São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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ELEIÇÃO

Junichiro Koizumi deve enfrentar oposição da velha-guarda do partido governista, do qual é o novo presidente

Incerteza cerca o futuro premiê japonês

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Num sinal de mudança na cena política japonesa, o conservador Partido Liberal Democrático (PLD), que governa o país quase ininterruptamente desde sua fundação, em 1955, elegeu ontem o popular e reformista Junichiro Koizumi para sua presidência.
Ele conquistou 298 dos 484 votos válidos de diretórios regionais e parlamentares do partido, em pleito que começou anteontem, com as primárias nas Prefeituras (Estados), e acabou ontem.
Koizumi, 59, será o 11º premiê japonês em 13 anos se obtiver ao menos parte do apoio das outras formações (minoritárias) da coalizão governamental, o Partido Novo Komeito e o Partido Novo Conservador. O Parlamento deve aprovar sua indicação amanhã.
Koizumi foi a pessoa que conseguiu conquistar a preferência da opinião pública do país durante a campanha para a presidência do hegemônico PLD, baseando-se numa plataforma que preconiza uma radical reforma das estruturas do partido e, portanto, da cena político-econômica japonesa.
Embora tenha diminuído o ímpeto de suas propostas de privatização do sistema de correios e de seu fundo de pensão diante da forte oposição encontrada dentro do PLD, pois vários parlamentares têm os funcionários dos correios em sua base político-eleitoral, nada garante que ele obtenha o apoio necessário dentro do partido para aplicar suas propostas, que visam a combater a enorme dívida pública do país.
O excêntrico Koizumi, que, em duas oportunidades, foi ministro da saúde, conhece bem o funcionamento do partido e sabe que, se não fizer acordos políticos, não terá a margem de manobra de que precisa para dar alento à estagnação econômica do país. Entretanto, se os fizer, seu comprometimento com as reformas poderá ser significativamente minado.
"Koizumi promete introduzir reformas econômicas, sobretudo no que diz respeito à privatização do sistema postal e de seu fundo de pensão. Isso significaria uma drástica reorganização do setor público japonês, cujas atividades têm sido em parte financiadas por esse fundo de pensão", afirmou à Folha Tadashi Anno, da Universidade Sophia, de Tóquio.
"Ninguém sabe se ele terá sucesso em seus esforços. Se tentar introduzir as reformas, poderá contar com amplo apoio popular, porém isso não é necessariamente o que importa dentro do PLD. Afinal, os poderosos interesses do setor público japonês serão um terrível inimigo para qualquer reforma estrutural", acrescentou.
Contudo a cúpula do PLD reconhece que, se seu sistema de tomada de decisões não mudar, pois ainda depende de conchavos entre os membros de sua velha-guarda, o partido correrá o sério risco de perder apoio na eleição para a Câmara Alta do Parlamento, que ocorrerá em julho. E uma humilhante derrota nesse pleito pode representar, para o PLD, a perda do posto de premiê.
Mesmo assim, poucos analistas acreditam que Koizumi seja capaz de colocar em prática suas propostas tão cedo, devido à oposição dentro do PLD. E, embora seja o favorito dos mercados financeiros, ele também não agrada ao segundo maior membro da coalizão, o Partido Novo Komeito (de orientação budista), pois prometeu reavaliar o equilíbrio de forças dentro da administração.
Para Jon Mills, pesquisador no Centro Ásia da Universidade Harvard, Koizumi tem poucas chances de "alterar muita coisa por causa da falta de apoio de seus correligionários" e, assim, "não deve permanecer no cargo depois da eleição para a Câmara Alta".
Mills não crê que a cena política japonesa deva sofrer grandes mudanças a curto prazo. "A coalizão governamental continuará a ser dominada pelo PLD. Este, por sua vez, verá sua popularidade manter-se em curva descendente, o que exacerbará o impasse político-econômico que vive o Japão."
Resta saber se Koizumi, como fez na eleição para a presidência do PLD e -portanto- para o cargo de premiê, surpreenderá a todos e, ancorado em sua popularidade, poderá introduzir as reformas de que o Japão precisa há pelo menos uma década.


Com agências internacionais


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