiros de guerra norte-americanos anteontem feriria a
Convenção de Genebra. "Nós não
mostramos ninguém, a TV os
procurou e eles aceitaram dar entrevista", afirmou. A TV é rigidamente controlada pelo governo.
"Além disso, os EUA bombardeiam alvos civis diariamente
aqui. Isso não contraria Genebra?" Mais tarde, a TV iraquiana
mostrou o que alegou serem dois
pilotos capturados na tarde de
ontem. Eles fariam parte de dois
helicópteros Apache dos EUA
abatidos pelo Iraque.
O locutor da TV disse que um
fazendeiro, "o heróico Ali Obeid-Migash... derrubou o Apache com
seu rifle".
Ataques constantes
Durante o dia inteiro de ontem,
Bagdá continuou sendo bombardeada incessantemente. Os ataques contra a capital abriram a
guerra, na madrugada de quinta-feira (noite de quarta-feira no
Brasil), e não pararam.
Ontem, os sobrevôos dos B-52s
norte-americanos eram seguidos
por explosões que tinham intervalos tão curtos quanto 15 minutos e lembravam trovões, o que
casava com o céu cada vez mais
escuro do petróleo queimado pelos iraquianos.
Mísseis, foguetes e bombas despejados sobre a capital do país já
são contados aos milhares e atingiram nas últimas horas, entre
outros alvos, um prédio da Força
Aérea iraquiana e de novo o principal palácio de Saddam Hussein.
O local seria o equivalente iraquiano à Casa Branca e sofre ataque pela terceira vez em cinco
dias. A constância indica que,
mais do que os ocupantes, é o
símbolo que a coalizão busca destruir.
O problema é que os alvos civis
continuam se multiplicando. A
Folha apurou que ontem uma escola secundária foi bombardeada,
um dia depois da Universidade Al
Mustansyria, medieval, ter o mesmo destino. Tais erros complicam
a pretensão dos EUA de conquistar a simpatia da população bagdali para sua causa.
Outros alvos
Outros alvos atingidos nas últimas horas incluem outro símbolo
do regime atual: a temida sede da
Diretoria de Segurança Geral, um
dos lugares que os iraquianos em
Bagdá temem até dizer o nome. É
ali que funcionariam as principais
salas de interrogatório de dissidentes do governo: sobreviventes
contam histórias de horrores.
Próximo Texto: Perito diz que era mesmo Saddam Índice
|