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Kirchner assume liderança peronista e preserva poder
Com status de estrela, ex-presidente é confirmado na cabeça do Partido Justicialista
Na posse, ele atacou setor agropecuário, com quem governo enfrenta disputa; peronista deve aumentar base de apoio de Cristina
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Com direito a fogos de artifício e beijos nas "fãs", o ex-presidente Néstor Kirchner participou ontem de seu primeiro ato
como presidente do Partido
Justicialista (peronista) com
status de estrela nacional. No
discurso, que marcou a inauguração da sede da agremiação na
cidade de Ezeiza, Kirchner defendeu sua mulher, a presidente Cristina Kirchner, e atacou o
setor agropecuário, com quem
o governo atravessa uma crise.
"Não queimem os campos,
não bloqueiem as estradas e
não desabasteçam os argentinos", pediu o ex-mandatário,
confirmado pela Justiça Eleitoral na noite de anteontem o novo presidente da legenda. Na
fala, reforçou a proximidade
que o partido terá com o governo, dizendo que "o povo votou
em nós" nas eleições.
Fundado em 1947 pelo ex-presidente Juan Domingo Perón, o movimento populista
passava por um período de
fragmentação nos últimos anos
e estava sob intervenção judicial desde 2002, quando três
candidatos disputaram a Presidência pela sigla.
A eleição para a presidência
da tradicional agremiação seria
em maio. Mas Kirchner foi proclamado sem votação porque
não teve concorrência.
Após passar a faixa presidencial a Cristina, em dezembro,
ele havia prometido sair de cena e chegou a dizer que montaria um "café literário".
No entanto, o ex-presidente
vem ganhando cada vez mais
protagonismo e tomou como
missão neste ano reorganizar o
dividido partido para ampliar a
base de apoio de Cristina.
Uma decisão acertada, segundo especialistas. "Kirchner
fez uma leitura realista das possibilidades do governo. Como a
classe média já os havia abandonado, decidiu se apoiar no
setor que o sustenta, o peronismo tradicional", diz o analista
político Sergio Berensztein.
Com Kirchner na presidência do PJ, governo e partido se
tornarão ainda mais próximos.
"O PJ não vai se tornar um espaço democrático, de discussão
política, o que nunca foi, mas
será uma poderosa máquina
eleitoral", afirma.
Para o analista Ricardo Rouvier, a intenção de Kirchner é
"manter disciplinados sob a
bandeira do partido" governadores, prefeitos e sindicalistas
peronistas. A tática funciona?
"Se o governo for bem, o partido voltará a ter protagonismo
na Argentina. Se não, a liderança de Kirchner não vai ser suficiente para manter o partido
unido", afirma Rouvier.
Quem governa
Kirchner assume a presidência do partido em um momento
de crise no governo. Cristina
enfrenta uma disputa com o setor agropecuário, constantes
críticas à manipulação dos índices de inflação e uma briga
com a imprensa, para quem é
seu marido quem governa.
O ex-presidente recebe ministros e empresários em seu
escritório particular, apelidado
de Casa Rosada paralela. "Na
presidência do partido, Kirchner reforça o duplo comando",
diz Rouvier. "Ele se ocupa do
partido, permitindo que Cristina se dedique apenas à gestão."
Para Berensztein, no entanto, não há poder paralelo. "Na
prática, a eleição do PJ não muda nada. Kirchner continua
sendo o único protagonista,
quem toma as decisões. E
quanto mais se expuser, mais
sujeito a críticas vai estar."
O peronismo prevê um grande ato de posse, com a presença
de milhares de pessoas, no início de maio. O local escolhido
foi o Luna Park, casa de shows
que nesta semana recebeu Roberto Carlos.
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