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Bloco europeu festeja 50 anos de burocracia e paz
Comunidade foi criada em Roma em 1957; meta plenamente alcançada evitou guerras pela interdependência econômica
Tratado de Roma só criou a
zona de livre comércio entre
seis países; eles hoje são 27
e têm plano maior; modelo,
no entanto, enfrenta crise
François Lenoir/Reuters
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Homem limpa painel de exposição comemorativa dos 50 anos do Tratado de Roma na Bélgica |
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O século 20 foi bastante cruel
com a Europa. A Primeira
Guerra Mundial (1914-1919) fez
8,5 milhões de mortos. A Segunda Guerra (1939-1945), no
mínimo 35 milhões. Povoaram-se de modo sangrento os
cemitérios do continente.
Mudando de assunto, mas
nem tanto. Segundo a OMC
(Organização Mundial do Comércio), os países membros da
União Européia exportavam,
há dois anos, em torno de US$
2,5 trilhões. Só um terço dessa
quantia foi vendida para terceiros. Quanto às importações,
66,1% (US$ 2,9 trilhões) foram
comercializados com os parceiros do próprio bloco.
Não se trata apenas de comércio externo. É sobretudo
interdependência econômica e
política. Os empresários alemães rejeitariam hoje qualquer
nacionalismo que levasse o país
a bombardear a Polônia ou a
França. São seus clientes, seus
fornecedores de peças ou de
matéria-prima. Um sindicato
espanhol não permitiria que
disputas bélicas levassem ao
desemprego, com o corte no
fornecimento de componentes
da Áustria ou da Grécia.
Pois é justamente esse o "desenho" da União Européia.
Seus 27 Estados membros estão de tal modo interligados
que seria inconcebível entre
eles uma nova guerra.
É esse o balanço dos 50 anos
de integração européia. A CEE
(Comunidade Econômica Européia), nascida com o Tratado
de Roma há 50 anos, não foi o
início de uma história comercial. É uma história de paz, que
amansou os nacionalismos e
evitou conflitos regionais.
1950, a idéia inicial
A idéia já estava explícita no
embrião desse processo, quando em 1950 o ministro do Exterior francês, Robert Schuman,
propôs à Alemanha a instituição de uma comunidade do carvão e do aço. Passaria ao controle de uma autoridade supranacional uma grande fonte
energética e a matéria-prima
para material bélico. Quatro
outros países embarcaram em
1951 nesse projeto.
O bloco europeu cresceu e virou rotina. A lembrança das
guerras se distanciou. Os 50
anos do Tratado de Roma não
serão pretexto para uma grande festa de Portugal à Bulgária.
Os seis integrantes iniciais
passaram hoje para 27. Os contribuintes dos países mais ricos
não querem mais financiar investimentos nos países mais
pobres. O mau humor para com
uma Europa que não parava de
crescer -e que absorveria mais
um pouco da soberania dos Estados- partiu da França e da
Holanda, que em 2005 rejeitaram em plebiscito o projeto de
Constituição.
E é também controvertida a
possível adesão da Turquia, que
islamizaria em parte a União
Européia e a empurraria na direção geográfica do Oriente.
Em países como a Irlanda e a
Bélgica, a Espanha ou a Dinamarca, mais de 60% dos cidadãos acreditam que a UE continua a ser uma grande idéia.
Mas na Áustria ou no Reino
Unido, os chamados "eurocéticos" são majoritários. Eles aceitam a união comercial, mas rejeitam a adesão de novos membros e o apetite crescente de
Bruxelas em elaborar normas e
leis que os afetam.
É comum, no entanto, comparar a força dessa máquina
econômica e social integrada a
sua fraqueza em termos de política externa. A integração diplomática sai poucas vezes do
papel. Em 2003, com a invasão
do Iraque, a Europa se dividiu.
Evolução
É difícil imaginar de que maneira a União Européia evoluirá nos próximos anos. Ela é
uma máquina pesada, que se
mexe lentamente e cujos 300
mil funcionários -especialistas, burocratas, tradutores que
produzem toneladas de documentos nessa imensa repartição pública com 23 idiomas-
aprenderam a reagir na defesa
de seus próprios interesses.
Enxugar esses quadros não
está na ordem do dia, embora
seja inevitável que os Estados,
pressionados a gastar menos,
acabem exigindo o mesmo da
burocracia supranacional.
As disputas que hoje em dia
envolvem dinheiro são outras.
Há uma revisão orçamentária
marcada para 2008. O Reino
Unido, que subsidia pouco sua
agricultura, abrirá frente de
atrito com a França, que subsidia muito. Afinal, incentivos
aos agricultores envolvem a
contribuição de todos os países
ao caixa único da PAC (Política
Agrícola Comum).
Iniciativa alemã
Em termos políticos, é incerto o sucesso do esforço da Alemanha, que exerce neste semestre a presidência do bloco,
para relançar o processo de integração que o projeto de Constituição emperrou.
No fundo, no entanto, é provável tudo seja um dia secundário aos olhos dos historiadores,
ao se lembrarem que a União
Européia é também um espelho que deve refletir 27 imagens constituídas por valores
democráticos.
Não há ditaduras. Grécia, Espanha e Portugal só entraram
depois de redemocratizados. E
a democracia européia tem um
sentido bem amplo. O direito à
vida, por exemplo, é sinônimo
da supressão da pena de morte.
Guilhotinas e pelotões de fuzilamento são hoje orgulhosamente coisas de museus.
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