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ELEIÇÃO
Junichiro Koizumi deve enfrentar oposição da velha-guarda do partido governista, do qual é o novo presidente
Incerteza cerca o futuro premiê japonês
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Num sinal de mudança na cena
política japonesa, o conservador
Partido Liberal Democrático
(PLD), que governa o país quase
ininterruptamente desde sua fundação, em 1955, elegeu ontem o
popular e reformista Junichiro
Koizumi para sua presidência.
Ele conquistou 298 dos 484 votos válidos de diretórios regionais
e parlamentares do partido, em
pleito que começou anteontem,
com as primárias nas Prefeituras
(Estados), e acabou ontem.
Koizumi, 59, será o 11º premiê
japonês em 13 anos se obtiver ao
menos parte do apoio das outras
formações (minoritárias) da coalizão governamental, o Partido
Novo Komeito e o Partido Novo
Conservador. O Parlamento deve
aprovar sua indicação amanhã.
Koizumi foi a pessoa que conseguiu conquistar a preferência da
opinião pública do país durante a
campanha para a presidência do
hegemônico PLD, baseando-se
numa plataforma que preconiza
uma radical reforma das estruturas do partido e, portanto, da cena
político-econômica japonesa.
Embora tenha diminuído o ímpeto de suas propostas de privatização do sistema de correios e de
seu fundo de pensão diante da
forte oposição encontrada dentro
do PLD, pois vários parlamentares têm os funcionários dos correios em sua base político-eleitoral, nada garante que ele obtenha
o apoio necessário dentro do partido para aplicar suas propostas,
que visam a combater a enorme
dívida pública do país.
O excêntrico Koizumi, que, em
duas oportunidades, foi ministro
da saúde, conhece bem o funcionamento do partido e sabe que, se
não fizer acordos políticos, não
terá a margem de manobra de que
precisa para dar alento à estagnação econômica do país. Entretanto, se os fizer, seu comprometimento com as reformas poderá
ser significativamente minado.
"Koizumi promete introduzir
reformas econômicas, sobretudo
no que diz respeito à privatização
do sistema postal e de seu fundo
de pensão. Isso significaria uma
drástica reorganização do setor
público japonês, cujas atividades
têm sido em parte financiadas por
esse fundo de pensão", afirmou à
Folha Tadashi Anno, da Universidade Sophia, de Tóquio.
"Ninguém sabe se ele terá sucesso em seus esforços. Se tentar introduzir as reformas, poderá contar com amplo apoio popular, porém isso não é necessariamente o
que importa dentro do PLD. Afinal, os poderosos interesses do setor público japonês serão um terrível inimigo para qualquer reforma estrutural", acrescentou.
Contudo a cúpula do PLD reconhece que, se seu sistema de tomada de decisões não mudar,
pois ainda depende de conchavos
entre os membros de sua velha-guarda, o partido correrá o sério
risco de perder apoio na eleição
para a Câmara Alta do Parlamento, que ocorrerá em julho. E uma
humilhante derrota nesse pleito
pode representar, para o PLD, a
perda do posto de premiê.
Mesmo assim, poucos analistas
acreditam que Koizumi seja capaz
de colocar em prática suas propostas tão cedo, devido à oposição dentro do PLD. E, embora seja o favorito dos mercados financeiros, ele também não agrada ao
segundo maior membro da coalizão, o Partido Novo Komeito (de
orientação budista), pois prometeu reavaliar o equilíbrio de forças
dentro da administração.
Para Jon Mills, pesquisador no
Centro Ásia da Universidade Harvard, Koizumi tem poucas chances de "alterar muita coisa por
causa da falta de apoio de seus
correligionários" e, assim, "não
deve permanecer no cargo depois
da eleição para a Câmara Alta".
Mills não crê que a cena política
japonesa deva sofrer grandes mudanças a curto prazo. "A coalizão
governamental continuará a ser
dominada pelo PLD. Este, por sua
vez, verá sua popularidade manter-se em curva descendente, o
que exacerbará o impasse político-econômico que vive o Japão."
Resta saber se Koizumi, como
fez na eleição para a presidência
do PLD e -portanto- para o
cargo de premiê, surpreenderá a
todos e, ancorado em sua popularidade, poderá introduzir as reformas de que o Japão precisa há
pelo menos uma década.
Com agências internacionais
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