São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Grupo de Zarqawi, ligado à Al Qaeda, assume atentados; Powell diz que EUA "subestimaram" insurgência

Ataques coordenados matam ao menos 89

DA REDAÇÃO

Ataques coordenados em cinco cidades do Iraque deixaram pelo menos 89 mortos e mais de 300 feridos ontem, apenas seis dias antes da posse do governo interino. A ação confirma o temor das autoridades americanas e iraquianas de que o período até a transferência de poder seria sangrento.
Durante a noite, os números ainda eram desencontrados. O Ministério da Saúde falava em 89 mortos, mas a contabilidade das agências de notícias, citando fontes hospitalares e policiais nas cinco cidades, superava cem.
Os ataques, que visaram sobretudo a polícia iraquiana, foram assumidos pelo grupo liderado por Abu Musab Zarqawi. O jordaniano reivindicou atentados similares neste ano no Iraque e, segundo os EUA, mantém ligações com a Al Qaeda. Além disso, seu grupo ameaçou anteontem de morte o futuro premiê, Iyad Allawi, e assumiu o assassinato de um civil sul-coreano, decapitado terça.
Todas as cidades atingidas -Mossul, Bagdá, Fallujah, Ramadi e Baquba- são predominantemente sunitas e apresentam tensões desde o início da ocupação. Privilegiada durante os 24 anos da ditadura de Saddam Hussein (1979-2003), essa corrente muçulmana, minoritária no Iraque -cerca de 30% do país-, concentra mais opositores da ocupação do que os xiitas, que são 60% da população e foram oprimidos pelo regime deposto.

"Incidentes isolados"
O futuro premiê, que tomará posse na próxima quarta-feira, prometeu "esmagar" a insurgência e minimizou seus efeitos. "São incidentes isolados. Vamos enfrentá-los [os terroristas] e derrotá-los, vamos esmagá-los", declarou. "Estávamos esperando essa escalada e esperamos que nos próximos dias ela se agrave."
A opinião de Allawi sobre a desimportância dos ataques, no entanto, não parece ser compartilhada pelos EUA. "Subestimamos a natureza da insurgência que poderíamos enfrentar neste período, e isso que estamos vendo agora se tornou um grave problema para nós", disse o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell. Já um oficial da coalizão anglo-americana que pediu para não ter o nome revelado disse que o episódio de ontem "não se trata de uma exceção". "Não há motivo para acreditar que acabará em 30 de junho."

"Ataque aos apóstatas"
Num site extremista islâmico, uma mensagem assinada por Zarqawi reivindicava os ataques. "Seus irmãos no Jama'at al Tawhid e Jihad lançaram um amplo ataque em vários governorados no país, que incluiu ataques contra apóstatas agentes de polícia e espiões, o Exército iraquiano e seus irmãos americanos."
A cidade mais atingida foi Mossul, onde 62 pessoas morreram e 220 foram feridas em sete explosões, ao menos quatro delas provocadas por carros-bomba. Um soldado americano morreu em tiroteios que se seguiram aos ataques -outros dois morreram em uma emboscada em Baquba, que matou ainda 13 civis.
Além dos ataques, confrontos deixaram ao menos nove mortos em Fallujah e Ramadi -onde insurgentes atacaram com morteiros duas delegacias e a casa do governador. Na capital, quatro guardas iraquianos foram mortos por um carro-bomba.
A coalizão vê nos ataques uma tentativa de interromper o processo transitório. Ontem, os iraquianos retomaram os 11 ministérios que ainda eram controlados pela coalizão. Apesar da transição administrativa, no entanto, uma força internacional com cerca de 160 mil militares sob comando dos EUA permanecerá no país até a posse de um governo eleito, prevista para janeiro de 2006.


Com agências internacionais

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