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Greve de professores britânicos expõe o desgaste de Brown
Paralisação é a primeira da classe desde a era Thatcher; grevistas pedem aumento salarial para compensar inflação
No poder há menos de um ano, substituto de Blair enfrenta efeitos da crise financeira e divisões no
seu partido, o Trabalhista
Adrian Dennis/France Presse
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Professores pedem que o governo "deixe de pagar ninharia" durante manifestação em Londres
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
A Inglaterra e o País de Gales
tiveram ontem a primeira greve nacional de professores em
mais de 20 anos, em mais um
desgaste para o combalido governo do primeiro-ministro
britânico, Gordon Brown.
"A greve é mais uma pedrinha na montanha de problemas de Gordon Brown", disse à
Folha o professor Paul Kelly,
da London School of Economics and Political Science. "Pode ser que tenhamos nos esquecido disso [da greve] em algumas semanas. Mas é claro
que a situação pode se deteriorar se houver novas adesões no
serviço público", afirmou.
A greve de ontem afetou mais
de 1 milhão de alunos e um terço das escolas britânicas. Metade das escolas atingidas fechou,
e a outra metade abriu apenas
parcialmente. Apesar de dois
terços das escolas terem funcionado normalmente, a greve
é a primeira mobilização nacional de professores por aumentos de salários desde 1987,
quando Margaret Thatcher
ainda estava no poder.
Em menos de um ano à frente do Reino Unido, depois de
dez anos de Tony Blair, os problemas de Brown se acumulam.
O primeiro-ministro enfrenta:
1. uma revolta de parlamentares de seu próprio partido, o
Trabalhista, em torno de mudanças tributárias que provocam perdas para parcelas mais
pobres da população;
2. a crise financeira global,
que ameaça levar milhares de
britânicos a perder suas casas e
no segundo semestre do ano
passado causou a primeira corrida a um banco inglês em mais
de cem anos, o Northern Rock,
posteriormente nacionalizado;
3. uma batalha no Parlamento para ampliar de 28 para 42
dias o tempo que suspeitos de
terrorismo podem ficar presos
sem acusação formal, cuja votação está marcada para junho.
A revolta dos parlamentares
levou o governo a recuar das
mudanças nos impostos, com
promessas de ressarcir os prejudicados, um duro golpe na
imagem do primeiro-ministro.
A isso tudo se soma a eleição
para prefeito de Londres na semana que vem, em que o candidato da oposição, Boris Johnson, dos Conservadores, tem
chances reais de derrotar o
atual prefeito, Ken Livingstone, do partido de Brown.
Catalisador
O maior perigo da greve de
ontem, como afirmou o professor Paul Kelly, é que ela pode
funcionar como um catalisador
para outras categorias do serviço público insatisfeitas com os
salários. Há pouco tempo, os
policiais -proibidos por lei
desde 1919 de fazer greve- fizeram uma mobilização reclamando dos pagamentos.
Outros setores, como a Guarda Costeira, também têm feito
paralisações. Se a moda pegar,
pode se tornar mais um grande
problema para Brown.
Os professores querem que o
reajuste de seus salários seja ao
menos igual à inflação de 4,1%
dos últimos 12 meses. Dizem
que nos últimos três anos os
aumentos já ficaram abaixo da
variação dos preços, e, pela proposta do governo, continuarão
sendo corroídos ao menos pelos próximos três anos.
O governo responde que,
desde 1997, quando os trabalhistas assumiram o poder com
Blair, os professores tiveram
aumento real de 19%. A média
salarial de professores secundários em topo de carreira é de
34 mil libras por ano (cerca de
R$ 120 mil anuais, ou R$ 10 mil
por mês).
"Eu compartilho da raiva dos
pais que vêem seus filhos sofrerem perdas na educação tão
perto das suas provas [está perto o final do ano letivo no Reino
Unido] e tendo até de faltar ao
trabalho para cuidar de suas
crianças", disse à BBC o ministro da Educação, Jim Knight.
O sindicato nacional dos professores, que liderou a paralisação, disse "não sentir culpa" nenhuma. A secretária-geral da
entidade, Christine Blower,
prometeu mais três anos de
greves se o governo não recuar
e disse que a paralisação tem
como objetivo "assegurar o futuro da profissão".
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