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Novo líder do PLD promete romper tradição
RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM TÓQUIO
Junichiro Koizumi não se parece com um vulcão em erupção e
tampouco soa como terremoto
trovejante. Sua aparência é daquilo que ele de fato é: um homem
grisalho, de 59 anos, que passou
as últimas três décadas a serviço
de um dos partidos políticos mais
conservadores do mundo.
Entre seus hobbies, ele cita
"música" e "leitura". Os livros que
menciona incluem "Razões para
Recompor o Ministério dos Correios e Telecomunicações" e sua
sequência igualmente fascinante,
"Razões para Privatizar os Correios e as Telecomunicações".
Pelos padrões ocidentais, Koizumi é um homem sério e convencional, como a maioria dos
que ascendem ao poder no interior do governista Partido Liberal
Democrático (PLD). Mas, no Japão, já se tornou um fenômeno
político. Palavras quase nunca
ouvidas no país, como "radical",
"independente" e "revolucionário", são atiradas à sua volta, como confete, e ninguém tem se
mostrado mais dramático ao avaliá-las do que o próprio Koizumi.
"É como o magma que está encerrado há muito tempo e encontra vazão para sair", disse, falando
dos altos e baixos de seu apoio popular. "A impressão que se tem é
que a terra está tremendo. Sinto
que grandes mudanças estão a caminho nos círculos políticos."
Não haverá meias medidas: Koizumi será lembrado como um
dos maiores líderes que o Japão já
teve ou como um charlatão.
Grandes surpresas estavam reservadas para a noite de ontem,
quando Koizumi concedeu sua
primeira entrevista coletiva à imprensa na condição de líder do
partido. Mesmo antes de ser formalmente eleito (o Parlamento,
dominado pelo PLD, deve votar
para aprová-lo como premiê
amanhã), ele já traçou suas prioridades, que o definem como reformista econômico sem meias palavras e nacionalista declarado.
Koizumi anunciou sua intenção
de fazer o que nenhum líder anterior já tentou seriamente: rever a
"Constituição de paz" japonesa
para permitir que o país mantenha Forças Armadas. Hoje os 240
mil soldados e homens da Marinha e da Força Aérea japonesas
são conhecidos pelo eufemismo
de "Forças de Autodefesa".
Mais espantosos, e mais diretos
em termos dos efeitos que vão
exercer sobre a população, são os
planos econômicos do novo líder.
Como o resto do mundo, os japoneses vêem sua maior conquista
no pós-guerra como o chamado
milagre econômico -a transformação de uma potência derrotada e desmoralizada no segundo
mais rico país do mundo. Há dez
anos o país tropeça à beira de uma
recessão, incapaz de reconhecer
que algo deu errado.
O que Koizumi promete fazer é
administrar um remédio amargo.
Os gastos públicos serão reduzidos para diminuir a enorme dívida do governo. Os bancos nacionais serão obrigados a cancelar
suas muitas dívidas não pagas,
forçando o fechamento das empresas que não conseguem saldar
suas dívidas. Que um político japonês nem sequer mencione a palavra "recessão" é algo notável.
A verdade, porém, é que o
maior fator de atração de Koizumi tem menos a ver com o que ele
é do que com o que não é. Sob o
premiê que deixa o cargo agora, o
inepto Yoshiro Mori, o sistema
adotado pelo PLD de passa-passa
do cargo de premiê entre uma série de nomes do partido chegou a
seu ponto mais baixo. Koizumi se
destaca por ter tido a coragem de
rejeitar a política de facções seguida pelo partido e por expressar os
sentimentos nacionalistas que
muitos japoneses compartilham,
mas hesitam em reconhecer.
Até agora, porém, é apenas isso
que Koizumi tem feito: falar. Apesar de suas afirmações, o tamanho
de sua vitória deixa claro que ele
deve ter feito algumas alianças
bem calculadas com deputados.
O primeiro teste será o anúncio
de seu novo gabinete, o que já pode ser feito amanhã. Koizumi
prometeu escolher os ministros
por mérito e incluir políticos mais
jovens e mulheres.
Tradução de Clara Allain
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