São Paulo, segunda-feira, 25 de maio de 2009

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Vice opositor mira Casa Rosada em 2011

Popular na Argentina, Julio Cobos atua nos bastidores da atual campanha legislativa para se fortalecer para pleito presidencial

Partido criado por ele se alia a grupos de oposição; a respeito de uma eventual postulação, afirmou: "Não costumo descer degraus"

"Diario Uno"
O vice-presidente argentino, Julio Cobos (centro, de blusa branca), em procissão em Mendoza, onde ele faz campanha contra os Kirchner


THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Convertido em um dos políticos mais populares da Argentina desde o conflito do governo Cristina Kirchner com o setor rural, o vice-presidente, Julio Cobos, usa as eleições legislativas de junho no país para se fortalecer como opção presidencial opositora para 2011.
"Não costumo descer degraus", afirmou o vice neste final de semana, sobre sua eventual postulação à Casa Rosada.
Referência da chamada "concertação plural", de integrantes da UCR (União Cívica Radical) que defenderam a união com o PJ (Partido Justicialista, do governo) na eleição presidencial de 2007, Cobos rompeu com o governo em julho de 2008.
Na ocasião, seu famoso "voto não-positivo" derrubou no Senado o projeto governista que aumentava impostos sobre exportações do campo.
Cobos optou por um perfil discreto nessa eleição, evitando atos de campanha para, segundo seus aliados, "preservar a institucionalidade do cargo".
Mas, nos bastidores, participa ativamente da formação de frentes opositoras, em clara reaproximação com a UCR, seu partido de origem e que lhe havia expulsado "por toda vida" pela união com Cristina.
A morte, em março, do presidente radical Raúl Alfonsín (1983-1989) acelerou os tempos da reconciliação entre Cobos e a UCR.
Nas cerimônias de despedida, o vice marchou de braços dados com líderes radicais, que pouco depois converteram em licença sua expulsão do partido -Cobos fica afastado enquanto integrar o governo peronista.
Para a votação de junho, o Confe (Consenso Federal), partido criado por Cobos após a ruptura com o governo, está coligado com o Acordo Cívico e Social -aliança de centro-esquerda entre UCR, Coalizão Cívica e socialismo- em três Províncias: Buenos Aires, Tucumán e Mendoza. Está ainda aliado ao radicalismo em outros sete distritos.
"Nossa meta para essa eleição não é aumentar legisladores [o Confe tem 4 dos 257 deputados federais], mas estreitar laços com outros grupos pensando na construção política para 2011", afirmou à Folha Mario Meoni, prefeito de Junín (Buenos Aires) e principal operador político de Cobos.
Meoni disse ainda que o Confe irá formar um bloco com a UCR no Congresso depois das eleições.

Popularidade
Pesquisas de opinião dão a Cobos altos índices de aprovação -pelos números da Giacobbe e Associados, por exemplo, é o político mais popular do país, com 61% de aprovação, contra 24% de Cristina.
"Essa imagem positiva não se converte automaticamente em votos. Se Cobos insistir em ser opositor e vice ao mesmo tempo, vai ser condenado pela sociedade", disse Jorge Giacobbe, presidente da consultoria.
Cobos joga suas cartas nessa eleição em Mendoza, Estado que governou de 2003 a 2007 e é o quinto colégio eleitoral do país (4,2% dos votos nacionais).
Ali seus candidatos -promovidos pelo slogan "gente de Cobos"- enfrentam o grupo do governador peronista Celso Jaque, aliado do governo.
"Se Cobos ganhar em Mendoza, ficará muito bem posicionado para 2011", afirmou a analista política Graciela Röhmer.
Como principal candidato do governo no pleito, o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) já tem apontado a artilharia contra Cobos em sua campanha a deputado pela Província de Buenos Aires.
Repete que Cristina "não teve a sorte" dele, por não contar com "um vice que me acompanhou todo o tempo", referência ao hoje governador da Província e também candidato à Câmara, Daniel Scioli.
Cobos marca distância da estratégia eleitoral do governo, que promove candidatos, como Scioli, que não devem assumir os cargos.
"Subestima a população, não é adequado depois de 25 anos de democracia", disse o vice no final de semana. Também busca evitar confronto direto, para reforçar a imagem de conciliador. "Não vamos entrar nessa lógica de construção política", afirma Meoni.


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