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Argentina faz 200 anos mais pobre e dividida
País ainda tenta se reerguer da crise de 2001 em meio a guerra política
Presidente Cristina Kirchner se nega a ir a evento organizado por prefeito de Buenos Aires e exclui vice de festejo
GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES
Sem grandes motivos para
celebrar, a Argentina comemora hoje o Bicentenário do
início de seu processo de independência da Espanha.
O céu cinzento que cobriu
Buenos Aires ontem, feriado
antecipado para comemorar
a independência, deixou ainda mais opacos os festejos,
marcados por graves conflitos políticos internos e pelo
retrocesso social do país nas
últimas décadas.
O cenário é de contraste
com a Argentina de cem anos
atrás, que enriquecia com a
exportação de trigo, lã e carne, alcançando renda per capita superior à de países como Suíça, Espanha e Itália.
Hoje, a meta é mais modesta: reverter os efeitos da
crise de 2001, que pôs metade da população abaixo da linha de pobreza e obrigou o
governo a suspender o pagamento da dívida externa.
Desde 2003, a economia
cresce a uma média de 7,4%
ao ano, mas isso não significa que o país tenha voltado
para o caminho da prosperidade, segundo o economista
da UBA (Universidade de
Buenos Aires) Ricardo
Aronskind.
APENAS SOJA
"Voltamos simplesmente
a ter políticas a favor da produção, depois de décadas
privilegiando o sistema financeiro. Mas ainda não há
um projeto estratégico de
país, para os próximos 20
anos. Não podemos sustentar o crescimento só vendendo soja para a China e a
União Europeia."
Segundo o economista, o
Estado tem baixa capacidade
de gestão -por falta de especialistas- e fica sem força
para induzir o fortalecimento
e a diversificação da economia. E o setor privado "não
sabe para onde ir".
O clima político da Argentina tampouco ajuda o país a
superar os problemas. O governo da presidente Cristina
Kirchner e a oposição promovem guerra declarada e não
conseguem dialogar.
Neste ano, o Congresso
ainda não conseguiu aprovar
nenhum projeto de lei dos
que compõem a pauta legislativa do primeiro semestre.
Tanto a Câmara dos Deputados como o Senado têm dificuldades para realizar sessões, que sofrem boicotes do
governo e da oposição.
"É uma briga entre o casal
Kirchner e um mosaico sem
coesão alguma. Não há nenhuma possibilidade de que
eles logrem outro objetivo
além de derrotar o atual governo. Ocorreu o mesmo com
[o ex- presidente Carlos] Menem [1989-1999]. Todos se
juntaram para derrubá-lo,
mas, no dia seguinte à vitória, a aliança explodiu", diz
Luis Fanlo, professor de sociologia da UBA.
VICE EXCLUÍDO
O conflito político invadiu
até as comemorações do Bicentenário. Os espaços públicos para realizar eventos e
o protagonismo durante cinco dias de festa foram disputados pelo governo nacional
e pela Prefeitura de Buenos
Aires, administrada por Mauricio Macri, pré-candidato à
Presidência em 2011.
Ontem à noite, Cristina
Kirchner faltou à reinauguração do histórico teatro Colón
devido à briga com o prefeito.
Na semana passada, enviou
carta ao prefeito dizendo que
não participaria de situação
"cínica" e "hipócrita".
Hoje, a presidente encerra
as comemorações do Bicentenário com um jantar de gala na Casa Rosada, onde recebe 200 convidados, entre
eles o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Os atritos internos, no entanto, deixarão de fora da
festa o vice-presidente argentino, Julio Cobos, que está
rompido com o casal Kirchner desde 2008.
O governo disse não ver
motivos para convidá-lo.
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