|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Taiwan teme mais o poder econômico da China
DO "THE NEW YORK TIMES"
Os políticos de Taiwan expressaram satisfação com as armas
oferecidas ao país pelos EUA.
Mas, nas ruas, houve uma reação
morna, em parte porque não houve surpresa: todos imaginavam
que o presidente George W. Bush
fosse riscar da lista de compras de
Taiwan o armamento mais sofisticado que havia sido pedido.
Mais do que isso, porém, é que a
dura questão militar tornou-se
menos importante hoje do que
era há alguns anos. Com os investidores deixando Taiwan de forma acelerada para aproveitar o
crescimento da China, de repente
o gigantesco vizinho parece ser
mais ameaçador do ponto de vista
comercial que do militar.
"Há cinco anos, as tensões políticas animava as relações entre
Taiwan e China", disse Yang
Chao, editor da "Journalist", revista sobre política de Taiwan.
"Mas, agora, os taiwaneses sentem a presença da China continental, quase fisicamente, pelo
peso das relações comerciais."
Esse "reverso da fortuna" deixou em Taiwan uma sensação de
que a ilha esteja vulnerável -não
a um ataque de navios ou tropas
chinesas, mas à pressão de ter de
fazer negócios com uma potência
econômica emergente. Os destróieres vendidos pelos EUA não
podem impedir que as empresas
instaladas em Taiwan se transfiram para Xangai.
Wu Yu-shan, cientista político
da Universidade Nacional de Taiwan, raciocina: "Como a China
não está atirando mísseis em nossa direção, a tendência é acreditar
que a região tenha enorme potencial econômico. O problema é que
as grandes empresas acham agora
que devem investir fora de Taiwan para sobreviver".
O fluxo de investimentos para a
China coincide com um doloroso
momento de retração econômica
em Taiwan. As exportações estão
caindo, e o desemprego, em torno
de 4%, é o mais alto desde 1985.
"Para nós é irrelevante se os
EUA estão vendendo armas a Taiwan", disse Wei Chi-jiang, que
negocia ações na Bolsa taiwanesa.
"Preocupa-nos a reação chinesa.
Quase todos os investimentos de
Taiwan estão no continente, então nós tememos o que isso pode
acarretar."
Outros operadores repetem as
palavras de Wei. Como as empresas mais importantes de Taiwan
têm grandes negócios na China,
eles dizem que é mais importante
preservar o status quo do que melhorar a segurança taiwanesa. Vários negociantes expressaram alívio quando Bush anunciou que
não venderá agora a Taiwan o sofisticado sistema militar Aegis,
porque poderia soar como provocação à China.
"Os EUA não devem vender armas muito avançadas a Taiwan",
afirmou Joe Chao, dono de um
teatro em Taipé. "Isso pode ser
terrivelmente perigoso."
Para Chao, o assunto tornou-se
especialmente sensível devido à
eleição de Chen Shui-bian como
presidente de Taiwan, no ano passado. Pequim suspeita de Chen,
tradicional líder da oposição, porque seu partido formalmente
apóia a idéia de independência de
Taiwan, que a China vê como
uma "Província rebelde".
Tais opiniões são comuns entre
os empresários. Mas os laços entre China e Taiwan vão além do
comércio. Turistas taiwaneses estão viajando ao continente, assim
como estudantes interessados em
literatura, economia e medicina
da China.
"Muitos dos meus ex-alunos estão agora na Beida", disse o cientista político Wu Yu-shan, usando o apelido da Universidade Pequim. "Esses são os laços sociais
que estão sendo forjados, mesmo
com a manutenção da tensão política."
Wu observou, no entanto, que a
reação popular taiwanesa à decisão norte-americana é, de certa
forma, enganosa: se a Casa Branca
tivesse suspendido ou cancelado
seu programa de armamentos, seria um imenso choque para uma
ilha que depende diretamente dos
EUA para se proteger.
Texto Anterior: Geopolítica: Oferta dos EUA a Taiwan irrita a China Próximo Texto: Multimídia: 63% aprovam Bush, diz pesquisa Índice
|