São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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Idéias de Chávez, ainda popular, desagradam o povo

Pesquisa aponta que venezuelanos desvinculam imagem do presidente de algumas de suas políticas, que rejeitam

Para pesquisador, setores populares estabeleceram "identificação de classe" com Chávez, característica que falta à oposição atual

DE CARACAS

Uma ampla pesquisa de opinião recém-divulgada revela que, embora a liderança do presidente Hugo Chávez continue imbatível na Venezuela, o pacote de mudanças incluído no chamado socialismo do século 21 sofre uma forte resistência da opinião pública.
"A conclusão mais importante é que a agenda ideológico-radical do presidente Chávez não tem apelo entre a maioria dos venezuelanos e é rejeitada até pelas pessoas que se identificam com ele", disse à Folha Oscar Schemel, da Hinterlaces, responsável pela pesquisa, a 16ª de uma série intitulada Monitor Sociopolítico.
O levantamento mostra que Chávez continua com uma popularidade alta após oito anos no poder, mas que os venezuelanos desaprovam propostas e medidas emblemáticas de seu novo mandato, como o fechamento da emissora de TV opositora RCTV, mudanças no conceito de propriedade privada e a implantação de um modelo socialista.
Segundo a pesquisa, 45% dos entrevistados rejeitam a implantação de um regime socialista, enquanto 33% apóiam a proposta, associada mais a programas sociais do que a um novo modelo econômico. Quando a pergunta é sobre a implantação de um socialismo à cubana, a rejeição chega a 86%.

Redentor
Baseado nas pesquisas qualitativas que realiza, Schemel diz que a dissociação entre Chávez e sua agenda na opinião pública é explicada pela sua forma de liderança. "Chávez, mais do que um líder político, é um líder religioso, um redentor. O sucesso mais valorizado, além das missões [programas sociais], é a devolução da dignidade aos pobres. Os setores populares estabeleceram uma identificação de classe com Chávez."
"Mas o discurso ideológico o distancia das aspirações da maioria da população. Isso vai debilitar a liderança do presidente Chávez. É imprevisível o que vai ocorrer", diz Schemel.
O pesquisador, porém, não acredita que a oposição atual tenha condições de explorar essa contradição, que poderia ser explorada por um novo tipo de liderança, hoje inexistente. "A oposição carece de capacidade para entender o processo político. Ela não tem uma vinculação orgânica nem emocional com os setores populares."
Questionado sobre os resultados da pesquisa, o segundo vice-presidente da Assembléia Nacional, o deputado chavista Roberto Hernández, afirmou que a "revolução venezuelana é absolutamente original" e que a propriedade privada "não está em perigo". (FM)


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