|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Famintos superarão 1 bilhão, alerta FMI
Barreira deve ser rompida neste ano; segundo fundo e Banco Mundial, crise reverteu longa tendência de redução da pobreza
Mortes de crianças de até 5 anos por desnutrição devem aumentar em 400 mil/ano; 40,3 milhões de latinos viverão com US$ 1,25 ao dia
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Se nas economias avançadas
as pessoas estão perdendo empregos e casas, nos países pobres mais de 1 bilhão vão passar
fome por conta da crise global.
Isso supera a população do Brasil, dos EUA e da União Europeia somadas (ou 15% da mundial) e representa um salto de
40 milhões em relação a 2008
-150 milhões desde 2007.
Outros 100 milhões de pessoas permanecerão extremamente pobres, mesmo com a
atual retração nos preços dos
alimentos. E mais 400 mil
crianças de até cinco anos vão
morrer de desnutrição ao ano.
Segundo o Banco Mundial e o
FMI, a crise econômica dos países ricos levou a um retrocesso
na tendência de redução da pobreza que já durava anos.
Na América Latina, o número de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 ao dia (cerca de
R$ 3) deve aumentar para 40,3
milhões (7% do total) neste
ano, contra 37,6 milhões em
2008. Para o Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada),
o percentual de pobres no Brasil em 2007 era de 10,2%.
Um conjunto de fatores desencadeou isso, todos girando
em torno da redução da demanda e dos fluxos de capital
entre os países ricos.
Nos EUA, a capacidade ociosa da indústria foi a 31% em
abril. Em outras economias
"médias", está entre 40% e
60%. Isso reduz a demanda pelas matérias primas que os países pobres produzem. Na média, as exportações globais encolheram 6,5% neste ano.
A demanda menor também
deve derrubar o preço das commodities em 30% neste ano. Ou
seja, os países mais pobres não
só exportam menos, mas ganham menos pelo que vendem.
Crédito congelado
Além disso, com o congelamento do crédito nos países
avançados, os fluxos de capital
para os países mais pobres secaram quase totalmente. Para o
mundo em desenvolvimento, a
queda é inédita e deve atingir
US$ 700 bilhões (cerca da metade do PIB do Brasil) em 2009.
A soma desses fatores será
um crescimento menor, tanto
nos países ricos quanto nos pobres. E é o crescimento que determina a redução da pobreza.
Na região mais pobre do planeta, a África subsaariana, por
exemplo, a média do crescimento dos países despencará
neste ano de 6,7% entre o período 2006-07 para 1,7%. Entre
os países em desenvolvimento,
a retração será de 8,1% para
1,6% no mesmo período. Nos
ricos, de 1,8% para -3,8%.
"Com recessões coordenadas
em várias partes do globo e
diante de uma dolorosa e lenta
recuperação, a luta pela erradicação da pobreza se tornou um
desafio mais urgente e difícil",
afirmou John Lipsky, diretor-gerente-adjunto do FMI durante a apresentação ontem do
"Relatório de Monitoramento
Global". Na capa, uma foto de
nuvens pretas e carregadas.
No início do mês, o G20 (as
maiores economias do mundo)
concordou em elevar de US$
200 bilhões para US$ 300 bilhões o financiamento do Banco Mundial a países em desenvolvimento pelos próximos
três anos. O Banco Mundial e
FMI também esperavam dobrar, até 2010, a ajuda à África.
Sobre esse último ponto,
Lipsky foi claro: "Acho muito
difícil que isso aconteça".
Texto Anterior: Pentágono vai divulgar fotos de abusos no Iraque Próximo Texto: Taleban recua após acordo com locais no Paquistão Índice
|