São Paulo, Domingo, 25 de Abril de 1999
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Empresário oferece "vagas" para prostitutas

"Procuram-se mulheres que queiram ganhar um bom dinheiro como prostitutas na Holanda, no centro de uma grande cidade, chamada Haia. Devem ter passaportes da União Européia. Proporcionaremos local para trabalhar e morar. Trabalho totalmente independente. Gratificação de US$ 250 para cada uma."
O anúncio acima saiu em espanhol, em dinamarquês, em holandês e em português, disse o jornal francês "Libération". Com o anúncio, seguia um número de telefone celular "disponível dia e noite".
Arie De Jong é o responsável pelo número. Ele é assessorado por dois juristas que o impedem de ser acusado de tráfico de mulheres ou incitação à prostituição. As mulheres que respondem ao anúncio trabalham por vontade própria.
Da Suíça a Portugal, da Dinamarca à Espanha, os três homens não vêm conseguido motivar as mulheres européias a vir trabalhar com eles em Haia.
As rígidas regras de higiene da Holanda, a vigilância severa da polícia e a possibilidade de trabalhar em uma vitrine com temperatura escaldante não têm animado muito as européias.
"Na Europa, 60% das prostitutas são estrangeiras. E as 40% restantes não querem se mudar", disse De Jong ao "Libération". A resposta das européias ao anúncio é nula.
Para De Jong, ao contrário das mulheres do leste da Europa e da América Latina, "que estão dispostas a tudo para melhorar de vida", as européias ocidentais não querem ficar longe de suas famílias.
Seguindo uma política de "legalidade", o "empresário holandês" afirma que "na Itália, as albanesas trabalham com documentos falsos. A mesma coisa na Grécia. Na Inglaterra, 80% das mulheres do ramo são africanas ilegais".
"Nós queremos praticar nosso trabalho propriamente, sem violar a lei", completa.
O respeito às regras e o lema de ordem que direciona a prostituição holandesa vêm de longe. No ano 2000, a interdição dos bordéis, que data de 1912, será revogada. A profissão mais antiga do mundo será legal.
Wijnard Stevens, porta-voz do Ministério da Justiça holandês, afirmou que "reina uma situação de tolerância em relação à prostituição, mas quando o setor se tornar oficial terá os mesmos controles dos outros setores da economia". As prostitutas terão de manter seus documentos em ordem, ter permissão de trabalho e pagar seus impostos.
"Hoje em dia, de 60% a 70% da prostituição está ilegal", reconhece Klaas De Weert, presidente da Organização para a Prostituição em Vitrines, que agrupa 90% dos empresários do setor.
Com a entrada em vigor da lei que autoriza a prostituição, os policiais de Amsterdã e Haia, as duas grandes cidades de exploração da prostituição no país, erradicarão as vitrines clandestinas e as mulheres sem documentos.
"Em Amsterdã, já não haverá prostituição ilegal", afirma De Weert. Ele diz que seus associados já vêm se preparando para a legislação e as relações atuais com a polícia são excelentes.
O que será feito daquelas prostitutas sem documentação em ordem? Elas irão para a Alemanha ou a Bélgica. Ou então para as pequenas cidades próximas, como Haarlem ou Groningen, onde a polícia é menos repressiva, afirma o diário.
Uma coisa é certa, diz o diário francês, o setor não poderá viver sem as estrangeiras.
"Estamos ansiosos para que a Polônia e a República Tcheca entrem na União Européia", afirma De Weert. Ele, com certeza, pensa no filão de prostitutas legais que poderá explorar.


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