São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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GEOPOLÍTICA

Proposta abrange armamentos avançados, mas não inclui o controverso sistema de defesa antimísseis Aegis

Oferta dos EUA a Taiwan irrita a China

France Presse
Parlamentar taiwanês com chepéu dos EUA mostra aeronaves de Taiwam e China em rota de colisão, em protesto contra os EUA


PETER MILLERSHIP
DA REUTERS

Autoridades americanas encontraram-se ontem com uma delegação de Taiwan para oferecer-lhe submarinos, destróieres e aeronaves, numa proposta de venda de armas que foi recebida na China com "grande preocupação", motivando um protesto formal de Pequim.
Washington oferece a Taiwan, que a China considera uma "Província rebelde", o maior pacote de venda de armas em mais de uma década, mas não venderá o sofisticado sistema de defesa antimísseis Aegis a Taipé, de acordo com funcionários da Casa Branca.
A China, que já havia dito que a venda de armas sofisticadas dos EUA a Taiwan poderia ter um "efeito devastador" sobre as relações entre Pequim e Washington, exortou o governo americano a suspender o acordo. Enquanto isso, em Taipé, a notícia foi muito bem recebida no meio político.
O embaixador da China nos EUA, Yang Jiechi, enviou seu protesto ao subsecretário de Estado Marc Grossman, segundo Philip Reeker, porta-voz do Departamento de Estado. "Creio que possamos dizer que se trate de um protesto formal baseado no que eles (os chineses) leram e ouviram recentemente", disse Reeker.
Autoridades americanas disseram que a venda de armas tem como objetivo compensar o fortalecimento recente do sistema de defesa antiaérea chinês, mas salientaram que Washington enviará uma mensagem diplomática a Pequim, dizendo que "as coisas poderiam ser diferentes" se o governo chinês colaborasse na redução das tensões na região.
As relações entre o presidente dos EUA, George W. Bush, e as autoridades chinesas são tensas desde que um avião de espionagem americano colidiu com um caça chinês, em 1º de abril, perto da costa chinesa. Outro fator de tensão é a iminente visita do ex-presidente de Taiwan Lee Teng-hui aos EUA.

Desaprovação chinesa
A oferta engloba quatro destróieres de tipo Kidd, 12 aeronaves Orion, que localizam submarinos, e oito submarinos a diesel fabricados na Europa, além de outras armas.
Embora o sofisticado sistema antimísseis não conste da lista da Casa Branca, o acordo de venda de armas a Taiwan irritou os chineses.
"A China recebeu a informação com grande preocupação", afirmou Zhang Qiyue, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, referindo-se à cobertura da imprensa internacional.
"A China sempre se opôs à venda de armas a Taiwan e, especialmente, à venda desses tipos de armamento. Trata-se de armas avançadas", disse Zhang.
Esse é o maior pacote desde 1990, quando Taiwan adquiriu 150 caças F-16 dos EUA, cujo presidente era George Bush, pai do atual presidente. À época, Taiwan também comprou 60 caças Mirage e seis fragatas Lafayette da França.
Washington não deu importância à preocupação das autoridades chinesas. "A China deveria pensar menos, não mais, no que se refere à sua presença militar na região. Assim, haveria menos perigo pesando sobre Taiwan", disse Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca.
A venda de armas, que poderá custar bilhões de dólares a Taiwan -dependendo do que for comprado-, será feita dentro do que prevê um acordo de relações entre os EUA e Taiwan, segundo o qual Washington deve oferecer armas para que Taipé possa defender-se. Isso apesar de os EUA só reconhecerem Pequim como governo legítimo da China.
O governo de Taiwan decidirá quais armas irá adquirir. A maioria dos parlamentares da ilha acolheu com entusiasmo a oferta americana, mas alguns deles não gostaram do preço a ser pago.
Alguns analistas disseram ontem que a controvérsia em torno da venda do sistema de defesa Aegis pode ter sido apenas uma cortina de fumaça. Yan Xuetong, diretor-executivo do Centro para Estudo de Política Internacional da Universidade Tsinghua, afirmou que Washington usou o sistema Aegis como "blefe" para vender outras armas a Taipé.
Mas a inclusão de submarinos no pacote oferecido a Taiwan provocou surpresa entre analistas chineses, que disseram que Taipé queria adquiri-los há tempo.


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