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COMENTÁRIO
Os fatores internos
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
É tentador buscar uma explicação fácil para os ataques na chamada "Riviera do Mar Vermelho"
do Egito. Se por um lado há um
forte componente internacional,
com a provável ligação com a Al
Qaeda e a presença de turistas ocidentais e israelenses, é preciso
olhar para fatores internos.
É necessário, sem cair na falácia
de justificar o terrorismo pela miséria, combinar a esses peças a
classe média achatada e sem representação política e a pobreza
que envolve o Cairo, o vale do Nilo e pontos isolados do país.
Caso de El Fayoum, cidade que
margeia o lago do oásis homônimo. O presidente Gamal Abdel
Nasser, mito do "pan-arabismo
socialista" dos anos 50 e 60, estabeleceu um palácio na área, então
valorizada.
Hoje, o edifício virou hotel às
moscas, e a costa do lago é campo
fértil para febres e extremismo islâmico. De lá saiu o grupo que
tentou derrubar o World Trade
Center em 1993.
Com a ascensão da rede comandada por Osama bin Laden, que
conseguiu o objetivo da turma de
El Fayoum oito anos depois, ficou
fácil botar a culpa no "terror internacional" por conta de ações
como as de ontem.
Obviamente há inspiração e, talvez, recursos externos. Mas a miséria e a repressão política decorrentes do fracasso do modelo de
Nasser, personalizados nos 25
anos de poder autocrático de
Hosni Mubarak, são fermentos
tão ou mais poderosos.
Pobreza não implica violência,
mas o seqüestro ideológico por
fanáticos com agenda própria é
facilitado quando o Estado está
longe. E ele está muito distante no
Egito, 119º no ranking de desenvolvimento humano da ONU,
com 177 países.
E o Estado não permite a oposição moderada. A campanha oficial para coibir o voto nos candidatos apoiados por extremistas da
Irmandade Muçulmana nas eleições legislativas de 2005 apenas
demonstrou o que o governo temia: os integristas tornaram-se
desaguadouros da insatisfação.
Se isso não é uma explicação em
si, por simplista e injusta com a
maioria que não os apóia, fornece
um contexto para entender os
ataques. O alvo é o governo e sua
maior fonte de dólares (US$ 6 bilhões em 2004), o turismo.
Na década de 90, o sul egípcio e
seus tesouros antigos eram o alvo.
A ação militar tornou a viagem à
região segura, mas um tormento.
O governo então direcionou investimentos para a "Riviera", e a
oferta de quartos em hotéis triplicou para 140 mil.
Com tal potencial, outros ataques virão, e a repressão inevitável talvez só alimente o ciclo da
violência.
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