São Paulo, domingo, 25 de junho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ÁSIA
Críticas da oposição no Sul e espetadas verbais no Norte servem para lembrar as dificuldades da reunificação da península
Após euforia, Coréias enfrentam a dura realidade

CALVIN SIMS
DO "THE NEW YORK TIMES", EM SEUL

A euforia que se seguiu à cúpula entre as duas Coréias na semana retrasada começou a se desvanecer, enquanto os líderes de ambas enfrentam a realidade de tentar reunificar dois países de língua e ancestrais comuns, mas ideologias e destinos diferentes.
Embora diplomatas estrangeiros e analistas políticos digam que as perspectivas de paz e reconciliação na península coreana continuam promissoras, declarações antagônicas feitas nos dois países nos últimos dias destacam as inevitáveis dificuldades enfrentadas pelo Sul e pelo Norte na tentativa de superar cinco décadas de inimizade ideológica.
Na semana passada, a agência de notícias oficial norte-coreana divulgou diversas declarações em tom de provocação feitas pelo líder Kim Jong-il, algumas velhas e outras novas, recomendando aos norte-coreanos que não se distanciem dos princípios da revolução.
"Precisamos criar uma nação auto-suficiente e forte e não nos rendermos a reformas econômicas e aberturas de mercado que certamente causariam a nossa destruição", disse Kim Jong-il na retransmissão -feita na terça-feira, um dia depois de os EUA levantarem as sanções ao comércio não militar com a Coréia do Norte- de um discurso de 1999.
A diatribe -que, segundo especialistas políticos, teve a intenção de apaziguar os ânimos da linha dura norte-coreana e projetar uma imagem de força- formou um contraste acentuado com os gestos conciliadores trocados entre Kim Jong-il e Kim Dae-jung em suas conversações em Pyongyang, capital norte-coreana.
Os dois líderes assinaram um acordo pedindo laços mais estreitos, cooperação econômica e, em prazo não determinado, a reunificação entre os dois países.
Mas a mudança de tom da Coréia do Norte não foi mais mordaz do que a enxurrada de críticas direcionada pela principal oposição política sul-coreana ao país comunista e ao acordo forjado.
Embora tenham admitido a importância da reunião de cúpula, os líderes do oposicionista Grande Partido Nacional disseram que a Coréia do Norte continua sendo um Estado perigoso e que as conversações não trataram de questões importantes como os programas nuclear e de mísseis norte-coreanos e os custos da união.
Especialistas estrangeiros e coreanos disseram que as espetadelas verbais atuaram como uma muito necessária volta à realidade, após a euforia generalizada.
Ninguém espera que a reunificação ocorra logo. As diferenças econômicas radicais entre as duas Coréias e os custos astronômicos de sua fusão fazem da reunificação uma perspectiva distante.
Movida por investimentos estrangeiros, mercados abertos e tecnologia avançada, a Coréia do Sul se tornou uma das democracias mais bem-sucedidas do mundo em termos econômicos.
Já a Coréia do Norte passa por grande dificuldade. A agricultura ineficiente e enchentes geraram escassez de alimentos. Na maioria das regiões praticamente inexistem estradas, telefones ou transportes públicos. Integrar as duas Coréias pode custar centenas de bilhões de dólares.


Tradução de Clara Allain


Texto Anterior: Reverendo fará troca de sexo no Reino Unido
Próximo Texto: Zimbábue: Oposição denuncia intimidação em pleito
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.