São Paulo, Quinta-feira, 25 de Março de 1999
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IMPASSE
Presidente anuncia prisão de Oviedo, mas ex-golpista, em quartel da Guarda Presidencial, nega que esteja preso
Paraguai inicia impeachment de Cubas

das agências internacionais

Um dia depois do atentado que matou o vice-presidente do Paraguai, Luis María Argaña, o Congresso paraguaio deu início ao processo de impeachment do presidente Raúl Cubas Grau.
Numa aparente tentativa de impedir a abertura do processo, o presidente anunciou, na tarde de ontem, a prisão do general Lino César Oviedo, homem forte do governo e pivô da crise no país.
Em entrevista no palácio, Cubas disse que queria "evitar o aprofundamento da crise".
"Consciente de minhas responsabilidades como presidente da República e comandante das Forças Armadas, tomei uma decisão que espero ser útil para recuperar a paz e a nossa convivência política", afirmou o presidente.
Na entrevista, Cubas acusou seus adversários -nos partidos de oposição e dentro de seu próprio partido, o Colorado- de "não respeitarem sequer o luto do país".
Logo depois da entrevista de Cubas, no entanto, o general Oviedo apareceu pessoalmente no portão de entrada do quartel da Guarda Presidencial, onde deveria estar preso, e negou estar detido.
"Vim por minha própria decisão. Não estou preso", disse.
Cubas e seu mentor político, Oviedo, foram responsabilizados anteontem pelo atentado contra Argaña, numa moção aprovada pela maioria dos parlamentares.
Ontem de manhã, enquanto o corpo do político assassinado era velado no Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados decidiu apresentar uma acusação contra Cubas ao Senado.
Com 73 dos 80 deputados em plenário, a acusação foi aprovada por 59 votos a favor e 24 contrários.
Cubas é acusado de "mau desempenho de suas funções" por ter desobedecido uma ordem de prisão contra Oviedo, ditada pela Corte Suprema de Justiça do Paraguai, máxima instância judicial.
Em seguida, foi a vez de o Senado se reunir e iniciar formalmente o processo de impeachment. Com 45 membros, serão necessários os votos de dois terços dos presentes para destituir Cubas.
A divulgação da notícia da prisão não impediu que os senadores marcassem para hoje de manhã a apresentação da defesa de Cubas.
Oviedo foi condenado a dez anos de prisão por uma tentativa de golpe militar, em 96.
Mas quando Cubas chegou ao poder, em agosto passado, com apoio de Oviedo (impedido de concorrer à Presidência porque estava preso), ele libertou o aliado.
Todos os principais personagens da crise -Argaña (morto), Cubas e Oviedo- são do Partido Colorado, no poder desde 1947.


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