São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

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Kirchner assume liderança peronista e preserva poder

Com status de estrela, ex-presidente é confirmado na cabeça do Partido Justicialista

Na posse, ele atacou setor agropecuário, com quem governo enfrenta disputa; peronista deve aumentar base de apoio de Cristina

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Com direito a fogos de artifício e beijos nas "fãs", o ex-presidente Néstor Kirchner participou ontem de seu primeiro ato como presidente do Partido Justicialista (peronista) com status de estrela nacional. No discurso, que marcou a inauguração da sede da agremiação na cidade de Ezeiza, Kirchner defendeu sua mulher, a presidente Cristina Kirchner, e atacou o setor agropecuário, com quem o governo atravessa uma crise.
"Não queimem os campos, não bloqueiem as estradas e não desabasteçam os argentinos", pediu o ex-mandatário, confirmado pela Justiça Eleitoral na noite de anteontem o novo presidente da legenda. Na fala, reforçou a proximidade que o partido terá com o governo, dizendo que "o povo votou em nós" nas eleições.
Fundado em 1947 pelo ex-presidente Juan Domingo Perón, o movimento populista passava por um período de fragmentação nos últimos anos e estava sob intervenção judicial desde 2002, quando três candidatos disputaram a Presidência pela sigla.
A eleição para a presidência da tradicional agremiação seria em maio. Mas Kirchner foi proclamado sem votação porque não teve concorrência.
Após passar a faixa presidencial a Cristina, em dezembro, ele havia prometido sair de cena e chegou a dizer que montaria um "café literário".
No entanto, o ex-presidente vem ganhando cada vez mais protagonismo e tomou como missão neste ano reorganizar o dividido partido para ampliar a base de apoio de Cristina.
Uma decisão acertada, segundo especialistas. "Kirchner fez uma leitura realista das possibilidades do governo. Como a classe média já os havia abandonado, decidiu se apoiar no setor que o sustenta, o peronismo tradicional", diz o analista político Sergio Berensztein.
Com Kirchner na presidência do PJ, governo e partido se tornarão ainda mais próximos. "O PJ não vai se tornar um espaço democrático, de discussão política, o que nunca foi, mas será uma poderosa máquina eleitoral", afirma.
Para o analista Ricardo Rouvier, a intenção de Kirchner é "manter disciplinados sob a bandeira do partido" governadores, prefeitos e sindicalistas peronistas. A tática funciona? "Se o governo for bem, o partido voltará a ter protagonismo na Argentina. Se não, a liderança de Kirchner não vai ser suficiente para manter o partido unido", afirma Rouvier.

Quem governa
Kirchner assume a presidência do partido em um momento de crise no governo. Cristina enfrenta uma disputa com o setor agropecuário, constantes críticas à manipulação dos índices de inflação e uma briga com a imprensa, para quem é seu marido quem governa.
O ex-presidente recebe ministros e empresários em seu escritório particular, apelidado de Casa Rosada paralela. "Na presidência do partido, Kirchner reforça o duplo comando", diz Rouvier. "Ele se ocupa do partido, permitindo que Cristina se dedique apenas à gestão."
Para Berensztein, no entanto, não há poder paralelo. "Na prática, a eleição do PJ não muda nada. Kirchner continua sendo o único protagonista, quem toma as decisões. E quanto mais se expuser, mais sujeito a críticas vai estar."
O peronismo prevê um grande ato de posse, com a presença de milhares de pessoas, no início de maio. O local escolhido foi o Luna Park, casa de shows que nesta semana recebeu Roberto Carlos.


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