São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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Novo líder do PLD promete romper tradição

RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM TÓQUIO

Junichiro Koizumi não se parece com um vulcão em erupção e tampouco soa como terremoto trovejante. Sua aparência é daquilo que ele de fato é: um homem grisalho, de 59 anos, que passou as últimas três décadas a serviço de um dos partidos políticos mais conservadores do mundo.
Entre seus hobbies, ele cita "música" e "leitura". Os livros que menciona incluem "Razões para Recompor o Ministério dos Correios e Telecomunicações" e sua sequência igualmente fascinante, "Razões para Privatizar os Correios e as Telecomunicações".
Pelos padrões ocidentais, Koizumi é um homem sério e convencional, como a maioria dos que ascendem ao poder no interior do governista Partido Liberal Democrático (PLD). Mas, no Japão, já se tornou um fenômeno político. Palavras quase nunca ouvidas no país, como "radical", "independente" e "revolucionário", são atiradas à sua volta, como confete, e ninguém tem se mostrado mais dramático ao avaliá-las do que o próprio Koizumi.
"É como o magma que está encerrado há muito tempo e encontra vazão para sair", disse, falando dos altos e baixos de seu apoio popular. "A impressão que se tem é que a terra está tremendo. Sinto que grandes mudanças estão a caminho nos círculos políticos." Não haverá meias medidas: Koizumi será lembrado como um dos maiores líderes que o Japão já teve ou como um charlatão.
Grandes surpresas estavam reservadas para a noite de ontem, quando Koizumi concedeu sua primeira entrevista coletiva à imprensa na condição de líder do partido. Mesmo antes de ser formalmente eleito (o Parlamento, dominado pelo PLD, deve votar para aprová-lo como premiê amanhã), ele já traçou suas prioridades, que o definem como reformista econômico sem meias palavras e nacionalista declarado.
Koizumi anunciou sua intenção de fazer o que nenhum líder anterior já tentou seriamente: rever a "Constituição de paz" japonesa para permitir que o país mantenha Forças Armadas. Hoje os 240 mil soldados e homens da Marinha e da Força Aérea japonesas são conhecidos pelo eufemismo de "Forças de Autodefesa".
Mais espantosos, e mais diretos em termos dos efeitos que vão exercer sobre a população, são os planos econômicos do novo líder. Como o resto do mundo, os japoneses vêem sua maior conquista no pós-guerra como o chamado milagre econômico -a transformação de uma potência derrotada e desmoralizada no segundo mais rico país do mundo. Há dez anos o país tropeça à beira de uma recessão, incapaz de reconhecer que algo deu errado.
O que Koizumi promete fazer é administrar um remédio amargo. Os gastos públicos serão reduzidos para diminuir a enorme dívida do governo. Os bancos nacionais serão obrigados a cancelar suas muitas dívidas não pagas, forçando o fechamento das empresas que não conseguem saldar suas dívidas. Que um político japonês nem sequer mencione a palavra "recessão" é algo notável.
A verdade, porém, é que o maior fator de atração de Koizumi tem menos a ver com o que ele é do que com o que não é. Sob o premiê que deixa o cargo agora, o inepto Yoshiro Mori, o sistema adotado pelo PLD de passa-passa do cargo de premiê entre uma série de nomes do partido chegou a seu ponto mais baixo. Koizumi se destaca por ter tido a coragem de rejeitar a política de facções seguida pelo partido e por expressar os sentimentos nacionalistas que muitos japoneses compartilham, mas hesitam em reconhecer.
Até agora, porém, é apenas isso que Koizumi tem feito: falar. Apesar de suas afirmações, o tamanho de sua vitória deixa claro que ele deve ter feito algumas alianças bem calculadas com deputados.
O primeiro teste será o anúncio de seu novo gabinete, o que já pode ser feito amanhã. Koizumi prometeu escolher os ministros por mérito e incluir políticos mais jovens e mulheres.


Tradução de Clara Allain


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