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Idéias de Chávez, ainda popular, desagradam o povo
Pesquisa aponta que venezuelanos desvinculam imagem do presidente de algumas de suas políticas, que rejeitam
Para pesquisador, setores populares estabeleceram "identificação de classe" com Chávez, característica que falta à oposição atual
DE CARACAS
Uma ampla pesquisa de opinião recém-divulgada revela
que, embora a liderança do presidente Hugo Chávez continue
imbatível na Venezuela, o pacote de mudanças incluído no
chamado socialismo do século
21 sofre uma forte resistência
da opinião pública.
"A conclusão mais importante é que a agenda ideológico-radical do presidente Chávez não
tem apelo entre a maioria dos
venezuelanos e é rejeitada até
pelas pessoas que se identificam com ele", disse à Folha Oscar Schemel, da Hinterlaces,
responsável pela pesquisa, a
16ª de uma série intitulada Monitor Sociopolítico.
O levantamento mostra que
Chávez continua com uma popularidade alta após oito anos
no poder, mas que os venezuelanos desaprovam propostas e
medidas emblemáticas de seu
novo mandato, como o fechamento da emissora de TV opositora RCTV, mudanças no
conceito de propriedade privada e a implantação de um modelo socialista.
Segundo a pesquisa, 45% dos
entrevistados rejeitam a implantação de um regime socialista, enquanto 33% apóiam a
proposta, associada mais a programas sociais do que a um novo modelo econômico. Quando
a pergunta é sobre a implantação de um socialismo à cubana,
a rejeição chega a 86%.
Redentor
Baseado nas pesquisas qualitativas que realiza, Schemel diz
que a dissociação entre Chávez
e sua agenda na opinião pública
é explicada pela sua forma de liderança. "Chávez, mais do que
um líder político, é um líder religioso, um redentor. O sucesso
mais valorizado, além das missões [programas sociais], é a
devolução da dignidade aos pobres. Os setores populares estabeleceram uma identificação
de classe com Chávez."
"Mas o discurso ideológico o
distancia das aspirações da
maioria da população. Isso vai
debilitar a liderança do presidente Chávez. É imprevisível o
que vai ocorrer", diz Schemel.
O pesquisador, porém, não
acredita que a oposição atual
tenha condições de explorar essa contradição, que poderia ser
explorada por um novo tipo de
liderança, hoje inexistente. "A
oposição carece de capacidade
para entender o processo político. Ela não tem uma vinculação orgânica nem emocional
com os setores populares."
Questionado sobre os resultados da pesquisa, o segundo
vice-presidente da Assembléia
Nacional, o deputado chavista
Roberto Hernández, afirmou
que a "revolução venezuelana é
absolutamente original" e que a
propriedade privada "não está
em perigo".
(FM)
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