São Paulo, sábado, 25 de abril de 2009

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Famintos superarão 1 bilhão, alerta FMI

Barreira deve ser rompida neste ano; segundo fundo e Banco Mundial, crise reverteu longa tendência de redução da pobreza

Mortes de crianças de até 5 anos por desnutrição devem aumentar em 400 mil/ano; 40,3 milhões de latinos viverão com US$ 1,25 ao dia

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Se nas economias avançadas as pessoas estão perdendo empregos e casas, nos países pobres mais de 1 bilhão vão passar fome por conta da crise global. Isso supera a população do Brasil, dos EUA e da União Europeia somadas (ou 15% da mundial) e representa um salto de 40 milhões em relação a 2008 -150 milhões desde 2007.
Outros 100 milhões de pessoas permanecerão extremamente pobres, mesmo com a atual retração nos preços dos alimentos. E mais 400 mil crianças de até cinco anos vão morrer de desnutrição ao ano.
Segundo o Banco Mundial e o FMI, a crise econômica dos países ricos levou a um retrocesso na tendência de redução da pobreza que já durava anos.
Na América Latina, o número de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 ao dia (cerca de R$ 3) deve aumentar para 40,3 milhões (7% do total) neste ano, contra 37,6 milhões em 2008. Para o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o percentual de pobres no Brasil em 2007 era de 10,2%.
Um conjunto de fatores desencadeou isso, todos girando em torno da redução da demanda e dos fluxos de capital entre os países ricos.
Nos EUA, a capacidade ociosa da indústria foi a 31% em abril. Em outras economias "médias", está entre 40% e 60%. Isso reduz a demanda pelas matérias primas que os países pobres produzem. Na média, as exportações globais encolheram 6,5% neste ano.
A demanda menor também deve derrubar o preço das commodities em 30% neste ano. Ou seja, os países mais pobres não só exportam menos, mas ganham menos pelo que vendem.

Crédito congelado
Além disso, com o congelamento do crédito nos países avançados, os fluxos de capital para os países mais pobres secaram quase totalmente. Para o mundo em desenvolvimento, a queda é inédita e deve atingir US$ 700 bilhões (cerca da metade do PIB do Brasil) em 2009.
A soma desses fatores será um crescimento menor, tanto nos países ricos quanto nos pobres. E é o crescimento que determina a redução da pobreza.
Na região mais pobre do planeta, a África subsaariana, por exemplo, a média do crescimento dos países despencará neste ano de 6,7% entre o período 2006-07 para 1,7%. Entre os países em desenvolvimento, a retração será de 8,1% para 1,6% no mesmo período. Nos ricos, de 1,8% para -3,8%.
"Com recessões coordenadas em várias partes do globo e diante de uma dolorosa e lenta recuperação, a luta pela erradicação da pobreza se tornou um desafio mais urgente e difícil", afirmou John Lipsky, diretor-gerente-adjunto do FMI durante a apresentação ontem do "Relatório de Monitoramento Global". Na capa, uma foto de nuvens pretas e carregadas.
No início do mês, o G20 (as maiores economias do mundo) concordou em elevar de US$ 200 bilhões para US$ 300 bilhões o financiamento do Banco Mundial a países em desenvolvimento pelos próximos três anos. O Banco Mundial e FMI também esperavam dobrar, até 2010, a ajuda à África.
Sobre esse último ponto, Lipsky foi claro: "Acho muito difícil que isso aconteça".


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