|
Próximo Texto | Índice
Contestado, Insulza é reeleito na OEA
Questionado por EUA, por leniência com violações, e bolivarianos, por intervencionismo, chileno segue na chefia do órgão por 5 anos
Secretário-geral defende sua atuação inclusive no caso do golpe em Honduras, quando diz ter sido acionado tarde demais por Zelaya
Mandel Ngan/France Presse
|
|
O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, cumprimenta embaixadores de países-membros antes de sua reeleição ontem
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Na falta de outros candidatos
viáveis, o chileno José Miguel
Insulza, 66, foi reconduzido ontem em Washington ao posto
de secretário-geral da OEA
(Organização dos Estados
Americanos) para novo mandato de cinco anos, em uma cerimônia em que não faltaram
pressões por reformas, críticas
e trocas de acusações entre os
países-membros.
Sob a sombra de sua própria
ineficácia após o golpe hondurenho, que resultou na maior
crise recente da América Latina, Insulza disse que lutará para fortalecer a Carta Democrática da OEA. "Queremos levar
seus preceitos adiante não só
em eleições, mas em todos os
níveis."
Segundo ele, há propostas
ambiciosas para que a carta seja
aplicada na prevenção de crises. Mas é preciso certas formalidades. "Em Honduras, [o presidente deposto, Miguel] Zelaya invocou a Carta dois dias antes do golpe. Era tarde demais."
De concreto, porém, houve
poucos sinais de novo ímpeto.
"Podemos apoiar, sugerir, mas
(...) não há nada que façamos
sem a vontade dos Estados."
Esse desequilíbrio alimenta
uma das principais discussões
sobre o papel da OEA. Por um
lado, ela é cobrada por sua irrelevância prática; por outro, países bolivarianos rechaçam o
que chamam de "intromissões
sistemáticas". A disputa já desinflou as expectativas de que
fosse aberta uma reforma da
Carta Democrática no segundo
mandato do secretário-geral,
que começa em maio.
Outra cobrança, particularmente dos EUA, se referiu à falta de participação de Insulza
em questões de direitos humanos. "Gostaríamos que o secretário falasse mais abertamente
sobre todas as violações", afirmou ontem a embaixadora
americana na OEA, Carmen
Lomellin, ao ser questionada
sobre a falta de respaldo de Insulza a críticas à Venezuela.
O chileno resistiu. "Quem
cuida de direitos humanos é a
comissão interamericana; o secretariado geral se ocupa das
questões políticas."
Aclamação
Com o pano de fundo das polêmicas, a recondução de Insulza acabou se dando por aclamação. A opção preferida por boa
parte dos países, de confirmação por consenso, acabou naufragando pouco antes da cerimônia por questões jurídicas.
Já uma eleição foi descartada
devido à insistência de Venezuela, Nicarágua e Bolívia em
expor sua resistência ao nome
do secretário-geral -e o voto
seria obrigatoriamente secreto.
Apesar de a Venezuela ter decidido no último momento declarar apoio a Insulza, os três
países reclamaram estridentemente do suposto intervencionismo da OEA, assim como da
influência dos EUA no órgão. A
Bolívia anunciou que se absteria caso houvesse votação, mas
ao final se uniu aos outros reticentes no apoio à aclamação
para evitar isolamento.
O embaixador do Brasil na
OEA, Ruy Casaes, que apoiou
Insulza, pediu ainda ao secretário que "não aceite a saída fácil
de aceitar recursos que minariam" a independência da organização. Por sua mais difícil situação econômica, teme-se que
a OEA se transforme em instrumento legitimador de alguns países que doam recursos
atrelados a interesses políticos.
Os EUA financiam cerca de
60% do orçamento da OEA, enquanto países como Espanha
doam com frequência a projetos de seu interesse.
Insulza descartou o risco,
mas disse "entender a preocupação". "Nosso orçamento não
passa de US$ 80 milhões. Vamos ter de começar a cortar
projetos se nada for feito."
Mas mesmo com todas as reclamações, o secretário só fez
uma autocrítica: "Já não leio e-mails" -ele recebe muitos.
Próximo Texto: Visita de Netanyahu não destrava crise entre Israel e EUA Índice
|