São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2008

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Novo premiê paquistanês liberta chefe do Supremo

Chaudhry foi posto em prisão domiciliar ao vetar há 5 meses reeleição do ditador

Yousaf Raza Gilani chefia o governo por indicação do partido de Benazir Bhutto, morta em atentado terrorista em dezembro

Associated Press
Yousaf Raza Gilani, indicado novo premiê paquistanês, discursa no Parlamento, em Islamabad


DA REDAÇÃO

Tão logo recebeu ontem do Parlamento paquistanês o mandato de primeiro-ministro, Yousaf Raza Gilani entrou em confronto com o ditador Pervez Musharraf ao determinar que fossem soltos juízes da Corte Suprema e mais 60 magistrados, em prisão domiciliar desde o início de novembro.
Musharraf dera na época um golpe no Judiciário, que se preparava para declarar ilegal seu plano de reeleição.
Iftikhar Mohammed Chaudhry, presidente da Corte Suprema, foi libertado minutos depois da investidura de Gilani, que nos anos 90 foi presidente do Parlamento, passou cinco anos na prisão e permaneceu um forte aliado da ex-premiê Benazir Bhutto, morta em atentado em dezembro.
Chaudhry é um antigo desafeto político do ditador. Ele chegou a ser afastado da chefia da mais alta Corte paquistanesa por "conduta irregular". Mas uma decisão de seus pares o reconduziu ao cargo, fortalecido, em julho do ano passado.
A casa de Chaudhry foi cercada por simpatizantes, e ele, que não se mostrava em público havia quase cinco meses, saiu à sacada e saudou a multidão.
"Não tenho como agradecer pelo esforço de vocês todos para que voltemos ao domínio da lei e da Constituição", afirmou.
A segunda maior autoridade policial da capital, Islamabad, declarou, segundo a agência de notícias estatal, que todos os juízes estavam a partir daquele momento libertados. O advogado de Chaudhry, Aitzaz Ahsan, confirmou que "os prisioneiros já estão em liberdade".
A libertação de Chaudhry é até agora a mais importante prova de que o poder no Paquistão deixou as mãos de Musharraf, um aliado dos Estados Unidos por encabeçar um país fundamental na chamada guerra ao terrorismo. A Al Qaeda e o Taleban atuam na fronteira do Paquistão com o Afeganistão.
Segundo o "Financial Times", diplomatas ocidentais em Islamabad acreditam que a libertação do presidente da Corte Suprema tende a reacender os protestos contra Musharraf por parte de advogados e integrantes do Judiciário, a exemplo do amplo movimento do ano passado que praticamente paralisou os tribunais.
Os juízes destituídos deverão ser reintegrados em seus cargos em 30 dias. O prazo foi fixado pelo PPP (Partido do Povo Paquistanês), do novo premiê, e pelo partido islâmico de oposição a Musharraf, liderado pelo ex-premiê Nawaz Sharif, a quem o ditador depôs em 1999. Sharif, desde as eleições gerais de fevereiro, tem a segunda maior bancada no Parlamento.

Pressão pela demissão
Segundo a Associated Press, a reintegração dos magistrados gerará inevitável tensão política, a partir da qual não estaria excluída a demissão do ditador.
Gilani deverá formar um governo com adversários de Musharraf. Uma das primeiras iniciativas do novo premiê será a de pedir para que as Nações Unidas enviem ao Paquistão uma comissão para investigar o atentado que matou Benazir em dezembro. Musharraf rejeitava a participação da ONU.
"A democracia ressuscitou graças ao sacrifício de Benazir Bhutto", disse Gilani, pouco depois de investido por 264 deputados, e com a oposição de apenas 42. "Não chegamos até aqui por uma questão de benevolência, mas porque lutamos e temos mártires entre nós", disse.
Ainda ontem Gilani pediu que os deputados aprovassem resolução de condenação ao "assassinato judicial" de Zulfikar Ali Bhutto, pai de Benazir, deposto em 1977 pelos militares e enforcado dois anos depois, depois de controvertido julgamento em que o acusaram de homicídio.
Hoje será cumprida uma formalidade constrangedora para o ditador, já que ele precisará receber Gilani e confirmá-lo como premiê.


Com agências internacionais


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