São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Taiwan teme mais o poder econômico da China

DO "THE NEW YORK TIMES"

Os políticos de Taiwan expressaram satisfação com as armas oferecidas ao país pelos EUA. Mas, nas ruas, houve uma reação morna, em parte porque não houve surpresa: todos imaginavam que o presidente George W. Bush fosse riscar da lista de compras de Taiwan o armamento mais sofisticado que havia sido pedido.
Mais do que isso, porém, é que a dura questão militar tornou-se menos importante hoje do que era há alguns anos. Com os investidores deixando Taiwan de forma acelerada para aproveitar o crescimento da China, de repente o gigantesco vizinho parece ser mais ameaçador do ponto de vista comercial que do militar.
"Há cinco anos, as tensões políticas animava as relações entre Taiwan e China", disse Yang Chao, editor da "Journalist", revista sobre política de Taiwan. "Mas, agora, os taiwaneses sentem a presença da China continental, quase fisicamente, pelo peso das relações comerciais."
Esse "reverso da fortuna" deixou em Taiwan uma sensação de que a ilha esteja vulnerável -não a um ataque de navios ou tropas chinesas, mas à pressão de ter de fazer negócios com uma potência econômica emergente. Os destróieres vendidos pelos EUA não podem impedir que as empresas instaladas em Taiwan se transfiram para Xangai.
Wu Yu-shan, cientista político da Universidade Nacional de Taiwan, raciocina: "Como a China não está atirando mísseis em nossa direção, a tendência é acreditar que a região tenha enorme potencial econômico. O problema é que as grandes empresas acham agora que devem investir fora de Taiwan para sobreviver".
O fluxo de investimentos para a China coincide com um doloroso momento de retração econômica em Taiwan. As exportações estão caindo, e o desemprego, em torno de 4%, é o mais alto desde 1985.
"Para nós é irrelevante se os EUA estão vendendo armas a Taiwan", disse Wei Chi-jiang, que negocia ações na Bolsa taiwanesa. "Preocupa-nos a reação chinesa. Quase todos os investimentos de Taiwan estão no continente, então nós tememos o que isso pode acarretar."
Outros operadores repetem as palavras de Wei. Como as empresas mais importantes de Taiwan têm grandes negócios na China, eles dizem que é mais importante preservar o status quo do que melhorar a segurança taiwanesa. Vários negociantes expressaram alívio quando Bush anunciou que não venderá agora a Taiwan o sofisticado sistema militar Aegis, porque poderia soar como provocação à China.
"Os EUA não devem vender armas muito avançadas a Taiwan", afirmou Joe Chao, dono de um teatro em Taipé. "Isso pode ser terrivelmente perigoso."
Para Chao, o assunto tornou-se especialmente sensível devido à eleição de Chen Shui-bian como presidente de Taiwan, no ano passado. Pequim suspeita de Chen, tradicional líder da oposição, porque seu partido formalmente apóia a idéia de independência de Taiwan, que a China vê como uma "Província rebelde".
Tais opiniões são comuns entre os empresários. Mas os laços entre China e Taiwan vão além do comércio. Turistas taiwaneses estão viajando ao continente, assim como estudantes interessados em literatura, economia e medicina da China.
"Muitos dos meus ex-alunos estão agora na Beida", disse o cientista político Wu Yu-shan, usando o apelido da Universidade Pequim. "Esses são os laços sociais que estão sendo forjados, mesmo com a manutenção da tensão política."
Wu observou, no entanto, que a reação popular taiwanesa à decisão norte-americana é, de certa forma, enganosa: se a Casa Branca tivesse suspendido ou cancelado seu programa de armamentos, seria um imenso choque para uma ilha que depende diretamente dos EUA para se proteger.




Texto Anterior: Geopolítica: Oferta dos EUA a Taiwan irrita a China
Próximo Texto: Multimídia: 63% aprovam Bush, diz pesquisa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.