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No início, convivência com Brasil foi difícil
da Sucursal de Brasília
Poucas decisões foram tão dramáticas para os portugueses após a
Revolução dos Cravos quanto a tomada em relação às antigas colônias na África. Com o Brasil, o sentimental "país-irmão", a convivência inicial não foi nada pacífica.
A questão colonial semeou, menos de cinco meses após a revolução, os primeiros momentos explícitos de discórdia entre os jovens
capitães e o presidente da República, o general António de Spínola.
A paz da democracia e da liberdade da antiga metrópole não chegou nem à África nem à Ásia. A
guerra civil em Angola, que já fez
aproximadamente 500 mil mortos
e 1,5 milhão de refugiados, e os
massacres em Timor Leste (ainda
sem independência), duas das sete
antigas colônias, são o legado do
25 de Abril para esses países.
Vítor Alves e Vasco Lourenço, os
dois capitães que falaram com a
Folha, de Lisboa, por telefone, lamentam a situação nas ex-colônias, mas enxergam politicamente
a situação.
"À exceção de Timor, que está a
ser defendido por Portugal, os demais países se tornaram independentes, e isso justifica o sacrifício
por que passa Angola, por exemplo", diz Lourenço. "São soberanos, e a luta hoje não é vã, é pela
manutenção dessa soberania",
completa Alves.
Lourenço, hoje um ativo militante da Associação 25 de Abril, lembra que os jovens capitães promoveram uma descolonização que estava "pelos menos 20 anos atrasada em relação ao curso da história
e no contexto da Guerra Fria".
O historiador Luiz Felipe de
Alencastro acrescenta o "poder
desordeiro" do então regime racista sul-africano, que contribuiu, no
caso específico de Angola, para
transformar a descolonização no
mais complicado de todos os processos.
Adepto de uma solução que
transformasse o império colonial
em uma federação de Estados luso-africanos, Spínola trombou
com o MFA (Movimento das Forças Armadas) no que era um ponto de honra dos capitães, a descolonização. Não abriram mão de algo que eles mesmo levaram tempo
a aceitar.
No início da conspiração militar,
os capitães, a maioria com vários
anos de guerra colonial, interpretavam o fim da guerra colonial como um "ato covarde". Temiam
que a população a julgasse como
uma fuga.
Levaram tempo a consolidar a
idéia de que a guerra colonial estava perdida -embora pudesse ser
sustentada por muitos anos- e a
única solução era política, jamais
militar.
Brasil e o embaixador
O Brasil foi um dos primeiros
países a reconhecer a legitimidade
da Junta de Salvação Nacional,
que, na madrugada do dia 25 de
abril de 74, assumiu o país.
Mas os capitães e as lideranças
políticas estranharam quando o
governo brasileiro, ainda regime
autoritário, mandou para Lisboa
como novo embaixador o general
Fontoura, dos serviços de informação.
Hoje, passados 25 anos e umas
escaramuças envolvendo dentistas
e direitos de imigrantes, os capitães, Alencastro e o professor Benjamin Abdala, do Centro de Estudos Portugueses da Faculdade de
Filosofia da USP, convergem para
um ponto: a "retórica sentimental"
deu lugar a um "relacionamento
de parceiros que têm interesses
econômicos, mas jamais deixarão
de ter uma amizade especial".
"Seria interessante que, agora,
agissem cada vez mais dentro de
uma estratégia comunitária", diz
Abdala. Para ele, é inevitável que
os negócios crescentes entre os
dois países tragam investimentos
culturais.
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